25 fevereiro 2013

Keynes IV

Keynes distorceu os economistas clássicos propagando erroneamente a chamada Lei de Say como formulando que esta diria:
“a produção cria a sua própria procura”.
Mas Say não afirmou tal coisa com esse sentido, o que na verdade quis dizer foi algo como:
A produção de um bem constitui a procura de outros bens.
O que é uma verdade em si mesmo e não pode ser refutada. Toda a produção se destina a servir para a procura de outros bens.

Mas a forma como eu próprio defino o pensamento de Keynes como que resumindo uma boa parte do que está de errado na “sua” economia é:
O consumo cria a sua própria produção. 
O investimento cria a sua própria poupança. 
A despesa cria o seu próprio rendimento.
E assim, cabe aos governos estimularem o consumo, o investimento e a despesa em geral que tudo o resto vem atrás. Mas a verdade é que:
É a maior produção com os mesmos recursos que permite o maior consumo. 
É a poupança que sustenta o investimento na diminuição de custos. 
É o rendimento que sobra com a diminuição de preços que permite o aumento de despesa.

37 comentários:

Luís Lavoura disse...

A produção de um bem constitui a procura de outros bens.

Não vejo como isto seja "uma verdade que não pode ser refutada".

CN disse...

Luís - Alguém produz alguma coisa (excluíndo viver em autarcia da sua terra) que não se destine à tentativa de proceder a uma troca?

Anónimo disse...

Caro Luis.

Nota.O sub-mundo chinoca sempre fica ao margem destas refleçoes anti-keynesianas...

CN disse...

os chineses não "trocam"? quanto aumentou o volume de importações dos chineses desde o início da sua abertura?

Mas para o caso não está em causa a china, mas o conceito de produção. Produzo para trocar por.

Luís Lavoura disse...

CN,

Uma pessoa produz para vender, isto é, para trocar o bem produzido por moeda.

Mas depois pode não gastar essa moeda. Ou seja, não procurar outros bens.

Por exemplo, eu tenho árvores a crescer nas minhas terras. Quando as árvores estão grandes, eu vendo a madeira. Não preciso (felizmente!) do dinheiro da venda para viver, mas vendo. O dinheiro não vai necessariamente transformar-se numa procura acrescida, por mim, de outros bens. Eu, de facto, dado que não preciso do dinheiro, até poderia deixar as árvores continuar lá, eternamente - muitos agricultores fazem isso - sem as vender.

Anónimo disse...

sim, muita coisa não é para trocar.
por exemplo eu hoje produzi o meu pequeno almoço e espero fazer o meu jantar. E não são para troca.
Até produzo algumas coisas que dou.

xyz

CN disse...

A regra nem é acumular moeda, é investir em alguma coisa (nem que seja depósito a prazo).

Portanto a produção serve para trocar (por consumo ou aplicar em investimento ou seja capacidade de aumento do consumo futuro).

E até a acumulação de moeda pura e simples (por alguém) teria o efeito de aumentar o valor da moeda detida por todos os outro, aumentando a capacidade de troca destes.

CN disse...

Anónimo

Com que é que comprou o pão e a manteiga?

Anónimo disse...

Não comprei o pão, comprei farinha, faço o meu próprio pão. Alias faço-o para mim e paro o resto da família e para alguma visita, quando calha. É mais rápido e saudável que ir comprá-lo.
De qualquer forma uma sandes não é uma coisa que as suas parte separadas. Tem valor acrescentado. Para meu próprio consumo, mas tem.
Ou acha que um copo partido vale o mesmo que um inteiro? Afinal o material está lá todo, só se perdeu o feitio.

A maior parte da produção é para troca, mas nem toda.

xyz

muja disse...

Pois. E ó CN, sabe que também há quem faça coisas pelo puro prazer de as fazer.

Olhe, para exemplo tem o barco que o Sr. João (salvo erro) fez para a neta do PA.

Se me recordo correctamente, ele fazia aquilo e não era para vender. Ou trocar. A não ser que considere o prazer e a satisfação de ver uma criança feliz, como moeda de troca...

muja disse...

Um exemplo menos anedótico e mais interessante é o software open-source, ou livre.

Talvez lhe pareça estranho, mas há, de facto, muita gentinha que ganha muito e bom dinheiro a produzir software, que emprega grande parte do seu tempo a produzir software que dá de livre vontade e em troca de absolutamente nada, à comunidade.

E, curiosamente, a esmagadora parte da infraestructura que nos permite estar aqui a escrever isto na Internet, baseia-se nesse mesmo software livre.

E esta, hem?

muja disse...

*infra-estrutura

CN disse...


Esperam rendimento por outras formas (serviços prémium, ou consultadoria, ou hits, etc.

CN disse...

O que está em causa é o que o Keynes disse que Say disse, e nesse contexto, é a produção que permite existir a procura por outros bens.

Luís Lavoura disse...

A regra nem é acumular moeda, é investir em alguma coisa (nem que seja depósito a prazo).

Mas

(1) A regra tem exceções. Pode haver uma preferência pela liquidez, em que a pessoa prefere guardar a moeda consigo a investi-la ou mesmo a pô-la num banco.

(2) Os depósitos a prazo não são forçosamente investidos. Os bancos podem ter preferência pela liquidez.

Ao fim e ao cabo, tanto Keynes como Say tinham razão. Só que, estavam a falar de períodos diferentes na história económica. Say falava de um período em que todo o dinheiro era gasto e investido. Keynes falava de um período em que, por muita gente e bancos estarem a pagar as dívidas anteriormente contraídas, o dinheiro estava a desaparecer da economia real.

Luís Lavoura disse...

De qualquer forma, aquilo que o CN declara ser uma verdade evidente, contem de facto uma importante suposição: que as pessoas e os bancos não acumulam dinheiro em vez de o gastarem ou investirem.
Ou seja, não é uma verdade evidente, um tautologismo. É o resultado de uma suposição.

Luís Lavoura disse...

De facto, o mundo de Keynes é fácil de compreender como uma espiral de crédito a funcionar às avessas.
Suponhamos que todas as pessoas estão fortemente endividadas entre si, e aos bancos, os quais por sua vez também têm dívidas uns aos outros.
Então, cada pessoa que ganha um bocado de dinheiro com aquilo que produz, em vez de consumir esse dinheiro, ou de o inevstir, irá utilizá-lo para pagar as dívidas que contraiu. Os próprios bancos irão utilizar o dinheiro dos poucos depósitos que recebem para amortizar as suas dívidas.
Como consequência, cada vez haverá menos consumo e menos investimento.
É claro que, a longo prazo, este processo parará, quando todas as dívidas tiverem sido pagas. Só que, como Keynes muito bem observou, a longo prazo estamos todos mortos.

marina disse...

então ? os cidadãos italianos estão a entrar pacificamente no parlamento , o movimento 5 estrelas será mesmo a 3º força política, e ninguém diz nada ? grande revolução !!

CN disse...

Luís

A procura de bens sustenta-se na produção de outro bem.

A questão do hoarding não deve fazer confusão aqui. Toda a moeda é hoarding porque todo o momento esta no bolso de alguém. Por definição tem de existir hoarding (moeda no bolso de algúem durante X tempo) para a processo de troca da produção ser possível com complexidade.

Portanto, a procura advém da produção porque a produção de produtos especializados (quase todos) são para serem trocados.

A autoprodução se quisermos é um caso particular de autoconsumo. A produção e consumo são um e um só.

A procura por moeda é um fenómeno que em si se explica precisamente porque o nível de trocas aumenta.

Sem troca, nem era preciso moeda.

Portanto...

CN disse...

Keynes limita-se a descrever uma situação de crise sem qualquer explicação para as suas causas, a não ser indicar as consequências como causas.

Não admire que depois arranje soluções falaciosas.

Luís Lavoura disse...

Keynes limita-se a descrever uma situação de crise sem qualquer explicação para as suas causas

Isso é uma crítica válida.

As causas foram indicadas recentemente por Richard Koo, que mostrou que a crise de 1929 foi essencialmente causada por dívidas imensas a afetar toda a economia, no seguimento do rebentamento de uma bolha na bolsa de valores.

Tal como a crise pós-1990 no Japão (bolha no setor imobiliário, que deixou toda a economia japonesa sobrecarregada de dívidas).

CN disse...

Luís

Nesta altura já te podias identificar mais com a verdadeira causa: expansão de crédito a juro artificialmente baixo que é proporcionado pela criação de moeda.

De 1929 como de 1920 como de 1907 e assim para trás, como para a frente...

Luís Lavoura disse...

Carlos Novais,
essa é uma explicação one size fits all, que, sem estar necessariamente incorreta, não explica por que motivos algumas crises são muito mais profundas e duradouras do que outras.
Há crises económicas periódicas desde que o capitalismo industrial existe. Estão documentadas desde o século 19. Mas a maior parte delas foi passageira, duravam um ano ou dois. 1929, depois 1990 no Japão, e a atual crise são casos excecionais.
Portanto, a explicação da ABCT pode estar correta mas está incompleta, pois necessita de explicar por que motivos estas três crises saíram totalmente dos parâmetros das anteriores (que não foram poucas).

muja disse...

Esperam rendimento por outras formas (serviços prémium, ou consultadoria, ou hits, etc.

E V. baseia-se em quê, para afirmar isso? No seu conhecimento superior da natureza e motivações humanas?

Qual é o benefício que a Mozilla e o contribuidores individuais retiram de produzir o navegador Firefox? Ou os engenheiros que desenvolvem o kernel do Linux? Ou as suas múltiplas distribuições? Ou do FreeBSD? Ou a fundação Apache, cujo software mais conhecido é o servidor http Apache, sobre o qual corre a esmagadora maioria da Web?

E isto para arranhar apenas a superfície da coisa.

V. sabe, sequer, a importância do software livre no panorama geral das tecnologias de informação?

O facto insofismável é este: existe um conjunto (cada vez maior) de pessoas altamente qualificadas que emprega grande parte do seu tempo a trabalhar para a comunidade sem receber nada de quantificável em troca.

Claro que isto é uma maçada para as vossas teorias e, portanto, ignoram. Mas não deixa de ser verdade. O mero facto de estar aqui a escrever isto é prova cabal desse mesmo facto.

PS: "hits"? É o quê, "hits"?

Ricciardi disse...

Está tudo mto certo, mas o mundo está encharcado com excesso de oferta. A china veio contribuir para isso.
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O problema REAL desta crise devém do comércio internacional que tem reflexos a jusante, nomeadamente reflexos nas contas publicas dos diversos países.
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Os países superavitários em termos comerciais, a china, os produtores de petroleo, e a alemanha (que tem vindo a aplicar os seus excedentes para equilibrar os seus sucessivos defices fiscais), tornaram-se excedentários em termos comerciais e aplicam as suas reservas excedentárias adquirindo Bonds dos outros países. Os excedentes comerciais de uns têm de ser aplicados, então, noutras regiões que deles necessitem. E foi tal a quantidade de dinheiro a ser aplicada que o seu preço necessáriamente baixou radicalmente. Este movimento tornou mais vantajoso vender papeis (bonds) do que incentivar a criação riqueza manufactureira própria de onde derivariam receitas fiscais.
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Esta afluência de grandes somas de dinheiro junto dos paises deficitários comercialmente, consubstanciou-se, na prática, no incentivo indirecto a determinados negócios. A ideia foi simples: se juntarmos creditos à habitação em pacotes, com uma certa rentabilidade, podemos vende-los na aldeia global. Bancos especializados juntaram milhares de milhoes de pacotes e revendia-nos a outros bancos que os compravam como produto alternativo aos classicos depostivos a prazo. Estruturaram-se portanto fundos de investimento.
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Como o mercado é um local de pessoas, necessáriamente com os seus defeitos e virtudes, com ganancias e avidez proprias do ser humano, a pressão para contratar mais e mais creditos hipotecários levou a que se estruturassem produtos cada vez menos saudaveis. Até as Roulottes eram financiadas como credito hipotecario. Até a pessoas abaixo de remediadas foi impingido dinheiro para a sua habitação. O chamado lixo tóxico.
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Ora, o lixo foi vendido e revendido. O dinheiro, esse, deveio dos paises superavitários comercialmente. E são eles que têm a batata quente nas mãos na forma de Bonds.
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Rb

Ricciardi disse...

Os EUA vão sair do buraco brevemente. A exploração do gas shale a grande escala vai significar um problema dos diabos aos paises superavitários. Numa decada os EUA vão deixar de vender Bonds porque vão requilibrar as suas contas externas.
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A europa está atrasadissima nesta luta. Nem fode, nem sai de cima. É um continente sem rumo ou estratégia. A Alemanha está sériamente preocupada. E com razão. Se as suas exportações não conseguem ser suficientes para obter contas internas positivas, se um conjunto de pequenos paises em recessão deita as contas germanicas para crescimento nulo, então, por maioria de razões, uma consolidação na balança comercial dos EUA afectaram a única via que a alemanha tem de crescimento: a procura chinesa.
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Ora, se esta irá ter problemas com as exportações para os EUA (que importam mais de 30% da produção chinesa), o mesmo é dizer que a alemanha tem pela frente um problema dos diabos.
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A questão colocasse, pois, com a china.
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Se os EUA forçam um bocadinho mais os chineses, alimentados por uma nova fonte de energia e exigindo estabilidade na cotação do Yuan; se os eua repatriam parte substancial dos seus investimentos na china para outras paragens, a procura na china não se encontrará com a oferta germanica.
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Keynes, nesta fase do campeonato já teria chegado à conclusão de que a crise não é uma crise de divida, nem de defices: a crise é uma consequencia das imparidades no comercio internacional. Imparidades éticas, ambientais, legais e culturais que a globalização veio salientar.
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A partir do momento que o Ocidente pode importar um brinquedo fabricado na china, sem as mesmas condicionantes ambientais, legais, laborais e ético-culturais, e ao mesmo tempo proibe que no mesmo Ocidente se possa fabricar usando os mesmo métodos, dizia, se isso é possivel, então as fabricas só podem fechar aqui para abrir lá.
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Esta distorção de mercado, que promove o desmérito e desfavor de uma sã concorrencia está na origem destas imparidades no comercio internacional e, por sua, vez, reflectido nas contas internas de cada um dos paises.
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O resto é fantasia dos austriacos que, diga-se, nem sequer tem qualquer solução para uma crise. Não tem. A solução é sempre a mesma: deixar andar, deixar que o mercado se auto-regule. Nem que isso implique coisinhas sem importancia como sejam desempregos massivos, recessoes, mau estar, infelicidade, falta de confiança etc.
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Ora, é exactamente esta ultima coisa, a confiança, que Keynes pretendia sempre sobreelevar. Manter a confiança dos agentes economicos é prover a procura com meios que satisfação a oferta. Ainda que provisóriamente.
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Como estamos a assistir, esta nova onde austriaca na europa está a provocar uma depressão economica cuja recuperação será, no minimo, de DEZ anos, caso não se arrume com esta gente dos poderes. E chegados lá, estaremos piores. Mais endividados, com menos emprego e com menor capacidade de voltar a crescer.
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Keynes teria questionado o sistema de trocas no comercio internacional.
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Rb

Harry Lime disse...

Rb,

Como sempre assino por baixo. E o facto dos EUA se safarem melhor do que a Europa é a melhor prova de que o Keynes tinha razão.

E não sou nem o Obama nem o P.Krugman que o dizem: é a realidade.

Rui Silva

Harry Lime disse...

Li estes comentários com muito interesse!

gostei especialmente do argumento austriaco de que tudo se deve À criação de moeda... Ah! malvado papel! a nossa salvação está no ouro...

Já agora uma pergunta como é que aconteceram os pânicos de 1907 e todos os do sec. XIX? Nessa altura havia padrão ouro e os panicos aconteciam com frequencia tão grande (ou maior!) do que actualmente!

Se calhar há aqui algumas coisas que os austriacos não conseguem explicar.

Rui silva

CN disse...

Tanta confusão deus meu.

Sem expansão de crédito por criação de moeda os "vícios" não teriam como ser alimentados. É o juro artificialmente baixo que alimenta esses vícios, ou seja, as bolhas.

No período do padrão-ouro também existiram bolhas porque os bancos emitiam mais papel moeda do que a que tinham, mas ao menos nesse tempos os bancos enfrentavam corridas as bancos de levantamento de moeda em ouro.

Anónimo disse...

é mais fácil transferir tecnologia, ciencia, organização produtiva que criar nova ciencia, nova tecnologia...
o resultado é que a transferencia de capacidade produtiva é muito mais rápida que o crescimento economico permitido pelo desenvolvimento cientifico-tecnologico e melhorias organizacionais.
Isto causa uma pressão enorme sobre os recursos naturais... o nível de vida do mundo desenvolvido simplesmente não é extensível à totalidade da população mundial.
Exemplo, é incomportável que todo o mundo tenha o mesmo nº de carros per capita que há em portugal. Esmagaria os recursos naturais.
Em muitos recursos naturais a pressão sobre eles vai provocar um aumento que terá de moderar o seu consumo. Fontes de energia, como o petroleo, mas também minerais como a prata e outros. E isto vai chegar aos alimentos... 1 kilo de carne custa 10 kg de cereais...
Só a china tem tanta população como todo o mundo desenvolvido, basicamente europa, USA, japão e pouco mais... Mas também sobem de rendimento a India que tem tanta população como a china, o Brasil e a generalidade da america latina...
e isto provavelmente vai fazer-se a um ritmo maior que o permitido pelo crescimento cientifico-tecnologico. O mundo está a mudar e não creio que haja regresso ao passado.
só espero que a loucura consumista não faça do mundo uma especie de ilha de pascoa em tamanho gigante. É um risco. As pessoas substituiram a crença na omnipotencia de Deus pela crença na ominipotencia da ciencia e da tecnologia. Estão a contar que os desenvolvimentos cientificos e tecnologicos resolvam o problema energetico da humanidade. Estão a contar com o ovo no cu da galinha, espero que realmente esteja, mas pode não estar.

xyz

Ricciardi disse...

«Tanta confusão deus meu.
Sem expansão de crédito por criação de moeda os "vícios" não teriam como ser alimentados.»CN
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Oh Cn, vejamos, a realidade é o que é. Podemos não gostar dela, mas na verdade, a nivel mundial, a expansão do crédito foi o que permitiu que países como a china pudessem crescer.
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Não era possível a china exportar muito sem que os importadores lhes vendessem papeis (bonds) em troca. Quer dizer, era possivel, mas a um ritmo lento. A globalização só foi possível por causa da expansão monetária.
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Agora, o que o caro CN pode dizer, isso sim, é que o mundo dos negócios, a nível macro, terá que ser sustentável, em linha com o ambiente e ética. Que o ritmo de extracção de recursos, que a intensidade da poluição concentrada num intervalo de tempo curto, deveria ser imensamente inferior.
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Mais, deveríamos estar a discutir os métodos pelos quais um país tem direito a crescer e desenvolver-se sem prejudicar os fundamentos dos outros. A todos os níveis.
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Deveríamos estar a discutir por que carga de agua eu sou obrigado a construir um ETAR de tratamento de resíduos e os chineses NÃO. Porque é que eles podem exportar produtos fabricados num enquadramento legal, ambiental, laboral, e porque é que eu não posso produzir nesse mesmo enquadramento.
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O que está em causa, além da civilidade, é tambem os critérios pelos quais se funda o liberalismo, a saber: que a concorrencia seja tão eficaz quanto justa. Justa no sentido que tem implicita uma base legal comum a todos.
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De outro modo, discutir expansão de crédito é discutir o que não tem discussão. Pode discutir criação de moeda por parte dos bancos centrais, mas não pode discutir expansão monetária que deriva da liberdade que cada um de nós tem em usar o dinheiro como bem entender.
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Rb

Ricciardi disse...

Vc confunde, parece-me, a emissão de moeda (QE) com expansão do credito bancário. No primeiro pode ter, eventualmente, alguma razão, mas no segundo há matematicamente uma impossibilidade de crescimento eterno. A expansão do credito só existe porque existe concorrência entre bancos. Se não existisse concorrencia um só banco não podia fazê-lo.
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O que um banco empresta a um cliente pode ser um recurso aplicado noutro banco e este pode utilizar esse recurso para o emprestar a outro cliente. A possibilidade de expansão é limitada pela aritmetica versus a quantidade de bancos existentes. Isso não é passivel de ser controlavel, excepto na ex-URSS.
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Em todo caso, a txa de cobertura de Depositos versus Credito Concedido é, em Portugal, na ordem dos 120%. Com tendencia a diminuir em virtude do Basileia III. Em termos práticos, os bancos tem um Capital Proprio minimo de 9% ou mais. Isso quer dizer que tem activos superiores aos passivos em 9%. E isso acontece porque os rácios para a banca são imensamente mais exigentes do que para qualquer empresa. Em termos normais, se fossemos a calcular a solvabilidade dos bancos como se fossem empresas normais, o rácio seria maior do que os 9%. Mas na banca classificam-se os activos por classes de risco aonde uns contam e outros não.
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É, pois um não problema. Se vc quer limitar o despesismo e endividamento dos estados e familias e empresas, a única coisa que tem de defender é a sustentabilidade.
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Exigir que um governo não possa contrair empréstimos para além da capacidade de reembolso do país.
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Só desta forma é que pode limitar os desmandos de quem elegemos.
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Quanto aos desmandos crediticios dos privados, pois então, cada um mete-se na cama que fez. Quem sou eu para lhe dizer a si que não pode comprar um carro a prestações?
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O que eu posso fazer, enquanto governante, é fazer o que está aser feito nas três fases do Basileia, a saber: exigir rácios de endividamento aos bancos cada vez mais apertados por forma a que estes não vendam muito mais créditos do que a capacidade que cada um deles tem em atrair depositos.
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Se vc opta por limitar administrativamente a expansão crediticia, só poderia fazê-lo se obrigasse TODOS os bancos de todos os paises relevantes do mundo a fazer o mesmo. Caso contrario seria um D. Quixote. E obriga-los dessa forma era tipo ter um militar em cada banco a ver o que cada um fazia. Caso contrario podia v.exa. limitar a expansão do credito em Portugal e verificava que fugiam todos para espanha.
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Vc ainda não percebeu uma coisa: não existem controlos de capitais nesta globalização. E os poucos que existem são facilmente contornaveis.
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Como no caso do padrão-ouro, esta sua ideia é utópica, porque implica aceitação pacifica de todos para a concretizar e esperar que todos a respeitem.
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Rb

CN disse...

" a expansão do crédito foi o que permitiu que países como a china pudessem crescer. "

Não, as altas taxas de poupança é que fazem crescer a China. A expansão do crédito acima das taxas de poupança só introduzem erro distorções e erros económicos.

Ricciardi disse...

As poupanças da china é uma consequência, caro CN, e devém unicamente da expansão do crédito no 'ocidente'.
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Como é que queria que a China produzisse poupanças se o ocidente não investisse lá?
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Não era possível arrancar com o império chinês sem investimento massivo, não é?
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Chame-lhe deslocalização se quiser. O que interessa é que a china tem vindo a investir, ano após ano, 50% da riqueza produzida. Foi com recurso a poupança interna? Não. Foi com a expansão crediticia do ocidente.
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Agora, meu caro, às vezes dou comigo a pensar que os economistas deviam ter um estagio na agricultura. A sério. Só deviam ter o diploma depois de perceber como nasce e cresce uma cebola.
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A ver se descem à terra e perceber as coisas simples da vida.
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Olhe, por exemplo, quando vc diz que a oferta de dinheiro por parte dos Bancos Centrais deve ser imediatamente cancelada, eu lembro-me logo das cebolas.
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Então, vejamos, sendo o dolar a moeda de referencia nas transações no mundo inteiro, e percebendo que cada vez que retira petroleo ou ouro ou sumo de laranja ou outra coisa qualquer cotada da terra, dizia, cada vez que se extrair materias ou utiliza energia a riqueza mundial cresce. Sem energia vc nao pode ir para o trabalho, as maquinas não funcionam. O mesmo é dizer que todos os dias é necessário criar nova moeda para acompanhar a criação de riqueza.
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Se os EUA fizessem como os austriacos dizem, suspendiam a criação de moeda.
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Reduzindo a coisa ao ridiculo, back to basics, back to cebolas na terra, eu dir-lhe-ei:
- Imagine que só existem 100 notas de dolar no mundo.
- Imagine que o mundo consumia 10 barris de petroleo por dia a 10 usd cada um.
- Imagine que os barris consumidos geram uma riqueza adicional na economia maior.
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Ora, se os EUA não aumentarem a oferta de moeda e se todos os dias a riqueza produzida cresce, os EUA tem de emitir dolares para acomodar a produção marginal de riqueza. Caso não o faça, caso a quantidade de USD seja a mesma, isso quer dizer que cada Barril de petroleo teria de subir de preço por via de uma subida na cotação do USD.
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Este é um dos problemas, aliás, a outro nivel do padrão-ouro.
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Anyway, se há mais produtos, maior riqueza, se todos dias se extraem recursos, então todos os dias a produção de moeda tem que ser tal que os preços não sejam alterados por insuficiencia na quantidade de moeda em circulação.
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Vc pode alegar que a produção de dinheiro vai para além da produção de riqueza. E isso é certo. Vai mesmo. Mas a questão mantem-se a mesma, a saber: esse aumento de dinheiro gera instabilidade nos preços?
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Não muita. A inflação tem valores baixissimos face à produção de moeda. pelas teorias austriacas o mundo estaria hiper inflacionado. Mas não está.
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Olhe, o Japão produz moeda a rodos e não consta ter problemas inflaccionistas.
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O que tem os austriacos de perceber é que o mundo agora é uma aldeia. A inflação que seria produzida nos EUA por causa da emissão de moeda é exportada para todo o mundo. A inflação gringa a dividir por 200 paises dá um cagagésimo.
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Por outro lado a riqueza mundial está em crescimento acelerado. Aplicar medidas austriacas nesta globalização seria equivalente a regressar ao sec XVIII.
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O mundo tem que vir a tender para outra lógica que não passa por questões monetárias. O mundo vai ter que ser mais sustentavel, a bem ou mal. Quer dizer, produzir em absoluta sintonia com a natureza.
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Rb

CN disse...

RB

Qualquer quantidade de moeda é suficiente. A forma de existir mais moeda om a mesma moeda é os preços descerem.

De resto foi o que aconteceu no período de maior crescimento, entre 1870 e 1900.

A descida de preços por crescimento económico não causa problema e pelo contrário é sinal de saúde económica, além disso, isso incentive a produção de mais moeda (ouro, prata, outros metais, outras moedas).


Quanto à China, não, é a taxa de poupança reinvestida (lucros das empresas e poupança das pessoas) que sustenta o crescimento.

A china para todos os efeitos ainda consegue sim é financiar os EUA.

CN disse...

"O mundo vai ter que ser mais sustentavel, a bem ou mal. Quer dizer, produzir em absoluta sintonia com a natureza. "4

Puxe lá do seu instinto e verá que o que provoca o crescimento não sustentável só pode ser uma des-sintonia entre o investimento e a poupança.

Ricciardi disse...

«Qualquer quantidade de moeda é suficiente. A forma de existir mais moeda om a mesma moeda é os preços descerem.»CN
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Vc não percebeu, CN. Uma quantidade de moeda fixa, independente da produção de riqueza, faz com que o preço da moeda (cotação) dispare.
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Ora, se a cotação da moeda sobe, porque a procura à mesma é tendencialmente maior (criação riqueza), o preço dos bens convertidos em moedas que não sejam padrão das matérias primas sobe pelo efeito cambial.
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O mesmo é dizer que se o mundo tem como padrão de trocas o US dolar a subida da cotação desta moeda encarece as compras de recursos do resto do mundo... excepto para os gringos, claro, que usam a própria moeda de referencia.
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Isto num cenário que parte do pressuposto que não existe criação adicional de moeda (usd).
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Portanto, para haver estabilidade nos preços de TODO o mundo, a FED tem de continuar a produzir moeda. pelo menos ao ritmo dos consumos dos recursos cujas transações se fazem em us dolares.
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Quanto à china, meu caro, é evidente que uma parte dos lucros alimentam o investimento e a poupança numa cadeia de auto-alimentação. O ponto não é esse. O ponto é que eles não pouparam para investir. Foram poupanças ocidentais que investiram naquele país. E os excedentes actuais chineses (poupanças) são, parte deles, aplicados em papeis ocidentais (bonds) ou, como tem vindo recentemente a acontecer, os excedentes são investidos na compra de empresas ocidentais ou no açambarcamento de recursos escassos.
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Na prática, 50% da economia Chinesa depende dos EUA. Quer para colocar os excedentes (endividamento gringo), quer para continuar a vender os seus produtos.
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Os EUA virtualmente não devem NADA. Devem papeis, que valorizam e desvalorizam, de acordo com os propósitos da FED.
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O partido republicano acha que chegou o tempo de repatriar os negócios gringos e forçar a china unilateralmente a passar de país produtor a país consumidor.
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Mas quem ganhou foram os democratas que não conseguem resistir à pressão das multinacionais gringas a actuar na china. Estes tem vindo, porém, a actuar no lado diplomatico a ver se indirectamente, atraves de ajustes cambiais, a china perde competitividade. Mas está a chegar o tempo de partir para outra. Nem os EUA querem uma china demasiado forte economicamente que possa fazer frente militar, nem os chineses conseguem abdicar da dependencia que tem junto dos gringos.
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Não existe outro país capaz de receber, gerir, e comprar os excedentes chineses.
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Rb