27 janeiro 2013

a existência existe?

O dinheiro existe? E a espécie? Com certeza que existem, mas não na realidade, como diz e bem o PA. Existem enquanto conceitos culturais, existem na matriz cultural que nos rodeia, que nos forma e que nos educa e sem a qual estaríamos reduzidos à animalidade, sem consciência da própria existência, que já de si é outro conceito cultural.

No mundo real, o indivíduo está submetido ao determinismo material, ao aqui e agora, como intuiu Bento de Espinosa. Não é livre, não reflete a imagem do Criador. É precisamente quando elabora conceitos abstractos, que estão desligados do lugar e do tempo, que o homem supera esse determinismo e conquista a liberdade. Somos livres, na matriz cultural, no espírito, somos livres quando aceitamos a eternidade e o infinito, outros conceitos culturais.

Eu sei muito bem onde janto e com quem janto e nunca jantei com a eternidade, nem com o infinito, já ouço o PA. O que é a eternidade? A eternidade é Deus. Eu nunca jantei com Deus, até agora, mas Deus janta comigo todos os dias. Deus, outro conceito, o que é? Todos os conceitos estão em constante evolução. As palavras que os expressam têm uma etimologia e uma semântica. E é certo que no futuro terão significados que não antevemos neste momento. Por isso é difícil dar-lhes definições objectivas.

O conceito actual de dinheiro vai evoluir, assim como o de espécie e o de existência, e até o de vida, mas isso não significa que os devamos abandonar. Seria um erro grave usar a razão para destruir os elementos que a suportam, sem conceitos não há racionalidade.

Quando os cientistas se referem a conceitos como a espécie, ou a vida, fazem questão de começar por definir o que entendem e em que sentido vão utilizar esses conceitos. Desenham depois os seus modelos e tiram conclusões que só são válidas para as variáveis estudadas e em circunstâncias específicas. Podemos ou devemos tirar daí conclusões práticas que — ‹‹ganhem um carácter prescritivo e se transformem em "políticas" que, de um modo ou de outro, sejam impostas à comunidade›› (PA). A minha resposta é a seguinte: com certeza que devemos, agora impô-las à comunidade não.

Todo o conhecimento médico é gerado com recurso ao método científico. Os resultados valem o que valem, permitem chegar a conclusões e recomendar determinados tratamentos. O que não permitem é um grau de rigor impositivo. Lembram-se da epidemia da Gripe A, a medicina chegou a conclusões válidas. Daí a recomendações políticas que obrigassem toda a população a ser vacinada é que vai um passo de gigante.

O PA, neste aspecto tem razão, a maior parte dos estudos científicos, pelo menos na área das ciências sociais, não pode traduzir-se em políticas. O dinheiro existe? E a espécie? E a existência? Claro que existem, na matriz cultural, no nosso espírito.

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