26 novembro 2012

refundar o Estado


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Our political system failed to live up to the severity of the situation when officials should have had the courage to stand up and insist that some bodies within the civil service and some employees are redundant and have to go, while others are doing an important job and should be paid better and protected.
This ineptitude is what led us to the mess we are in today. The director of a state hospital receives about 600 euros more than a doctor doing a residency, while the chief of the National Defense General Staff makes about that much more than a second lieutenant as well.
How can our state possibly function under such terms? How can it provide incentives so that people work hard and are rewarded for their efforts, and also claim responsible positions?
We are now faced with a double deadlock. On the one hand we failed to rebuild the state – and miserably at that. On the other, we have also managed to eradicate from the top of the pyramid every incentive that could encourage the reform of public administration, and have made enemies of doctors, teachers, university professors, police officers and other state workers simply because they cannot make ends meet on the money they get.
Ekathimerini

Comentário: Exactamente o que se passa em Portugal.

1 comentário:

muja disse...

Pois. Mas sabe que essa dos incentivos não cola.

É que no Estado Novo, por exemplo, também não existiam esses incentivos. Os ministros ganhavam bem menos sendo ministros do que exercendo as suas actividades profissionais (sim, porque ser ministro não é profissão!). Há vários casos que podem ser apontados de ministros que manifestavam vontade de sair porque tinham encargos que se tornavam difíceis de sustentar com o que recebiam de ordenado. Não se tratava de serem pobres, mas de ganharem muito menos do que poderiam ganhar se não fossem ministros. Marcello Caetano é um caso típico, mas havia mais.

Também não consta que, ao contrário de agora, enriquecessem substancialmente depois de serem ministros, sem serem ricos antes.

Portanto, tinha que haver outros incentivos. Aliás, não me espantaria que, se se for ver os casos dos países tomados como exemplares - escandinavos, por exemplo - se verifique coisa semelhante.

Então se os incentivos não eram esses, quais seriam? Aqui podemos articular a questão da inépcia, referida no texto, com a dos incentivos. Diz o escriba que é por inépcia que se não faz o que devia ser feito. Mas será? Bom, se uma qualquer pessoa consegue observar a inépcia, por supuesto que os responsáveis também conseguem. Que diabo, se são tão canhestros que não conseguem observá-lo por si próprios, só têm que abrir os jornais - que se supõe que leiam semanalmente, pelo menos.

Portanto a razão "inépcia" deixa também a desejar.

Então se não é incentivo nem inépcia, o que é? É interesse, evidentemente. O que devia ser feito, devia sê-lo por interesse. Interesse do país, da nação (ou nacional, se preferir), da colectividade. Das observações acima só se pode, portanto, concluir que não é esse interesse que prevalece. São outros. E porque são outros, são necessariamente mais obscuros. Que interesses são? Da obscuridade que os envolve, vislumbramos alguma coisa: partidos, lojas, compadrios, favorecimentos, lugares que se ganham, fortunas que se fazem, cabritos sem cabras. Vislumbramos todos estes aspectos sem se ver claramente o que os une uns aos outros, mas nem por isso estão menos evidentemente unidos. É toda uma teia pouco visível mas não menos real de interesses exclusivos do interesse nacional. Interesses que dividem, que separam, que antagonizam (explica-se assim a observação feita acerca da inimizade das várias corporações).

Não há o interesse unificador, conciliador, aplacador. Há apenas competição feroz e desmedida entre interesses. Há apenas a sobrevivência do mais forte. Com evidente prejuízo para o mais fraco.
Não passamos de danos colaterais das guerras de interesses. É esse o legado da democracia parlamentar.