27 novembro 2012

colectivismo


O Individualismo ‹‹é uma característica das sociedades com laços fracos entre os indivíduos: cada um assume a responsabilidade por olhar apenas por si próprio e pela sua família mais próxima. O Colectivismo, o oposto do individualismo, é uma característica das sociedades em que, desde o nascimento, os indivíduos são integrados em grupos fortes e coesos, que durante toda a vida os protegem em troca de uma lealdade absoluta›› — Hofstede (Cultures and Organizations, 2010).

Eu sou, de facto, um grande apreciador do Geert Hofstede, embora concorde com o PA que a sua análise das dimensões culturais é um bocado "trapalhona", a começar pela nomenclatura utilizada.
Quando o Hofstede se refere a Colectivismo, por exemplo, não utiliza o termo na sua definição corrente, refere-se à intensidade dos laços afectivos que integram o indivíduo na comunidade e à lealdade absoluta que se espera de cada um.
A minha leitura é que este conceito corresponde mais ao que consideraríamos um certo tribalismo do que ao que todos interpretamos como colectivismo.
A tribo primitiva caracteriza-se por uma distinta identidade cultural e/ou étnica, com fortes laços de lealdade entre os seus membros. O grau em que estas características sobrevivem numa sociedade contemporânea determina, portanto, a dimensão Individualista/ Colectivista — o chamado índice IND — dessa sociedade.
Hofstede sublinha que, na actualidade, as sociedades com grandes sectores rurais são mais "colectivistas" e que as sociedades mais industrializadas são mais individualistas. A sua interpretação, que coincide com a minha, é que a modernização é acompanhada por mais individualismo. A corroborar, de certo modo, este ponto de vista, Hofstede menciona que a riqueza de um país tem uma correlação directa com o IND (países mais ricos são mais individualistas).
Nos estudos de Hofstede, Portugal aparece quase sempre no grupo dos países latinos. Na tabela de cima, que correlaciona o IND com o Índice de Aversão à Incerteza, estamos no quadrante superior direito. Mesmo ao lado... da Grécia.

4 comentários:

João disse...

"A sua interpretação, que coincide com a minha, é que a modernização é acompanhada por mais individualismo."

Não é de admirar. Quando a organização social passa de tribo para Estado, as relações familiares que regem a sociedade tendem a desaparecer e a dar lugar a relações impessoais. Só assim é que se impede que o Estado seja corroído por dentro.

Nas primeiras dinastias chinesas observa-se exactamente isso. O reino de Qin criou uma máquina administrativa, altamente burocrática, onde a ascensão acontecia por mérito e não por relações familiares. Isto destruiu o poder da aristocracia, passando o poder efectivo para um soberano, com as devidas consequências na organização territorial, o que permitiu constituir vastos exércitos, unificando assim a China.

Outro fenómeno é o das religiões monoteístas, que destruíram o culto pelos ancestrais, implementando o culto a um Deus comum a todos.

Tenho para mim que é aqui que o PA falha quando caracteriza os nórdicos, atribuindo-lhes as causas da sua forma de ser ao protestantismo. Penso que terá muito mais a ver com a réstia de tribalismo que ainda lhes corre no sangue, onde a família tem precedência. Veja os Islandeses com a obsessão genealógica. Ou os escoceses com o culto pelos antepassados. Aqui entre nós isso é pancada aristocrática e de pouca relevância na forma de nos organizarmos.

Anónimo disse...

Caro João,
Obrigado pelo seu comentário. O Estado, na sua versão moderna de Estado de Direito, é pouco compatível com um IND baixo, porque os cidadãos estão mais predispostos a ajudar os amigos do que a cumprir a Lei.

Luís Lavoura disse...

O que se observa no quadro acima é que Portugal não tem uma mentalidade europeia mas sim latino-americana.

CCz disse...

Caro Joaquim,

Não desejando entrar em polémicas, até porque não conheço o trabalho de Hofstede, gostaria de salientar uma coisa que me faz confusão: estamos como comunidade lá em cima numa "strong uncertainty avoidance". Contudo, na vida real, nas empresas o que eu vejo é PMEs que vivem relativamente bem no meio da incerteza e mais, algumas só conseguem viver porque aproveitam a incerteza e desenrascam os clientes em tempo recorde e demonstram flexibilidade e agilidade.
.
E mais, num mundo cheio de certezas não tinham hipóteses, as encomendas iriam para a China.
.
Como é que traduz a uncertainty de Hofstede?