28 janeiro 2013
bem-aventurados os que não viram e creram
Nos países do Sul as pessoas têm tendência a acreditar no que não veem e a duvidar do que está à vista de todos.
Sobre a primeira parte da minha afirmação penso que é inquestionável. Os portugueses têm os seus santos padroeiros, fazem-lhes promessas e não duvidam das suas intervenções no quotidiano das suas vidas.
Pese embora que muitos teólogos, da própria Igreja Católica, advertem que o transcendental não interfere no real e que os milagres são uma raridade. A Igreja, claro está, aceita a sua existência, mas duvida da maioria, pelo que me apercebo.
Relativamente à segunda parte, julgo que também haverá poucas dúvidas. Há portugueses que duvidam que o homem algum dia tenha posto “os cascos” na Lua, ou que ainda acreditam que a queda das torres gémeas foi obra do Bush.
Relativamente ao potencial do capitalismo, o assunto é um pouco mais rebuscado, exigindo já um QI superior à temperatura ambiente, em Fahrenheit, mas mesmo assim não deixa de ser extraordinário que perante a evidência acumulada, especialmente ao longo do último século, os portugueses duvidem. Pelo contrário, acreditam nas virtudes do socialismo que não estão à vista em lado nenhum.
Vou pensar no assunto e tentar encontrar uma explicação racional para este aparente paradoxo. Acreditamos no que não vemos e não acreditamos no que está à vista.
Não aceitamos o espírito científico de um S. Tomé e preferimos a bem-aventurança dos que “não viram e creram”.
Curioso.
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10 comentários:
Quando passam comentários destes, ponha-se a pau Joaquim... se calhar este blogue vai para junto do da Zazie... -- JRF
Quanto ao post, treta... as pessoas não vivem de grandes números e o consumismo puro tem um potencial muito limitado no acréscimo de felicidade de cada um...
Ou seja, nem as pessoas não vêem exactamente o que é o socialismo, nem não vêem exactamente as qualidades do capitalismo... vêem e muitas compreendem, mas a maior parte está mais preocupada com quanto vai receber ao fim do mês ou se vai receber... -- JRF
1- Não é só em Portugal que a esquerda astá avançando.
2 - É dividoso dizer que os avanços são do capitalismo, já que a participação do setor público é crescente em todo o mundo.Há quem diga - e eu concordo - que a participação da chamada esfera privada vai diminuir sem parar até chegarmos a um grau cada vez maior de "socialismo". É que as pessoas aturam cada vez menos a concentração de riqueza, a falta de transparência e a "picaretagem" que é o setor privado. A esfera pública ao menos possui transparência, em tese, e podemos opinar sobre o salário dos envolvidos.
Tenho de repetir, sorry...
Ao contrário do que o Joaquim pensa — que até na cabeça de um prego vê socialismo e então martela... parece um martelo pilão (sempre quis dizer isto!) —, vivemos numa sociedade capitalista, cada vez mais igual a outras sociedades capitalistas e com uma propensão para importar tudo que é reles que chega a ser uncanny... e no entanto, parece que são 20.000 caixas de antidepressivos por dia...
Até a depressão é socialista é ou não é?... e a antidepressão... parece um martelo pilão... -- JRF
Quando criaram o prozac foi para os americanos acreditarem mais e melhor nas virtudes do capitalismo... até lhe podiam ter chamado "soma", mas era droaga à frente do seu tempo... -- JRF
Claro, JRF.
Esse paradoxo é que V. devia explicar Joaquim: como é que num país afogado em socialismo, o capitalismo continue a ser cada vez mais dominante. Porque é.
Veja lá se o emigrado, esse príncipe do socialismo, esse primus inter pares xuxialistas, não recebeu do maior capitalista português, um empréstimo para as modestas despesas do seu orçamento familiar na Cidade-Luz?
PS: quanto às torres, o Bin Laden também lá estava no Afeganistão, não era? E as armas do Iraque? Ainda me lembro do Nuno Rogeiro confiante que se as não tinham ainda encontrado era porque o Saddam as tinha num barco, algures no Golfo... Ahaha! E é aquilo um especialista em geo-política!
Eu não sei quem eram os gajos que realmente iam aos comandos dos aviões. Mas sei quem as fez cair: e a resposta está mais perto desses tais Bush do que dos islamitas radicais.
Caro Muja, já para não falar da quantidade de pilares do capitalismo, liberalismo, libertinismo e libertinagem, que se encostaram imediatamente ao estado mal esse tal de capitalismo abanou... e não me refiro ao diminuto Portugal... foi por todo lado, incluindo na meca... -- JRF
O Joaquim tem carradas de razão... quando caiu o muro grande e os pequenos, os comunas e vermelhicidas em geral apressaram-se a dizer que não... não era o verdadeiro socialismo... ainda hoje se pode ouvir isso...
O que se passou no Ocidente e continua a passar, está a decorrer à frente dos olhos de toda a gente e no entanto, o Joaquim não aceita o espírito científico de um S. Tomé e prefere a bem-aventurança dos que “não viram e creram”. Mesmo tendo visto!... é ainda mais extraordinário do que o post deixa antever... -- JRF
Socialismo tem de ser entendido em contra-ponto com capitalismo. Capitalismo é o sistema em que o capital manda, logo, os proprietários dos meios de produção (para usar um termo de Marx) mandam, ou tem a hegemonia do poder. Logo, socialismo é um regime em que eles não tem. Não existe regime no mundo em que os proprietários dos meios de produção não tem nenhum poder, nem que os trabalhadores não tem nenhum poder. É tudo uma questão de grau. Se ganha um governante socialista, isso por si só está longe de significar que o pais seja socialista. Mas pode o governante ser de direita e o pais ser socialista, por que os donos dos meios de produção não ten a hegemonia do poder, mas a cidadania a tem. Nessa linha, é óbvio que o mundo caminha para o socialismo. Pode ser no Século XXX, como disse Maiakowski, já que hoje o pessoal é bem burrinho. Mas não percamos a esperança!!!
Sobre o Prozac, é a mesma coisa, a mediocridade reinante foge da melancolia, que é o estado mais criativo, como o diabo da cruz...Aguardemos momentos de maior grandeza!!!
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