19 agosto 2012

é perigoso racionalizar

No mosteiro de São Domingos existe uma capela, chamada de Jesus, e nela há um Crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que deram foros de milagre, embora os que se encontravam na igreja julgassem o contrário. Destes, um Cristão-novo julgou ver, somente, uma candeia acesa ao lado da imagem de Jesus. Ouvindo isto, alguns homens de baixa condição arrastaram-no pelos cabelos, para fora da igreja, e mataram-no e queimaram logo o corpo no Rossio.
Damião de Góis, descrevendo acontecimentos ocorridos em Lisboa a 19 de Abril de 1506

É muito perigoso usar a razão e a lógica com a populaça. No fundo, quando recorremos a argumentos lógicos acabamos por exercer uma forma de autoridade que minimiza a opinião de terceiros, gerando conflitos e agressividade.
As pessoas mais inteligentes não discutem com o povo, quando muito usam parábolas.

7 comentários:

zazie disse...

O texto do Gaspar Correia é mais preciso e é coevo

http://cocanha.blogspot.pt/2006/04/matana-dos-judeos-em-lisboa.html

Anónimo disse...

Hola Zazie,
:-)

muja disse...

Oh, ó Joaquim, francamente...

É perigoso é contrariar uma multidão de pessoas fixadas na mesma ideia, sobretudo se se for diferente da maioria que a compõe.

Ou acha que se o tal cristão-novo se pusesse a arengar que o Santo António lhe apareceu a ele e lhe disse que aquilo não era milagre, o não matavam ali na mesma, muito embora ele não usasse nem lógica nem razão?

E diz V. que as pessoas inteligentes não discutem com o povo. Bom, não discutem com o povo todo ao mesmo tempo, isso não. Até pela impraticabilidade da coisa. E também depende do que se considera discutir.

Um orador brilhante sabe à partida que objecções o povo lhe vai levantar ao discurso, e fá-lo já incluindo nele os contra-argumentos que respondem às objecções. Portanto, pode considerar-se que um orador brilhante discute com o povo, muito embora a discussão seja feita em forma de monólogo, vá.

Mas também não deixa de ser verdade que é necessário adaptar o discurso a quem o ouve. Todos os grandes oradores o fizeram e nenhum o pode ser sem o fazer. Mas essa adaptação passa mais por usar uma linguagem mais simples, ou apelar mais ou menos a determinadas emoções, por exemplo. No fundo, é o manipular de forma hábil a dinâmica do ethos, pathos e logos, no discurso. Mas o logos lá está, e é essencial. E desengane-se se pensa que o povo o não compreende. Até a coisa mais complexa pode ser explicada por linguagem simples.

Fernanda Viegas disse...

"As pessoas mais inteligentes não discutem com o povo..." usam o povo e arranjam bodes expiatórios para alimentar a ignorância desse mesmo povo.

Vivendi disse...

O problema é quando só se agrada o povo com discursos socialistas. Do racional passa-se ao emocional, pura utopia e cara.

Anónimo disse...

Bem, essa cena é interessante, nao para nao discutir com o povo, mas sim para demosntrar a necessidade em acreditar. Na fé. Principalmente numa altura de crise. O caso aconteceu quando a populacao estava a ser dizimada pela pesta. As elites endinheiradas já tinham saido de lisboa, resgardando-se longe do foco da doenca. O povo estava a passar mal. A unica esperanca era o milagre dda Nossa Senhora que todos pareciam ver, excepto o judeu. Cá para mim a alienacao colectiva era tao forte que um desmancha prazeres tinha que ser afastado. No caso foi morto, linchado.
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A coisa só comecou a tomar contornos graves quando associaram o descrente ao facto de ser judeu convertido. Nessa altura todos os judeus passaram a ser impecilhos ao potencial milagre. Vai daí andaram à caca, rua a rua, casa a casa, de gajos de familias judaicas. O tal massacre de Lisboa.
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Compreendo bem as massas em furia. Levam tdo à frente.
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É bom tomar medidas antecipadas para nao chegar a esse ponto.
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A licao dessa estoria, para mim, é que as massas sao irracionais. Qando tomam um caminho levam tdo à frente.
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Rb

Anónimo disse...

Nestas alturas tudo pode acontecer. No outro dia estava na FNAC e senti uma coisa estranha no povo. A astrologa Maia estava lá para fazer o lancamento do novo livro. A autografar e tal. Juntou-se ali o povo à vola dela. Eu estava a ver a coisa lá no meio, feito burro. A Maia perguntou se havia pessoas que quisessem fazer perguntas acerca do livro. E surgiram em cadeia umas 20 perguntas. Ha primeira a maia dizia que nao tinha as cartas com ela, que a sua presenca era só para responder a cenas do livro. As perguntas seguintes foram esclarecedoras... Ninguem perguntou nada acerca do livro. Alias ninguem co prou o livro. As cenas que vi ate me chocaram. As pessoas desataram a chorar. A perguntar se o filho se ia safar disto e daquilo. A maia repetia que nao podia dar as cartas. O povo continuava aflito a perguntar coisas da vida. Uma delas estava num estado tal que a Maia teve de lhe dar o contacto para le fazer uma consulta mais tarde.
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Ora, se eu ali no meio, resolvesse dizer que a Maia era uma charlatã, tenho a impressao que me linchavam. A serio. O povo está mesmo aflito. Estamos numa altura propicia a grandes acontecimentos. Acho eu.
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A ignicao pode ser qualquer coisa.
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Eu agora que estou por Portugal ha mais tempo, vou vendo o real estado das coisas. A miseria é mesmo assustadora. Ha pessoas insuspeitas que ja nao tem luz e agua em casa.
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Nao sei aonde isto vai parar, mas é bom que se saia rapidamente deste caminho.
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Preocupa-me ma coisa. Os partidarios da austeridade intensa e discricionaria, muitos deles das alas libeais, tem vindo a falar muito em revolucao. Que é preciso revolucionar o pais. Transformar a economia Com um esfregar de olhos. Dizem até que o milagre está a acontecer.
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Ora, quando esta gente comeca a falar assim, em revolucoes economicas e sociais, fazem-me lembrar os revolucionarios comunistas. Estou convencido que estes novos revolucionarios liberais vao ter o mesmo exito e destino dos entao revolucionarios comunistas.
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Rb

Rb