11 janeiro 2013

Uma longa travessia


Para se aumentar o stock de capital é necessário utilizar recursos que não servirão o bem estar imediato de quem investe.  Por definição, a acumulação de capital resulta de consumo não realizado, ou seja poupança. Sendo assim, a acumulação de capital pode ser realizada através de poupança interna ou atraindo poupança externa. Sendo um país tão fortemente descapitalizado, Portugal necessitará de ambas.
Para aumentar a poupança interna será necessário garantir condições para que os agentes tenham incentivos a poupar, entre os quais:
- Manter a inflação baixa e previsível
-  Ter um regime fiscal que favoreça a poupança e os rendimentos de capital, o que incluirá impostos baixos sobre os rendimentos de capital (juros, dividendos, rendas).
- Ter um sistema fiscalque não puna a criação e acumulação de riqueza pelos indivíduos mais produtivos. A progressividade dos sistema fiscal faz com que os trabalhadores por conta de outrém mais produtivos não sejam capazes de acumular o capital necessário para se tornarem empresários. Ao contrário do que alguns possam pensar, os melhores candidatos a empresários não são jovens saídos de MBA, mas profissionais experimentados que tenham capacidade angariar capital. Claro que se não forem capazes de acumular poupanças relevantes com o seu trabalho dificilmente se tornarão empresários
- Baixar drasticamente os custos de contexto em Portugal, incluindo velocidade de licenciamento, regulamentação de actividades económicas, sistema judicial, entre outros.
Atrair poupança estrangeira é ainda mais complicado, principalmente num país com custos de contexto tão altos. Para atrair capital estrangeiro, Portugal necessita de criar um enquadramento legal favorável ao investimento, com regulação amiga do investidor, possibilidade de repatriamento total dos lucros (a ideia estúpida de querer capitalizar um país impedindo a repatriação de lucros faz tanto sentido como como aumentar o tráfego de uma auto-estrada eliminando saídas) e  um regime fiscalmente favorável. Note-se aqui que para ser competitivo não bastará a Portugal ter impostos sobre o capital ao nível do resto da Europa: será necessário que sejam muito mais baixos. Será necessário que sejam muito mais baixos porque Portugal parte um nível inferior e porque tem custos de contexto mais altos, desvantagens gográficas e de escala em relação a outros países. Com o mesmo nível de fiscalidade, uma empresa continuará a preferir ficar na Alemanha do que em Portugal. Para além disto, covém recordar que a própria europa se está a tornar menos competitiva, pelo que não será o melhor benchmark. O próprio movimento do centro de gravidade da Economia Mundial  para leste trará dificuldades acrescidas Em suma, para acumular capital, Portugal necessita de fazer o oposto do que tem sido feito até aqui. Mas para tal serão necessárias condições políticas e só existirão condições políticas quando a sociedade portuguesa entender a importância do capital e a necessidade de o atrair. Do ponto em que nos encontramos, é um longo caminho a ser percorrido. Temo que não cheguemos a tempo.

26 comentários:

Ricciardi disse...

«Por definição, a acumulação de capital resulta de consumo não realizado, ou seja poupança.» carlos
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Vc está enganado. Existem outras formas de acumular capital sem poupança. Mas deixando isso de lado, e concentrando-me apenas no que v.exa. quis dizer, resulta uma observação.
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A Consumo de produto nacional (não importado) não afecta a Poupança. O mesmo é dizer que se nós trocarmos de dinheiro internamente muitas vezes ou poucas vezes ou nenhuma, a poupança mantem-se a mesma. Troca de mãos, mas vai tudo na mesma para contas bancárias nacionais. O que vc gasta num pão é poupança do padeiro. O que vc gasta com um projecto de arquitectura é poupança do Arquitecto.
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O mesmo é dizer que a poupança só é afectada quando existe consumo de produtos importados ou incorporados em produto nacional.
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E é isto que está na base do descalabro económico actual. É que uma coisa é limitar o consumo de coisas importadas (menos poupança) outra coisa é limitar o consumo de produto nacional. E quando toma medidas que limitam o consumo de produto nacional, pese embora a poupança se mantenha a mesma, o facto é que diminuiu o numero de operações de compra e venda; operações essas que geram impostos, emprego.
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Daí que, uma ideia que partilho com algumas pessoas (mesmo da area liberal como é o Ricardo Arroja), é que a política tem de conseguir um regime especial junto da UE para poder alavancar a sua economia. E não me refiro a dinheiro. Refiro-me à negociação de condições, por tempo bem defini a priori, que possam permitir que Portugal possa mexer nas pautas aduaneiras e na fiscalidade sobre as empresas para atrair investimento externo propiciador de emprego, capital, e dinamismo.
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Rb

Ricciardi disse...

Mas mais, o investimento estrangeiro deve ser dirigido (sei que não gostará da palavra, mas disse-a de proposito ;)) ou se quiser previligiado o investimento que represente substiuição de importações. Com prioridade na área energética e alimentar.
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Não percebo porque Portugal que gasta cerca de 12 mil milhoes de euros em energia por ano, não abre concurso para investimento externo para exploração nuclear de energia. Eu sei que existe resistencia por causa dos ambientalistas, mas caramba, espanha tem duas ou três centrais na fronteira com portugal Eram por lá mais duas nossas. Mais a mais já existem centrais de 4ª geração, cujo perigo é infinitamente inferior ao que era.
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Com energia barata e produzida internamente o defice comercial reduzir-se-ia imensamente. E deixavamos de ficar dependentes.
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Rb

Carlos Guimarães Pinto disse...

Rb, imagine um economia fechada em que todos usem o seu rendimento para consumir. O pescador gasta todo o seu dinheiro com o padeiro, que gasta tudo com o agricultor, que por sua vez gasta com o pescador. Nesta economia, o dinheiro não sai do país, mas não há poupança.

Ricciardi disse...

Claro Carlos. É isso mesmo. Quer gaste, quer não gaste, em produto nacional, a poupança não é afectada. Mas é afectado o emprego e a cobrança de impostos, já que se o pescador não vender ao padeiro e vice versa, ambos deixam de facturar. Pelo que, não deve o governo despromover o consumo nestes casos. pelo contrario. O consumo deve ser desencentivado no que toca a consumo de importações.
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Rb

Carlos Guimarães Pinto disse...

Não, Rb. Poupança é o padeiro e o agricultor darem pão e batatas ao pescador sem receber peixe nenhum para que ele, em vez de pescar, construa um barco.

Ricciardi disse...

Não, Carlos. Poupança é o pescador exportar o que pode, deixar de importar barcos e compra-los aos Estaleiros de Viana.
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Rb

Filipe Silva disse...

O Rb é mesmo a favor do planeamento central, isso não funciona, o caso português devia já servir de lição mas a mentalidade do "agora é que vai ser".

Quem decide qual o sector a aplicar deve ser o empreendedor e não um burocrático ou mesmo o Rb porque acha que este ou aquele sector é que são bons.

Se o acha e vê oportunidades já sabe o que deve fazer reúne o capital e investe o Rb

Grande parte do problema dos custos de contexto vêm de pensamentos como o do Rb, basta ver o caso das renovaveis o Socrates achou que era boa ideia e toca a meter o consumidor a pagar e hoje temos custos energéticos muito elevados, demasiado elevados para um país como o nosso.

Lá está a teoria keynesiana de que a poupança não é afectada se for consumido por nacionais etc...

Primeiro o que o Rb quer é que as pessoas sejam apenas maquinas de consumir, não pensem por elas.
Todos sabemos que para abrir um negócio é necessário capital, próprio e alheio (bancos, etc..), hoje em dia os bancos emprestam cada vez menos, e cada vez mais se terá de entrar com capital próprio (na verdade sempre o foi, mas hoje com uma parcela maior) para a criação do negócio, logo a poupança é fundamental.

O Rb e companhia limitada não percebeu que a bolha crediticia arrebentou, e procuram e acham que se deve procurar insuflar outra vez, Von Mises já o disse que ou somos nós que escolhemos parar o processo ou a realidade escolhe por nós.

É preciso que as pessoas compreendam melhor (ou compreendam) a teoria austríaca do ciclo económico.

O Carlos está completamente certo,

Carlos aprecio bastante os seus post´s keep up the good work

muja disse...

O Rb é mesmo a favor do planeamento central, isso não funciona, o caso português devia já servir de lição mas a mentalidade do "agora é que vai ser".

Vivendi, olhe aqui outra oportunidade para lhes dar com o Salazar no toutiço! Chegue-lhes!

Anónimo disse...

Concordo com a análise do Ricciardi sobre a tal poupança.
contudo a economia é afectada como ele disse pela diponibilidade de ENERGIA e ALIMENTAÇÃO.
Se não formos autonomos ou pouco dependentes nestes dois recursos, estamos sempre em "palpos de aranha".

Cfe disse...

"Ao contrário do que alguns possam pensar, os melhores candidatos a empresários não são jovens saídos de MBA, mas profissionais experimentados que tenham capacidade angariar capital"

Até que enfim alguem inteligente tem a coragem/ousadia de ir contra o mantra dos diplomas.

Vivendi disse...

Salazar resultou pois este dominava os básicos da economia. Muitos deles inspirado na escola austríaca.

Não atirava dinheiro para cima dos problemas e todo o investimento público foi conseguido de forma gradual e em bases sólidas de crescimento económico.

Falam que ele teve uma economia fechada, mas não faltou investimento estrangeiro e naquele tempo Portugal realmente produziu.

CN disse...

" Ricciardi disse...
Não, Carlos. Poupança é o pescador exportar o que pode, deixar de importar barcos e compra-los aos Estaleiros de Viana.
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Rb"

Não. Poupança é o pescador exportar do sítio onde está para qualquer lugar e importar barcos onde isso lhe facilitar exportar (produzir) mais.

Ricciardi disse...

Sim, tem razão CN. Em teoria é como diz. Na realidade a coisa não se passará desse modo, já que o mercado concorrencial (global) não é perfeito, nem se rege pelos mesmos princípios.
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Rb

muja disse...

V. não disse tudo Vivendi!

O Salazar sabia os básicos da economia, tal como toda a gente sabe:

- não gastar mais do que o que se tem
- poupar o que sobrar para despesas extraordinárias
- usar o que sobre para além disso em fomento (hoje diz-se investimento, um reflexo da mudança de paradigma industrial para financeiro)

Simples e eficaz. Claro que vem logo o "Ah e tal, mas agora devemos tudo e não temos nada! Por isso só aumentando a dívida"! Errado.
Qual foi a primeiríssima coisa que o Doutor Salazar fez, confrontado com uma situação semelhante? Corrigir o deficit do Tesouro. Estancar a hemorragia.

Custou? Ai não não custou! E agora também vai custar. Na altura o pessoal estava já habituado a não ter muito. Agora desabituou-se. Mas que vai ser, vai. Ou isso ou isto acaba tudo.

muja disse...

Quanto ás economias dirigidas, está bom de ver que isso não é linear. É muito fácil apontar para uma economia plenamente desenvolvida e dizer: - Olhai! Aquilo nem é preciso fazer nada! É deixá-la andar!

Só que numa economia primitiva, incipiente, como a nossa era antes do Estado Novo e é agora, não há hipótese que não seja alguém planear a longo prazo para orientar os recursos para onde eles tenham retorno. Não é andar por aí a "chuveirar" dinheiro e depois fazer danças da chuva para que ele volte a aparecer.

Isto é simples e não tem nada que saber (esta conclusão, não o planeamento em si, evidentemente).

Vivendi disse...

Correto o seu complemento Mujahedin!

São muitos os ensinamentos económicos a aprender com Salazar mas estes raramente entram nas universidades e na sociedade portuguesa. Quiseram acreditar que foi um período de pobreza.

BLUESMILE disse...

ahahahahhahaha...

o Vivendi é melhor que o Bruno Nogueira

José** disse...

Olham para a Grecia em 2013 : Minas de Oro do norte grego vendidas por $11 milhões, com valor estimado no subsolo de $22 mil-milhões. Por acordo, a empresa canadiana não vai pagar impostos ao governo grego (ver minuto 4'00).

Portugal, mesmo caminho ?

http://www.canalplus.fr/c-infos-documentaires/pid3356-c-effet-papillon.html

Programa integral de 0'50 a 8'40.

--> Sentimento de revolta!

José** disse...

Se o laço nao funcionar, podem clicar em

"Partie 1"

abaixo na esquerda e, claro, deixar a mensagem publicitaria.


Cumps.

José** disse...

Aris Kalipolitis, Membro do Conselho de Administração do TAIPED (agencia grega para venda dos activos públicos):

Ver do minuto 3'29 ao 4'16.

"Se no primeiro trimestre, não conseguimos os objectivos, seremos postos sobre vigilância.
Se no secundo trimestre, os golos ainda não foram atingidos, então um comissário as Contas será nomeado automaticamente.
Que dizer que o ministro grego será posto sobre tutela. Ele perde sua assinatura e deveremos mais licenciar e baixar os salários do país."

"Os credores estão a ser muito duros esta vez. Mesmo muito duros. Eles sentem que o Estado grego não é credível. Eles sentem que temos brincado com eles. Eles meterem muito dinheiro no país e sentem que o país é um poço sem fundo."

José** disse...

Os 6 directores do comité do TAIPED.
Aris Kallipolitis é o ultimo da lista.

http://www.hradf.com/en/the-fund/core-team

José** disse...

Interessado em comprar o Quartel Geral da Policia ateniense ?

http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/athens-police-headquarters

José** disse...

Querem investir nos escritorios do fisco grego ?
http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/athens-s-tax-office

No prédio da autoridade das estatísticas gregas ?
http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/hellenic-statistical-authority

Porque não o predio do secretario geral dos sistemas de informação ?
http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/hellenic-statistical-authority

Ora, gostam mais do estilo do ministerio da saúde o do ministerio da educação ?
http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/ministry-of-health
http://www.hradf.com/en/real-estate/sale-leaseback/ministry-of-education


José** disse...

Querem comprar estações termais ?
http://www.hradf.com/en/real-estate/thermal-springs

Por acaso conheço uma que é um brinco.
É a primeira lista e é situada em Aedipso.
O Churchill foi cliente de costumo. No top10 mundial segundo a Condé Nast.
http://www.thermaesyllaspa-hotel.com
Nem sabia que pertencia ao estado grego.

Pedro Sá disse...

Ou seja, os trabalhadores por conta de outrem que sustentem o Estado e os mais ricos que sejam beneficiados.

Pedro Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.