13 novembro 2012

assim é que é falar

A derrapagem nas receitas do Estado deve-se a ‹‹efeitos não lineares de natureza cíclica e/ou efeitos não discricionários›› — Carlos Costa

Comentário: Há quem pense que a economia é uma ciência exacta, como a matemática ou como a física. Não seria melhor afirmar, com mais humildade, que ‹‹a derrapagem nas receitas do Estado se deve a um erro de previsão››. Mesmo que exista mais evasão fiscal, é bem sabido que esta aumenta em relação directa com a carga fiscal e, portanto, até este problema devia ter sido considerado nas previsões económicas.

13 comentários:

Anónimo disse...

Boa... a linguagem do governador do BdP, deve-se
«a efeitos pouco lineares de natureza vai e vem e/ou efeitos não previsionários»
da sua Exma Carola.
Parece o Seabra de Sintra no DN.
Bm

Anónimo disse...

efeitos não lineares de natureza cíclica e/ou efeitos não discricionários

Em nome da estética de inteligências superiores.

VS

BLUESMILE disse...

Linguagem hermética para enganar os incautos.
E os outros que acham que a derrapagem da scontas do estado é culpa do sócrates...

David Jorge disse...

Só uma pequena reflexão: se a economia não é uma ciência exacta, mas a física é, e se a meteorologia pertence à física (penso eu), alguém me explica porque é que a previsão dos meteorologistas é parecida com a dos economistas???

CN disse...

É uma ciência sobre o que governa a acção humana como um teoria da escolha de acções, causas e efeitos, mas absolutamente não matemática.

Os modelos matemáticos e estatísticos não produzem conclusões obre causas e efeitos, limitam-se a usar dados históricos parciais, dependentes de medições como os preços e esperar a sua repetição. Não é uma questão de aperfeiçoamento dos modelos, é mesmo impossível modelos produzirem por si conclusões sobre leis económicas.

muja disse...

Não é nada impossível CN... Mas os modelos têm é de ser radicalmente diferentes e não podem ser elaborados apenas dentro da disciplina de economia.

Neste momento os modelos que existem são altamente limitados e simplistas. Mas isso também se prende muito com a relutância dos economistas em aceitar a validade de simulações computacionais vs. deduções e construções teóricas e fechamento em que se colocam em relação às outras disciplinas. A ciência computacional e a biologia terão provavelmente tanto para contribuir para a economia como todo o conhecimento económico acumulado até hoje. Provavelmente mais até.

--

A relação com a Física é curiosa. Porque se é verdade que a Física é considerada "exacta", na verdade e rigorosamente, não é. Para começar, existe uma incompatibilidade até ver irreconciliável entre a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica. Tal como se conhecem hoje, não podem as duas estar correctas. Muito embora ambas produzam resultados experimentais válidos. Há intensa actividade no sentido de conciliar as duas, e há algumas soluções candidatas, mas ainda nada de concreto se conseguiu.

Depois, a Física trata normalmente sistemas lineares, e é nesse sentido que é considerada exacta. A partir do momento em que se passa para sistemas não-lineares, a exactidão já não é tão evidente. Apenas recentemente se desenvolveu o aparelho matemático que permite tratar, com algum grau de sucesso, este tipo de problemas.
O clima é um sistema não-linear, tal como a economia, e neste sentido são semelhantes. Também são ambos sistemas complexos (no seu todo, possuem propriedades não evidentes nos, ou previsíveis a partir dos seus componentes individuais).

Para mais, a economia (e quiçá o clima, também) é um sistema complexo adaptativo. Significa isto que tanto as partes como o todo se alteram conforme novas circunstâncias (incluindo adaptações prévias do todo ou partes, que é o que os torna verdadeiramente interessantes - para mim, pelo menos) e exibem, muitas vezes, aquilo que apenas se poderá chamar auto-organização, ou seja, o sistema organiza-se sem um organizador e.g. colónias de formigas (que também são sistemas deste género).

A questão é que a maior parte dos economistas ignora de todo estes sistemas e nem está ao corrente de que existem e são estudados como tal. Não lhes passa pela cabeça estudar uma colónia de formigas ou o modelo de como se desencadeia um aplauso numa sala de espectáculos, por exemplo. Mas ambos estes exemplos têm mais que ver com economia do que 90% dos calhamaços de teorias sociais e econométricas onde eles enterram a cabeça... Se o fizessem, estariam então realmente a fazer ciência, ao invés de procurarem justificar com banha da cobra disfarçada de economês as suas preferências e afiliações políticas, que é o que fazem hoje em dia.

CN disse...

mujahedin7

A ciência económica é por natureza absolutamente impossível de modelizar e a matemática é totalmente inadequada para chegar a leis universais de economia, e construir conceitos que permitam compreender o fenómeno económico.

Dito isto, modelizar pode ser útil para estudos técnicos aplicados e estudar dados históricos.

CN disse...

Também podem ser usados para tentar prever com baseado no pressuposto de comportamento passado com n variáveis repetir-se, mas nada num modelo permite concluir que se A -> B, como quem diz que é verdade universal que A -> B.

Isso só a lógica aplicada a escolha humana restringida pelas leis da natureza do tempo, recursos escassos, preferências que mudam e não são mensuráveis, etc.

marina disse...

um bocadinho burros , lineares ou não , efeitos de "natureza cíclica" , como as marés :)) devem ser possíveis de prever , digo eu.

muja disse...

Ó CN, mas como é que V. sabe que é absolutamente impossível??

E também escreve que nada num modelo permite concluir que dado A, se obtém B.
Bom, em última análise, isso é verdade para qualquer modelo, seja ele qual for.

Mas isso já é mais do domínio da filosofia. De facto, ninguém pode ter a certeza absoluta de que a realidade vai obedecer à previsão de uma modelo seja ele qual for...

CN disse...

As pessoas não são robots, têm livre arbítrio e mudam preferências e acima de tudo é impossível prever que conhecimento um conjunto de pessoas vai ter num momento futuro e ainda menos prever que comportamento perante esse (ou qualquer outro) novo conhecimento. Incluindo o conhecimento que retiram de esse tal de modelo ser feito que introduzirá uma mudança de comportamentos dado passarem a ter esse conhecimento.

E falta a questão de medir coisas, como preços ou utilidades. As pessoas não medem coisas, quando agem exercem preferências ordinais entre A e B, ou entre A, B, e C e não quando preferem A a B, e naquele momento.

Assim sendo é impossível modelizar porque implica medir (cardinal). Coisa impossível.

CN disse...

"não QUANTO preferem A a B, e naquele momento."

Ou seja

Observando a acção das pessoas só poderemos saber que entre A B e C determinada pessoa prefere B a A e a C. Não quanto prefere A em relação a B e a C.

BLUESMILE disse...

Parece-me mais a sismologia. Muita teoria e modelo matemático mas zero possibildades de prever terramotos.
E depois a sua merkhle dis que atreta da economia é afinal para psiccologia. Pura adivinhação.