29 janeiro 2013

bem-aventurados

Primeira tentativa:

Porque é que os portugueses acreditam no que não veem e não acreditam no que está à vista? A primeira explicação que me ocorre é que o que não veem faz parte da tradição familiar ou da comunidade. Acreditam na influência de um Santo, por exemplo, porque a mãe e a avó já o faziam e lhes asseguraram que era remédio eficaz. Em quase todas as aldeias havia um bruxo ou uma cigana que lia a sina e se os pais acreditavam é porque tinham motivos. Hoje, os bruxos têm programas de televisão e é, por assim dizer, o Estado que os abona, o que ainda tem mais valor.

Relativamente ao que está à vista — eu dei como exemplo a ida à Lua, o ataque às torres gémeas ou, para as mentes mais evoluídas, o potencial gerador de riqueza do capitalismo — os portugueses exercem a “dúvida metódica”. Porquê? Pela razão oposta, são acontecimentos ou conceitos abstractos sem relação com o quotidiano. A família não conhece nenhum capitalista e o único ricaço da aldeia é um “pato bravo” amigo do presidente da câmara, de quem ouvem dizer o pior possível. Quem defende o capitalismo está a defender esse sujeito em particular.

Vou ver se me ocorrem outras ideias.

3 comentários:

João Mezzomo disse...

Permita-me, pois tenho um livro de filosofia publicado em que reputo à "nação luso-brasileira" um grande papel no destino do gênero humano (apesar de no momento, falando com brasileiros e portugueses, estou quase a mudar de ideia), e o motivo tem a ver com essa de não acreditar no que vê e não acreditar no que vê. Bem, o nome do livro é "Quem tem ouvidos", e digo isso para que vocês o comprem, mas também pois tem tudo a ver com ver, e ouvir. Pois bem, Portugal situa-se no fim da Europa, por isso tem uma alma ansiosa por outros mundos. Ou então, por ter a alma ansiosa por outros mundos foi morar no fim. Tanto faz. O fato é que Portugal anseia por outro mundo. Então, ele é pequeno diante deste mundo, mas grande diante da conquista de um outro. Por isso Portugal foi o maior na descoberta e conquista do novo mundo. Mas depois que viu que era o mesmo mundo “Cumpriu-se a sina e o império de desfez”, segundo Fernando Pessoa. Porém, “Falta cumprir-se Portugal”...
Ou seja, hipoteticamente, este mundo, que Portugal não crê, não é o mundo real. Portugal sabe disso e o mundo sabe disso. Mas a quem cabe o fado de descobrir o outro mundo, que é real? A quem reside no fim, e tem ousadia para fazê-lo. Alguém entende isso? Ou vamos continuar discutindo essas bobagens de direita e esquerda?

João Mezzomo disse...

OBS. Me atrapalhei alí no acreditar e não ecreditar...

João Mezzomo disse...

Permita-me ainda, este pragamatismo que você apontou dos portugueses é justamente um aspecto muito importante quando se quer desfazer um mundo que é ilosório, fundado numa especulação (ou reflexão), mas que não é real, somente parece ser. O falante de portugues sabe disso desde as fraldas.Por isso Portugal fez a terra "emergir redonda do azul profundo", pois se tivesse ficado a especular, estaria ainda do outro lado (e a Europa junto), temendo o "monstrengo"...saudações....