Fundei o
Portugal Contemporâneo há quase oito anos, na sequência de uma zaragata
qualquer ocorrida no Blasfémias, daquelas muitas «moscas na sopa», ou no whisky, de boa memória, que marcam os blogues colectivos de sucesso, onde os egos individuais
sempre prevalecem sobre o espírito colectivo, coisa que, como nós liberais
sabemos, não existe.
Durante uns
tempos, o PC foi o meu blog particular, solitário e quase íntimo, onde fui
escrevendo umas coisas que não me pareciam nada más, mas que não tinham leitores.
A média diária do blog andava pelos 150 leitores e aos fins-de-semana baixava
para menos de metade, o que demonstrava que, como quase sempre, o génio só é
reconhecido na posteridade, o que, muito francamente, não me estimulava, até
porque tive sempre a convicção de que, um dia, ganharia prosperamente a minha
vida a escrever em blogues, e no Portugal Contemporâneo, sozinho, esse dia tardava em chegar.
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Revoltado com a
ingratidão humana e a falta de sensibilidade literária e política dos
frequentadores de blogues portugueses, regressei ao Blasfémias, de que fora
fundador e que tinha abandonado por capricho e falta de juízo, onde havia um
mercado de leitores certo e abundante, e onde tinha e tenho bons amigos.
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Nessa ocasião,
para reforçarmos o plantel, comecei a desafiar o Pedro Arroja – o liberal
mítico da liberalidade portuguesa – a abandonar o ostracismo mediático a que
ele, por casmurrice e vaidade, se condenara uns anos antes, após uma intensa e
mais do que brilhante incursão pela comunicação social portuguesa. Após um namoro longo e
vários assaltos fracassados, o Pedro aceitou começar a escrever no Blasfémias
(começou com um post sobre o Leo Strauss e os neocons norte-americanos), tendo
ficado assim constituído o «dream team» do liberalismo blogosférico português, numa
sentida expressão pronunciada, num célebre almoço na cidade do Porto, por um
dos mais eminentes autores do Blasfémias, que inventara o slogan da
«bovinidade» que ainda hoje encima o cabeçalho do blog. Por acaso, o restaurante onde
o almoço ocorreu fechou pouco tempo depois, e o Blasfémias por pouco conseguiu
sobreviver a tanta genialidade junta…
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Em resultado
desse almoço e dos alvoraçados episódios que marcaram a passagem do Pedro pelo
Blasfémias (terminados, simbolicamente, numa bela manhã de Abril, 25), o
Portugal Contemporâneo voltou a reanimar – ele que ficara praticamente inactivo
durante meses -, comigo e com o Pedro Arroja, a quem se juntou o nosso querido
amigo José Manuel Moreira, que, por sua vez, resistiu por pouco tempo às
investigações sobre a suspeitíssima sexualidade de Adam Smith e David Hume,
que o Pedro desenvolveu com o inequívoco rigor científico que aplica a estas
matérias.
Tendo, assim, ficado
cientificamente demonstrado que Smith e Hume eram gays e que mantiveram um caso
por muitos anos (prova feita pelo Pedro, onde não faltaram transcrições de
cartas trocadas entre ambos, verdadeiros bilhetinhos secretos de dois apaixonados),
o que constituiu um dos momentos de maior brilhantismo científico deste blog, eu
e o Pedro ficamos novamente sozinhos, isolamento que terminou, julgo que de uma
assentada só, com a entrada do Ricardo Arroja e o Joaquim Sá Couto. Foram os
tempos árduos em que o blog foi indelevelmente marcado pelos posts em inglês
(«em estrangeiro») do Pedro, o que fez de nós o blog mais culto e ilustrado da
blogosfera lusitana, orgulho que ainda hoje conservo.
Depois dessa
renovação, o blog começou a ser marcado pela pena do Joaquim, que melhorava a
cada dia que passava, assim como no ciclo anterior fora marcado pelo Pedro e,
no primeiro tempo de vida, por mim próprio, não tanto pelo brilhantismo da
escrita, mas (talvez?) por ser o único a escrever. Pouco tempo depois entrava o
João Miranda, que nunca nos frequentou muito (volta, João, volta!), há pouco
tempo o Paulo Mendo, que nos trouxe alguma seriedade institucional, e, logo depois,
o Carlos Guimarães Pinto (outro liberal de excelente extracção e muito boa cepa).
Hoje, com este post, tenho o grato prazer de anunciar que o Carlos Novais
aceitou começar a escrever no Portugal Contemporâneo.
O Carlos Novais
é uma figura conhecidíssima da blogosfera nacional e dos círculos liberais
portugueses. Culto, polemista, ferverosamente anarco-capitalista, ele é, em
Portugal, o representante mais antigo e ilustre do liberalismo de raiz
rothbardiana, de cuja obra e pensamento é seguramente, entre nós, o mais
profundo conhecedor. Para mim, poder contar com o Carlos Novais num blog onde
escrevo é uma alegria que suplanta o simples reconhecimento das suas muitas
capacidades. Quem segue, desde os primórdios, a blogosfera liberal portuguesa,
não ignorará que eu e o Carlos mantemos nela, desde o famoso «liberalómetro», mais
ou menos o mesmo estatuto que os dois velhos dos Marretas tinham nesse
programa: nunca concordamos com nada e sempre discordamos de tudo, o que é
muito salutar e bastante estimulante. Sem exagerar na proporção destas coisas, não tenho
dúvida que só um blog como o Portugal Contemporâneo nos poderia aturar aos
dois. E esse é o melhor elogio que nos podemos fazer, todos quantos aqui
escrevemos com maior ou menor regularidade, o de mantermos «o blog mais livre
da praça», como há uns tempos profetizou o Carlos Guimarães Pinto, certamente
já a pensar em ser-nos agradável para ter aqui um lugar…
Seja, então, muito bem-vindo,
caro Carlos Novais.
18 comentários:
Carlos quantos?... caro Rui A., o Insurgente que por aqui anda, além da calçadeira, pouco valor acrescentado... huh... acrescentou...
Passe algum exagero, olhe que com 150 visitas era capaz de ter mais leitores que o outro (com 3.000 visitas na altura, ou menos)... tem de ler um livro sobre o Analytics e como interpretar as hordas de visitantes de um blogue de sucesso como o Blasfémias... o mercado abundante de leitores se calhar são apenas visitas e curtas, demasiado curtas, para poderem ler os títulos sequer... -- JRF
Casmurrice e vaidade?... se alguém tivesse que descrever o caro PA em duas palavras, faria melhor?... impossível!...
Aquilo no Blasfémias não foram meros episódios... foi uma vergonha que dimensionou muitas personalidades... deixei de ler o pasquim na mesma altura...
De política só leio este e o Porta da Loja, que é o melhor. Mas este é bom também caro PA!... um verdadeiro prodígio... -- JRF
Mas gente como o PA, o Rui A. , o RA, o José e mais uns quantos (Pedro Lomba...) deviam era pensar numa coisa mais a sério... feita para a web, telefones e tabletes... o mercado da comunicação social está maduro (no sentido de a cair de podre)... e está pronto para umas ideias novas, um sítio que não deixe entrar os do costume, que seja independente, "des-situacionista" e descomprometido... --JRF
Excelente contratação.
O cerco aperta-se...
Quando não se vence o adversário por fora, toma-se por dentro.
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À parte isto, gosto muito do CN e cheguei a recomendar o wars 4 status quo.
Agora no resto, já se sabe, é mais um biruta simpático.
Boa notícia!
Fica cada vez melhor!
Hmm. Não estão de acordo sobre nada, excepto que o liberalismo é a melhor coisinha desde o pão às fatias (parafraseado os estrangeiros)...
Suponho que teremos muitos Rothbards, muitos Hayeks, muitos Mises, muitos Landes, muitos Rands; muita gente com quem o Rb não concorda mas que se apressará a defender quando alguém apontar que têm todos um nariz parecido...
Livre dizeis vós?
O único que na verdade agita as águas a sério é o PA mais o seu catolicismo, que mesmo sujeito aos contorcionismos a que o PA o sujeita por forma a tentar não ofender a sensibilidade elevada das bailarinas liberais (agora é libertárias que se diz, é?), ainda retém poder suficiente para desencadear discussões pouco ortodoxas (para a ortodoxia dominante da falsa dicotomia esquerda/direita).
Prevejo um abaixamento de Zazies e um aumento de Bluesmiles...
Espero estar enganado.
O JRF tem razão.
Pode crer.
Vamos ter mais um suplemento do Blasfémias para concorrer com o Insurgente.
Pena foi o Paulo Mendo ter dado à sola.
O resto, é mais do mesmo.
Vai ser mais um blogue de tricas ideológicas entre maluquinhos neotontos.
Uma réplica virtual das tretas das seitas marxistas leninistas antes do 25 de Abril.
Tudo a debater a melhor utopia e quem a deve dirigir.
Mas isto prova aquilo que há perto de 40 anos eu já dizia:
É fácil arregimentar malucos para ideologias. Difícil é fazer com que eles as larguem.
Não largam.
O PA é um caso único de um neotonto que se apercebeu da parvoeira e a largou.
Mas fez seguidores neotontos e não consegue influenciar um único para o seguirem na saída.
Coitado do Vivendi... Agora já não vai ter oportunidade para fazer os seus volumosos copy pastes económicos... Que estes tipos vão monopolizar a coisa a esse nível (à vez, e chamando-lhe concorrência - na boa tradição liberalista, perdão! libertária).
Excepto com o Dr. Salazar. Esse é que não lhes agrada nada, por isso ainda vai ter muitas oportunidades para lhes dar com ele no toutiço...
O CN é um tnto à parte e excelente quando se põe a falar de política internacional.
É perfeitamente anti-neocon.
É é um medievalista.
Eu tenho um fraquinho pelo CN (acho que toda a gente tem, de tal modo que também se entendia com aquele bacano escardalho e de grande QI- o Miguel Madeira).
o rui a está a tentar que o PC volte às 150 visitas diárias ? e o título do post devia ser orgulho de avô porque é meio gaga . e malcriado . lá está o caranguejo tuga em todo os seu esplendor.
Em que é que o Rui A foi malcriado?
Essa agora ultrapassou-me.
Se há coisa que o Rui é, é o inverso- um gentleman.
Sempre com luva de seda.
Há pessoas que têm esse dom. Nunca lhes consigo mandar bujardas.
Duas delas são eles: o Rui e o CN.
Pois Mujahedin. Como tudo na vida tem a teoria e tem a prática. E tivemos 40 anos de bos práticas na defesa económica e do tradicional e anda tudo com medo de assumi-las? Eu não tenho.
E faz V. muito bem! Eu também não tenho!
Tem todo o meu apoio!
;)
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