25 dezembro 2012

o problema fulcral

O que é mais importante, o colectivo ou o indivíduo? Eis uma pergunta fulcral para definirmos a nossa filosofia de vida.
Se respondermos que é o colectivo, a tendência é para desvalorizarmos os direitos cívicos e para impormos normas que supostamente sirvam os interesses comuns. O principal obstáculo que surge, com esta perspectiva, é determinar quais são esses interesses comuns e qual é a melhor maneira de os servir. Deverá ser o Estado a fazer essa determinação? O Estado, é útil recordar, é representado por pessoas que sabem tanto do interesse comum como cada um de nós e que, por outro lado, também têm os seus interesses particulares.
Se respondermos que são os indivíduos, com os seus direitos inalienáveis, a tendência é para desvalorizarmos a acção colectiva que é essencial para desenvolver uma estratégia comum. Com cada um a remar para o seu lado, não vamos a lado nenhum.
O debate político está quase sempre polarizado em tornos destas duas visões distintas, a primazia do colectivo ou dos indivíduos. Nos extremos políticos estão os comunistas e os fascistas, que são colectivistas, e os libertários, que são individualistas.
A minha visão pessoal faz uma ponte entre estes dois extremos. Reconheço que o colectivo (a tribo, a nação, a espécie) é mais importante do que cada indivíduo particular*, mas entendo que o interesse comum, o Bem Comum, é melhor servido pela livre iniciativa do que pelas orientações de qualquer comité central, seja ele da extrema esquerda ou da extrema direita.
O Bem Comum, o sucesso do colectivo, para mim, é o resultado agregado da acção individual. Por isso defendo que o Estado deve ficar reduzido ao mínimo possível. A segurança interna e externa, as relações internacionais e a administração da justiça. Caberá ainda a um governo legítimo, a definição de uma estratégia nacional, a desenvolver pela iniciativa privada.
Todas as outras áreas em que o Estado está envolvido não me parece que sirvam os interesses do colectivo mas apenas os interesses particulares dos que dizem defender o interesse colectivo.

* Sob o ponto de vista biológico.

7 comentários:

Anónimo disse...

Joaquim,
A relação entre o indíviduo e o grupo é mais complexa ns seus resultados e mais simples na sua formulação-concepção.
Compreendo a sua "fé" na acção individual, mas a acção coletiva não é para excluír porque ela determina aquilo que hoje somos-socialização.
Para completar o sua ideia do último paragrafo sugiro Gramsci.
O Estado está e estgará nas mãos daselites e dos poderosos e nunca nas mão do Povo. São estas elites que paasitam o poder "delegado" pelo Povo nas eleições.

Anónimo disse...

Caro Paulo Sarnada,
Obrigado pelo seu comentário, neste dia de Natal. Eu não tenho fé na acção individual, como afirma.
O problema é que nada pode substituir o resultado agregado da acçãp humana.

Anónimo disse...

Bom Natal, Joaquim.
Interpretei-o mal.
Contudo, se fala de poder, o Estado é o resultado da acção colectiva na vertente política. Será o resultado, às vezes imprevisivel da acção colectiva.
Até pareço o Jerónimo....!!!
Fique bem. Agradeço os seus textos.
Estado minor ou maxi todos ajudaremos a decidir nem que seja por omissão.

marina disse...

a agregação das acções individuais racionais por vezes gera efeitos perversos não esperados..de aí que quem se atreve a governar deva ter muito "esperto na cabeça" para poder antecipar esses efeitos e por-lhes um travão. e é isso que não tem acontecido , às mais das vezes os cromos até têm agravado esses efeitos. o estado fomentou o endividamento geral , por exemplo , com juros bonificados e não exigindo um mínimo decente de entrada , tudo em prol dos seus amigos da banca e construção .

Ricciardi disse...

1º Existem muito poucos individuos sem uma nacionalidade (pais, nação, estado).
2º Os poucos que existem, lutam para se integrar numa comunidade ou fundar seu próprio país (curdos, os judeus antes de 1948, os palestinianos, etc)
3º A razão para as pessoas se associarem (em tribos, paises etc) assenta na ideia de protecção mutua.
4º Uma comunidade de pessoas tem regras de convivência aplicadas em forma de leis, tradições, etc
5º Para assegurar a manutenção e boa execução das leis e das tradições a comunidade precisa de pessoas que nomeia para o efeito (politicos) ou que, pelas suas caracteristicas, se impõem aos demais(o chefe da tribo, o rei, o ditador).
6º O individuo está para a comunidade, como o lobo está para alcateia. Um sem os outros não resiste.
7º Daí que cada um deva ter acesso aos proventos do esforço de todos e todos devem o seu poder ao bem estar de cada um.
8º Se cada um se puser a caçar sozinho não obtem boa carne, nem boa protecção, principalmente se os outros estiverem enfraquecidos.
9º Se todos estiverem fortes é sinal de que cada um está feliz com o que tem.
.
Rb

Filipe Silva disse...

1ºAs grandes guerras foram começadas exactamente por sentimentos nacionalistas, o apelo ao Ego, ao colocar as culpas no estrangeiro, é sempre a mesma coisa, hoje mete se a culpa da situação portuguesa na Alemanha.
2º Sim o sentimento estadista muito forte no mundo, as pessoas pensam que o Estado, a maquina burocrática é que os vai salvar.
3ºProtecção mútua seria em tempos passados, sou português mas não o sou por protecção mútua, sou porque aqui nasci, bem é que se for por isso convém mudar de país que nesse capitulo não resistíamos muito.
4º Sim a vida sempre foi e será feita de regras, de leis, de tradição.
5º O erro começa aqui pensar que os politicos sabem o que as pessoas de facto desejam é uma estupidez, e dar o poder total a uns de poder fazer leis que lhes bem apetece e lhes favorece a eles ou aos amigos foi o que nos trouxe aqui.
Não preciso de ninguém para dizer o que posso ou não fazer, há coisas que são legais de fazer que pela minha moral nunca farei, e outros que são ilegais e que pela minha moral faço sem problema.

5º que eu saiba o ser humano é um ser bem mais complexo que o lobo, apesar de o lobo ser um animal fascinante (tenho como pet um descendente um husky), o ser humano tem a capacidade do pensamento abstracto não se guia só pelo instinto.
Sim vivemos como nunca numa sociedade interdependente, nunca tivemos tão dependentes uns dos outros como hoje, mas esta deve e em grande parte o é por livre vontade, não por coacção.
Não devo ter acesso aos proventos do esforço dos outros se estes assim não o quiserem, e em certa medida é o que hoje temos, para ter acesso as batatas plantadas pelo agricultor tenho de lhe pagar o preço que este pede,
Como pode afirmar isso? a capacidade de inovação e de pensamento permite hoje por exemplo com um telemóvel fazer coisas que antes eram preciso dezenas de pessoas,

Como pode fazer uma afirmaçao como a ultima?

Continua a insistir no socialismo, as pessoas continuam a querer apostar no sistema que não funciona. Ou melhor funciona para uns e não para a maioria.

muja disse...

Joaquim, eu diria que uma nação é algo mais que uma tribo, não?

É com certeza bem diferente que uma espécie.
O bem colectivo da espécie nem se põe nesses termos. Já estou farto de lhe apontar que essa concepção não faz sentido à luz do neo-darwinismo. V. persiste, pois persista.

O bem comum é o bem da Nação. E a nação é a comunidade, do presente, do passado e do futuro. Comunidade essa que é indissociável de uma cultura única entre todas no mundo que é a sua, cuja coerência depende da língua, da religião, do folclore e do território, em linhas gerais. Se quiser, uma Nação é uma realidade humana que agrega todas estas coisas e forma algo único que é mais que a soma das partes.

Diz V. que o bem comum é o resultado agregado da acção individual. Ou seja, para si, o bem comum só existe no presente. Porque não há acção individual dos que morreram e dos que ainda não nasceram. Mas esses fazem parte da Nação.

Foi essa maneira de pensar a culpada por esta tragédia que vamos vivendo. Foi o pensar que se todos os indivíduos estivessem mais ou menos bem, tudo estaria mais ou menos bem. Esqueceram-se dos indíviduos que estavam para vir (e dos que já foram). Esses ainda não "estavam". E o que é que lhes aconteceu? Foram sacrificados. Dispendidos. Como não existiam para a cabeça dos individualistas (mesmo os pseudo-moderados como o Joaquim quer parecer), não foram tidos em conta. Tal como os de amanhã também não serão.

Pela sua óptica é legítimo sacrificar o presente dos que ainda não existem pelo presente dos que existem, porque isso é o Bem Comum. Pela minha, não é.

Uma Nação que apenas viva no presente é uma Nação condenada à irrelevância, à efemeridade, à inconsequência - em última análise, à não-existência. Tal e qual uma pessoa.