12 fevereiro 2013

e no entanto é tudo liberalismo clássico

Num texto antigo Rui A. (isto já dura há muito tempo: Os erros de Hans-Hermann Hoppe: Estado, liberalismo e democracia) creio que vai no fundo à questão principal que o apoquenta:
"Todavia, não recusando o «princípio do governo», que alternativa oferece Hoppe para o futuro da política? Ou, um pouco pior, como interpreta ele a História política das sociedades humanas onde, sob várias capas, designações e formas, o dito «princípio do governo» esteve e está, pelo que se presume que estará, sempre presente? As respostas de Hoppe, quanto ao passado da política e ao seu futuro, são eivadas de incorrecções, no que se refere ao passado, e perigosamente ilusórias e abstractas, indiciadoras de tentações muito pouco liberais, em relação às possíveis alternativas para o futuro."
Creio que a visão da história de Hoppe é uma das suas grandes contribuições (traça o melhor do sistema monárquico, porque também este falha e porque o estado moderno tem problemas graves), mas passando à frente disso a resposta é:

Uma nação, portanto, não tem nenhum direito de dizer a uma região ou distrito que "Você pertence a mim, quero manter você!"  Um distrito é formado por seus habitantes.  Se há alguém que tem o direito de ser ouvido nesta situação, este alguém são estes habitantes.  Disputas relacionadas a fronteiras devem ser resolvidas por meio de plebiscitos. (Omnipotent Government, p. 90)
Nenhuma pessoa ou nenhum grupo de pessoas devem ser mantidos contra sua vontade em uma associação política da qual não queiram participar. (Nation, State, and Economy, p. 34)
O liberalismo não conhece nenhuma subjugação, nenhuma anexação; assim como ele é indiferente ao próprio estado, o problema do tamanho do estado também lhe é indiferente.  O liberalismo não obriga ninguém a se manter contra a sua vontade dentro da estrutura do estado.  Quem quiser emigrar ou viver em uma legislação própria não deve ser impedido.  Quando uma fatia da população quiser deixar de pertencer a uma união, o liberalismo não irá impedi-la de consumar tal propósito.  Colônias, cidades ou distritos que quiserem se tornar independentes estão livres para fazê-lo.  Uma nação é uma entidade orgânica e, como tal, não pode ser nem aumentada nem reduzida por mudanças na formação de seus estados; o mundo como um todo não é prejudicado por esse novo arranjo. (Nation, State, and Economy, pp. 39?40)
O tamanho do território de uma nação, portanto, não importa. (Nation, State, and Economy, p. 82)
O direito à autodeterminação, no que tange à questão da filiação a um estado, significa o seguinte, portanto: quando os habitantes de um determinado território (seja uma simples vila, todo um distrito, ou uma série de distritos adjacentes) fizerem saber, por meio de um plebiscito livremente conduzido, que não mais desejam permanecer ligados ao estado a que pertencem, mas desejam formar um estado independente ou tornar-se parte de algum outro estado, seus anseios devem ser respeitados e cumpridos.  Este é o único meio possível e efetivo de evitar revoluções e guerras civis e internacionais. (Liberalismo — Segundo a tradição clássica, p. 128)
O direito à autodeterminação de que falamos não é o direito à autodeterminação das nações, mas, antes, o direito à autodeterminação dos habitantes de todo o território que tenha tamanho suficiente para formar uma unidade administrativa independente.  Se, de algum modo, fosse possível conceder esse direito de autodeterminação a toda pessoa individualmente, isso teria de ser feito. (Liberalismo — Segundo a tradição clássica, p.129)
A circunstância de se ver obrigado a pertencer a um estado, contra a própria vontade, por meio de uma votação, não é menos penosa do que a circunstância de se ver obrigado a pertencer a esse estado em razão de uma conquista militar (Liberalismo — Segundo a tradição clássica, p.137).
Não faz nenhuma diferença onde estão e como são desenhadas as fronteiras de um país.  Ninguém obtém ganhos materiais especiais ao expandir o território do estado em que vive; ninguém sofre perdas se uma parte dessa área for separada do estado.  É também irrelevante se todas as partes do território de um estado estão conectados geograficamente ou se estão separadas por um pedaço de terra que pertence a outro estado.  Não é de nenhuma importância econômica se um país possui ou não uma orla marítima.  Em tal mundo, as pessoas de cada vilarejo ou distrito podem decidir por plebiscito a qual estado querem pertencer. (Omnipotent Government, p. 92)
A posição de Mises sobre a secessão

13 comentários:

muja disse...

Muito bonito, sem dúvida.

Então e diga-me lá: nesse mundo liberal maravilhoso, como é que é, eu posso pertencer ao Estado A, por exemplo, às segundas, quartas e sextas; ao B às terças e quintas e ao C ao fim-de-semana (é para a praia)?

muja disse...

Bem, quer dizer, na verdade não faz grande sentido a minha pergunta não é?

A semana é o que um homem quiser. No Estado A podem ter semanas de três dias e no B de 17. É questão de plebiscitar a coisa. Que raio, até podemos viver mais tempo carago! É só plebiscitar que um ano passa a ter apenas seis meses: zás! Passamos logo todos a viver o dobro. Não é assim?

Carago! Pode ser Natal todos os dias nesse mundo! A gente plebiscita e pronto: Natal todos os dias! E melhor, plebiscita-se e passa a ser Carnaval todos os dias também! E passamos todos a andar vestidos de Pai Natal!

É mesmo uma utopia isso. Lá pode haver sítio onde toda a gente seja tão feliz??

marina disse...

pois é , os que gostam de poder não dispensam a figurinha estado nação essencial para o poderem exercer como lhes dê na gana , massacrando os de baixo.

zazie disse...

De baixo ficam os habitantes de um país quando estas secessões começam a mandar na Europa, em nome de direitos de minorias.

Por cá é que ainda não se viu nada. Por Inglaterra já fazem lei.

Euro2cent disse...

Um dia destes tenho de ir ler The Napoleon of Notting Hill, do Chesterton.

Enrtetanto, as sombras dos camaradas Cesar, Richelieu, Lincoln e Bismarck devem estar a achar muita graça à impecável cadeia de raciocínio que desembesta em "conceder esse direito de autodeterminação a toda pessoa individualmente".

Talvez o "se fosse possível" devesse ter sido aplicado um pouco antes.

Ricciardi disse...

D. Afonso Henriques, meu caro, estás a ouvir o que eles dizem?
.
Ora então, embrulha.
.
Se fosses liberal nunca terias tido necessidade de te chateares com a tua maezinha e fundares um reino.
.
Se fosses liberal e se a tua mãe fosse liberal e se os reis espanhois tambem fossem liberais e se o teu pai, que era frances, fosse mais liberal, tu tinhas promovido um plesbicito.
.
Não, espera, se os celtas fossem liberais e os iberos tambem liberais, se os mouros fossem liberais, se toda a gente fosse liberal... se os romanos fossem liberais, se os gauleses fossem liberais então, olha, foda-se, se toda esta gente tivesse sido liberal desde pequeninos, se todos esses gajos tivessem andado na escola austriaca, dizia, meu caro Henriques, a tua mãe não te tinha parido porque não teria tido necessidade em casar com o teu pai, nem a tua tia tinha casado com o rei espanhol; os celtas e os mouros nunca cá tinham estado porque um liberal não conquista, plesbicita; os romanos nunca teriam saido de roma, os ingleses nem se chamavam bifes, nem os gringos americanos, o brasil ainda nao tinha sido descoberto e, se fosse, por engano, os indios teriam plesbicitado em desfavor do império luso.
.
Por conseguinte, os austriacos não tinham logrado obter independencia; nem escolas teriam sido construidas naquele país. Não havendo escolas, não haveriam correntes de pensamento liberais.
.
Ainda assim, Henriquem imagina que, mesmo assim, teria existido um Mises. Aonde é que ele estaria? o que faria o senhor?
.
Provavelmente, esse Mises, estaria em Israel a bater com a cabeça no Muro das lamentações, depois de levar as cabras para o pasto. E como os romanos nunca teriam estado lá, nem Deus teria tido necessidade em enviar o seu Filho, Jesus de sua Graça, porque a humanidade não teria precisado de salvação alguma.
.
O próprio Deus, na sia infinita omnisciencia, teria chegado à conclusão que esse mundo liberal teria sido tão aborrecido que Ele próprio se abstia de o criar.
.
E então estariamos todos incriados. liberais incriados que, em boa verdade, não seria uma coisa muito desagradavel.
.
Rb

zazie disse...

AHAHAHAHAHAHAH

zazie disse...

"um liberal não conquista, plesbicita"

AAHHAHAHA

Esta já está. Vai ser bordão com copyright

CN disse...

Fico com a suspeita que são os "democratas" que menos gostam deste plebiscito - esse método que trouxe a luz ao mundo.

zazie disse...

ehehehehe

Já me ri tanto com esta brincadeira. Brinque também, CN, ou plesbicite o blogue

":O)))))

marina disse...

mas os celtas continuariam a chamar-se celtas e estariam ainda hoje espalhados por várias regiões , partilhando uma cultura comum bem mais divertida e saudável que a que veio a seguir , depois da romanização e cristianização forçadas :)))) pois era.

zazie disse...

Os empalanços eram divertidíssimos.

muja disse...

Ah, pois. Muito engraçado ó Rb! Mas olhe, não se estique. Não se estique porque aqui há uns tempos o que a gente ouvia da sua parte era uma conversa parecida, embora circunscrita aos destinos dos pobres africanos, tão oprimidos pelos descendentes do Sr. D. Afonso I...

---

CN,
cá eu posso desgostar à vontade, porque nem sou "democrata". Vivo na escuridão. Essa luz nã m'ilumina...

Mas olhe que o Maradona também dizia que jogava de noite, às escuras, quando era cachopo. Diz que depois, durante o dia, nem precisava de olhar para saber onde estavam os outros jogadores e a bola...