05 outubro 2012
anomalias culturais 2
Hofstede identificou um conjunto de dimensões culturais que estão presentes em todas as sociedades, que são universais.
Estas “dimensões culturais” são elementos da cultura que nos são inculcados desde a nascença, repetidos até à exaustão e que se tornam, por assim dizer, automatizados no nosso comportamento. São subconscientes ou até inconscientes.
A dimensão Individualismo/ Colectivismo, por exemplo, determina o grau de ligação afectiva e de lealdade aos grupos a que pertencemos. Portugal é um país que Hofstede define como colectivista, pelos fortes laços que nos unem à família e aos amigos e pela lealdade que lhes dedicamos.
A experiência de vida ensina-nos, porém, que não podemos ignorar, nem negligenciar, o polo oposto das dimensões culturais que caracterizam a sociedade em que nascemos e fomos educados. Se não fizermos um esforço racional por considerar algumas opções que estão nos antípodas da nossa cultura, podemos estar condenados ao fracasso. Especialmente em fases de mudança, como a que atravessamos atualmente.
Os milhares de jovens que emigraram nos últimos anos tiveram que abandonar a zona de conforto do seu colectivismo e prosseguir um individualismo mais racional do que afectivo.
É possível, portanto, que para cada dimensão cultural, sedimentada no nosso inconsciente ou subconsciente, se projete no nosso consciente a possibilidade do polo oposto dessa mesma dimensão. Com a diferença de que a dimensão cultural nativa terá, necessariamente, uma carga afectiva que não está presente na projeção consciente, que é de natureza apenas racional.
Esta hipótese, poderia explicar algumas aparentes anomalias culturais. Porque é que numa sociedade com um enorme “Distanciamento ao Poder” estamos sempre a invocar a democracia? Porque é que passamos a vida a discutir ideias, quando damos valor é às pessoas?
Do mesmo modo, esta hipótese explicaria porque é que num país de tradição anglo-saxónica, como os EUA, que valoriza mais as ideias do que as pessoas, se discute mais a personalidade dos protagonistas das ideias do que as ideias em si, como realcei neste post.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Gostaria de deixar um caminho lateral, não essencial para o tema em questão: até que ponto o individualismo da geração jovem que está a partir não é já ligeiramente mais racional? São conhecidos os relatos que os envios de remessas são reduzidos em relação à geração dos pais e avós, e há o desejo consciente de fazer vida noutro lado, e não de acumular para regressar. Será o produto de prevalência de valores protestantes nos ultimos 40 anos? Ou apenas fachada?
Enviar um comentário