os jovens e os velhos II

Porque é que em Portugal os jovens se comportam como velhos e os velhos se comportam como adolescentes retardados?
Quanto a mim, a chave deste mistério reside no fatídico 25 de Abril de 1974. Os jovens que nessa altura tinham vinte a trinta anos têm agora sessenta, ou mais, e são a geração que se recusa a amadurecer e a desempenhar o papel dos “velhos da tribo”.
Como eu tinha 23 anos em 74, julgo que consigo compreender o que se passou. A “revolução” desencadeou nos jovens da altura uma “força nascente” (Francesco Alberoni) que alimentou a ilusão de que tudo era possível. Uma nova sociedade, uma nova família, um novo homem, uma nova economia. O fim da opressão, a liberdade sem limites e a solidariedade sem responsabilidade. Enfim, a realização do sonho e da utopia.
Esta paixão revolucionária devia ter tido o destino de todas as paixões que se vivem intensamente e que depois evoluem para relacionamentos mais estáveis e duradouros. Infelizmente, o nosso 25 de Abril foi uma espécie de paixão que não se consumou e que deixou no espírito dos jovens da época o sentimento de frustração das paixões platónicas. Não houve clímax, não houve sangue, não houve um “big-bang”, a coisa ficou aquém do esperado e deixou mossas nas almas juvenis da época.
Esses jovens de então, que são os “velhos” de agora, recusam-se a amadurecer e continuam à espera de qualquer coisa que não sabem bem o que é, embora falem de explosões sociais, da peste, da fome e da guerra, enquanto vão fazendo chichi às pinguinhas. São os tais adolescentes retardados de que tenho vindo a falar.
Os jovens do Portugal contemporâneo, pelo contrário, são os velhos. São a geração que teve que andar com os pais às costas e que amadureceu precocemente para dar amparo psicológico à família.
Se o meu pai fumasse umas passas, ouvisse música dos Pink Floyd e sonhasse com amanhãs que cantam, como é que eu iria reagir? Certamente procuraria um emprego certinho e evitaria todos os riscos possíveis porque lá por casa já tinha riscos que chegassem.
Será que foi assim que se inverteu o papel dos velhos e dos jovens neste Portugal em crise?