22 julho 2012

um historiador milenarista III

Um dos caracteres mais marcantes da passagem do milénio é a crise dos valores indiscutíveis, aceites e respeitados pela sociedade ou mesmo marcados pela sacralidade. Recordemos que a "modernidade" se tornou o sistema dominante da concepção do mundo na Europa e na América desde o triunfo do iluminismo, na segunda metade do século XVIII. Passou a conceber-se a evolução da Humanidade como um processo que exclui a irracionalidade (1) das concepções anteriores e assegura o triunfo progressivo da razão. O homem tornou-se o construtor exclusivo do seu próprio destino (2). Ora a razão é tendencialmente "totalizante" (3). Encara a Humanidade como um todo e os princípios de interpretação do mundo como universalmente válidos (4). Considera os eventuais insucessos das suas acções como provisórios e ultrapassáveis. Daí a tendência para a apropriação do poder capaz de vencer todas as resistências, e a exclusão de soluções parciais. Se o melhor regime político é a democracia, é preciso impô-la a todos os países e civilizações (5).
Ora a exclusividade do princípio racional e totalizante implica a recusa de qualquer postulado transcendental ou absoluto, como aqueles em que se apoiavam os sistemas de valores antigos e medievais, e ignora ou combate a sua justificação como valores sagrados. Deixaram de ser incontestáveis (6). O respeito pela pessoa humana, pela sua autonomia e pela sua liberdade, a prevalência do direito comum sobre o direito individual, o respeito pela vida e pela natureza, o respeito pela autoridade legítima existem em todas as civilizações, de uma forma ou de outra. São o fundamento da vida social e a salvaguarda contra a arbitrariedade e o uso discricionário da força (7). Por isso eram considerados como princípios sagrados. Mas a prevalência da razão, a igualdade universal, e a exclusão do transcendental não eram compatíveis com a noção de sacralidade. A globalização veio fechar ainda mais o horizonte, ao tornar a recusa da sacralidade dos valores como um princípio sem retorno (8).
José Mattoso, Levantar o Céu - 2012


Neste texto do seu mais recente livro, JM brinda-nos com um arrazoado de conceitos que primam, acima de tudo, pela incoerência total. Permitam-me que aborde apenas sumariamente algumas questões que a respectiva leitura suscita:

1) Claro que a razão é o principal instrumento de sobrevivência humana (Ayn Rand). E o único meio de atingirmos o conhecimento. Aceitar a racionalidade  é um imperativo absoluto.

2) O homem aspira a ser dono do seu próprio destino, tanto quanto a natureza humana permite.

3) Afirmar que a razão é tendencialmente "totalizante" (entre aspas?) significa o quê? A razão é um instrumento, apenas um instrumento.

4) Afirmação desprovida de sentido.

5) Princípio profundamente irracional.

6) e 7) Parece que a vida, a liberdade, a propriedade e o direito à procura da felicidade estavam mais protegidos na idade média. Patético.

8) Outra afirmação não fundamentada.

Enfim, eis a "sabedoria tuga" no seu melhor.

60 comentários:

zazie disse...

Bem, assino por baixo tudo o que o Mattoso escreveu.

Se quiser, vá ao Dragoscópio e leia a conversa que por lá tivemos literalmente acerca do mesmo assunto.

A Rand, como o Dragão também disse, é uma mentecapta (ele chamou-lhe outra coisa)

zazie disse...

Aqui:

http://www.blogger.com/comment.g?blogID=6223861&postID=3505533428889968137&isPopup=true

zazie disse...

Mas tem piada a sua leitura.

Serve para ilustrar o que eu disse no Dragoscópio: os neontontos são filhos das luzes e foi esse racionalismo utilitário que terminou com a visão católica do mundo.

E sim, essa era perfeita.

muja disse...

‹‹Perfeita›› será, talvez, um exagero...

Pedro Sá disse...

O Joaquim e a Zazie não perceberam rigorosamente nada do que está escrito. José Mattoso não está a fazer nenhuma consideração, está a descrever o processo decorrente do iluminismo.

Fernanda Viegas disse...

Ainda não li o livro do Mattoso, mas estou com o dr Joaquim e neste caso com a Ayn Rand.A razão como principal instrumento de sobrevivência humana.

zazie disse...

O que é que eu não percebi, ó Pedro Sá?

Outra coisa: v.s acaso sabem o que se entende por razão?

é que eu não posso acreditar que imaginem que na Idade Média ou no final do séc. XIX, quando o racionalismo é posto em causa, as pessoas tenham passado a ser irracionais.

Luzes da Razão= divinização da Razão humana como forma de alcançar e entender tudo.

De fora fica aquilo que era o Logos da Antiguidade e que no final do séc. XIX vai ser recuperado como "as razões que a razão não entende".

Sabem em que consiste a Origem da Tragédia de Nietzsche?

É que consiste precisamente na desmontagem deste dogma racionalista.

zazie disse...

Mas conta lá então o que é que eu não percebi desta passagem e tu alcançaste, ó Pedro Sá.

Eu não li o livro, mas ainda entendo português. Coisa que cada vez menos gente entende.

Se quiseres traduzo-te a passagem do Mattoso. Entretanto, traduz-me tu aquilo que leste e que tens a certeza que eu não entendi

zazie disse...

(by the way: "temos a arte para não morrermos da verdade"- frase do Nietzsche...)

eheheh

E a ideia é mesmo essa- a Verdade científica não existe mas pode matar se nos deixarmos sufocar por ela)

zazie disse...

O PA, por acaso, chegou lá. Demorou mas, a dada altura, entendeu que a Razão kantiana é um prolongamento desse dogma racionalista que excluiu muita coisa.

E tem por aí posts acerca disto.

Aliás, tivemos até um debate bem agradável a propósito da Razão e do Logos clássico que o Ratzinger recuperou e referiu nas palestras na Alemanha.

Foi o primeiro debate acerca do Kant (o primeiro sem ser anormalidade).

zazie disse...

Muja: perfeita enquanto "arquitectura ideal".

zazie disse...

E era tão perfeita, enquanto "design" que era utópica.

Foi esse o sentido do que falámos no Dragoscópio.

Por isso é que o racionalismo já aparece no final da Idade Média e nasce da escolástica.

zazie disse...

> «Recordemos que a "modernidade" se tornou o sistema dominante da concepção do mundo na Europa e na América desde o triunfo do iluminismo, na segunda metade do século XVIII. Passou a conceber-se a evolução da Humanidade como um processo que exclui a irracionalidade (1) das concepções anteriores e assegura o triunfo progressivo da razão»
Sim- é do movimento das Luzes que nascem os sistemas políticos racionalistas, tão mecânicos quanto a mecânica de Newton que também tinha encontrado a "chave do universo"

> «O homem tornou-se o construtor exclusivo do seu próprio destino (2).»

- Sim, o indivíduo é livre e deixa de estar sujeito a Deus (ou à moira clássica)- pode ser feliz na Terra se dominar as leis que a governam- cópia da fé científica na descoberta e domínio do Mundo
E o resto segue por aí- o que o Mattoso está a dizer é que a Modernidade matou Deus e colocou a Razão no seu lugar.

Nada de novo. Foi mesmo assim.
(se quiseres posso explicar-te o resto, mas entretanto aguardo pela tua explicação daquilo que não percebi patavina)

zazie disse...

O racionalismo tem antecedentes cartesianos, na Filosofia e outros mecanicistas na Física.

Do Homem Máquina do La Mettrie ao Leviathan do Hobbes vai um pulinho.

Eles naturalizaram a política, depois de arredarem Deus do caminho e transformaram a Civitas numa gigantesca máquina a funcionar de forma perfeita, se lhes aplicassem utopias sociais materialistas e mecanicistas.

Foi daqui que saíram todos os sistemas totalizantes- incluindo o marxismo leninismo- o comunismo que era electricidade de todos os sovietes (como dizia Lenine)

zazie disse...

O liberalismo é outro fruto das luzes. É a outra face da mesma moeda materialista e determinista, baseada na fezada das leis da economia.

zazie disse...

>« Ora a razão é tendencialmente "totalizante" (3). Encara a Humanidade como um todo e os princípios de interpretação do mundo como universalmente válidos (4)»

Sim, fora dos sistemas racionalistas não existe nada, porque tudo é reduzido a lei mecânica. As leis científicas são universais, logo faz-se o mesmo para tudo, incluindo para os projectos políticos.
A democracia também aparece como o milagre europeu e, ainda há pouco se andou a exportá-la à bomba para o terceiro-mundo.

O Napoleão também julgava que o Ocidente tinha atingido o topo da evolução e por isso invadiu o resto do mundo para lhes dar a mesma receita (mesmo que a não tivessem pedido)

zazie disse...

>«Ora a exclusividade do princípio racional e totalizante implica a recusa de qualquer postulado transcendental ou absoluto, como aqueles em que se apoiavam os sistemas de valores antigos e medievais, e ignora ou combate a sua justificação como valores sagrados. Deixaram de ser incontestáveis (6»

- É a Verdade da lei científica- desaparece o sagrado e o mistério- temos explicação para tudo.- E, quando não a temos, temos a revolta porque devíamos ter.

zazie disse...

« O respeito pela pessoa humana, pela sua autonomia e pela sua liberdade, a prevalência do direito comum sobre o direito individual, o respeito pela vida e pela natureza, o respeito pela autoridade legítima existem em todas as civilizações, de uma forma ou de outra. São o fundamento da vida social e a salvaguarda contra a arbitrariedade e o uso discricionário da força (7). »

Quando desaparece o "rebanho de Deus" fica o Homem divinizado, capaz de o substituir. Daí ao Tirano ou ao Estado Tirano vai um passo.

Acima deles nada existe.

zazie disse...

«Por isso eram considerados como princípios sagrados. Mas a prevalência da razão, a igualdade universal, e a exclusão do transcendental não eram compatíveis com a noção de sacralidade. A globalização veio fechar ainda mais o horizonte, ao tornar a recusa da sacralidade dos valores como um princípio sem retorno (8).»

Pois eram considerados sagrados. Quando deixaram de o ser, o Bem Comum desaparece so a capa de utilitarismo individual.

Ao desaparecer o que unia as pessoas, o que lhes dava sentido- mata-se a tradição e coloca-se no seu lugar a arbitrariedade da lei e do Poder.

:::::::::::

O Democrito disse isto de outra maneira muito engraçada. Dizia ele que mais valia estar sujeito aos deuses que ao determinismo científico.

E escreveu isto a propósito da noção de clinamen.

O Marx também pegou nela (na noção de clinamen- desvio por acaso) para retirar o determinismo divino e ficou com o determinismo científico ou o acaso revolucionário da luta de classes.

zazie disse...

O Joaquim devia ter cuidado quando se mete a fazer filosofia de tasca porque "sabedoria tuga no seu melhor" foi a palhaçada que escreveu.

zazie disse...

Dilema de Epicuro- o que pode ser o sentido da liberdade humana num mundo determinístico de átomos-

«A nossa vontade é autónoma e independente e, por esse motivo, as nossas acções merecem louvor ou desaprovação. Assim, de modo a manter a nossa liberdade, teria sido melhor permanecer ligado à crença nos deuses em lugar de ser escravos do destino dos físicos: o primeiro dá-nos a esperança de ganhar a benevolência das divindades, através da promessa e de sacrifícios; pelo contrário, o segundo traz consigo uma necessidade inescapável»

Carta de Epicuro a Meneceus

zazie disse...

O racionalismo a que o Mattoso se refere é também este de Leibniz:

Os olhos como apêndices como os de Deus, podiam ler todas as coisas do universo- , "quae sint, quae fyerint, quae mox futura trahantur"

Fernanda Viegas disse...

Zazie de uma forma ou de outra tudo é posto em causa ao longo do tempo. O que hoje nos parece certo, amanhã apresenta efeitos nefastos. A discussão mais honesta que se pode ter em relação ao assunto, é mesmo e só a filosófica e essa não é de todo para todos. O resto são meras opiniões. Quase toda a gente tem uma opinião sobre um assunto, mas não é quase toda a gente que sabe discutir o assunto.

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

Pois será. Mas o Mattoso não é nenhum imbecil nem intelectual de pacotilha.

O que ele escreveu não é nenhum disparate.

(por acaso foi meu professor duas vezes, em 2 facs diferentes)

O problema é que estas coisas não se podem traduzir por linguagem quotidiana.

O conceito de Razão não se traduz por "racionalidade" onde o oposto seria "imbecilidade irracional" como o Joaquim escreveu.

Fernanda Viegas disse...

Eu gosto muito do Mattoso e também não o considero nenhum idiota. Fiquei com muita vontade de ler o livro.

zazie disse...

Por acaso, também. É verdade, acho que vou comprar ehehehe

O facto dele ser palerma politicamente não quer dizer mais do que isso.

É excelente historiador e um grande medievalista.

muja disse...

Mas a prevalência da razão, a igualdade universal, e a exclusão do transcendental não eram compatíveis com a noção de sacralidade

Há aqui uma grande confusão. Intencional ou não, não sei. Mas há.

Nenhum destes três conceitos está relacionado entre si de um ponto de vista racional. Seja qual for a definição de razão. A prevalência da razão é um tautologismo. A razão prevalece sempre na interpretação humana de tudo, incluindo do divino (a raíz latina de interpretar é, entre outras esclarecer, explicar).

A igualdade universal, nem percebo o que isso é. Como pode a igualdade universal ser de alguma forma diferente da desigualdade universal? É política disfarçada de filosofia, portanto, para enganar papalvos.

A transcendência - e aqui suponho que se queira dizer, a transcendência em relação ao Universo i.e. a realidade - não tem lógica. Se não é real não nos pode afectar. Se nos afecta, é realidade. Não percebo qual é a dúvida. Outro tautologismo.

A afirmação da sacralidade, é perfeitamente idiota. A razão exclui tanto a sacralidade como exclui a arte. Que aliás, andam de mãos dadas. Ora não exclui coisíssima nenhuma, antes pelo contrário.

Eu penso que a confusão reside no que é entendido por razão. É lógico que se se vai pelo que gente como Rand diz, não se chega a lado nenhum. Aquilo não é filosofia, é política. Disfarçada de tal, para melhor enganar papalvos. É propaganda - no pior sentido do termo -para intelectual. Para convencer o intelectual - já deficientemente formado pelas escolas modernas - de que o capitalismo internacional, suportado pelas democracias parlamentares. é o único sistema racional. Ora isto não tem qualquer cabimento. E a prova está na Natureza de que fazemos parte, muito embora procuremos negá-lo a todo o momento. A única perspectiva racional é a da integração na Natureza, ou melhor dizendo, o parar de lutar contra ela. Ora o capitalismo internacional leva precisamente ao contrário: a exploração irracional do que é entendido como recursos naturais. Que é o mesmo que a exploração de nós próprios, porque nós somos parte da Natureza. E não é surpreendente, portanto, que a par da exploração da Natureza venha a exploração do Homem, pois que são ambas a mesma e exacta coisa. Se alguma coisa, o capitalismo internacional é uma forma primitiva de parasita, daqueles que, desprovidos de razão, parasita o hospedeiro até o matar e, como consequência, matando-se a si mesmo.

Se há coisa pela qual o capitalismo internacional e todas as elucubrações que congemina se distinguem, é pela irracionalidade absoluta de negarem a própria natureza do Homem que não é outra que a da própria Natureza.

muja disse...

Já sei que a Zazie vai discordar. Mas a visão católica do jardim zoológico que existe para a gente tomar conta dele não me convence e não acho que seja a única nem a melhor forma de sacralizar a Natureza. Nesse aspecto acho o paganismo muito melhor. A Natureza é sagrada porque somos nós. Nós somos parte dela. Toda a ameaça a ela, é ameaça a nós. Toda a ameaça a nós, é ameaça a ela. Aliás, acho que os pagãos compreendiam isso muito melhor e não é coincidência nenhuma que a tradição católica tenha incorporado, na práctica, inúmeros elementos pagãos de importância longe de negligenciável - o fenómeno dos santos, que tem menos que ver com os apóstolos do que com divindades pagãs locais, o próprio solstício de inverno, era a principal festa pagã e continuou a sê-lo. Mas a incorporação teórica for deficiente. O protestantismo aboliu tudo isso e talvez (pessoalmente, diria provavelmente) por isso tenha dado origem a uma parte, pelo menos, desse fenómeno perfeitamente irracional de uma Natureza que se auto-parasita até à morte.

Eu não ficaria surpreendido se na verdadeira origem do protestantismo não esteja essa deficiente incorporação teórica dos princípios naturais pagãos no catolicismo, provavelmente por razões políticas e de poder, cujos conflitos marcaram sempre a história católica - o domínio do divino vs. do temporal, o papa vs. o imperador.
É necessário não esquecer que as religiões monoteístas são, exclusivamente, religiões do deserto. A natureza em se deram as suas géneses é, ao olhos humanos, extremamente diferente da que deu origem aos diversos cultos pagãos europeus. Muito poderia ser dito acerca disto, mas vou só apresentar mais um argumento. A palavra de Cristo. A palavra de Cristo é-nos dada pelos quatro evangelhos sancionados pela Igreja Católica. Mas existem outros textos, e nada nos garante que aqueles é que estavam certos e seriam os mais fiáveis. E outros textos são muito mais pagãos na maneira como encaram a natureza e nosso papel nela do que os quatro oficiais. Não será de descartar que a mensagem original de Jesus da Galileia fosse uma de paganização da religião do deserto que é o judaísmo, e não o inverso como depois veio a ser, sobretudo por obra de Paulo de Tarso, obra esta que teve tanto de política como de divino, ou não fosse ele judeu filisteu. Mesmo nos textos sancionados é possível fazer interpretações neste sentido das palavras de Jesus.

zazie disse...

Muja: estuda primeiro e depois conversamos.

muja disse...

Em suma, aquilo que Vs. dizem ser o produto da razão, não o é. É, sim, o produto da anti-razão. Da irracionalidade pura, de cujo conceito não há melhor exemplo do que a negação da própria natureza, daquilo que se é. Por outras palavras, do nihilismo que tanto caracteriza a visão do mundo que hoje impera.

zazie disse...

Eu estranho v.s nem saberem estas coisas que dantes se estudavam no 12º ano.

Mas enfim. Já ninguém sabe o que significa o racionalismo, as luzes, o positivismo e por aí fora.

E nem entendo como poderão (mesmo no caso de serem de Ciências) entender o relativismo científico da física moderna.

Vivem no século XVIII. E usam a palavra Razão como tradução de "pensamento".

É por estas e por outras que eu, às vezes, penso que nem artisticamente posso falar destas coisas.

Porque existem gerações que estão a zero.

Eu, aos 17 anos já sabia isto. Não é por nada, nem foi programa escolar, foi mera curiosidade e conversas de café.

Sabia perfeitamente explicar o iluminismo.

Eu nem sei como é que v.s entendem o surrealismo, ou mesmo a psicanálise, ou o desconstrutivismo artístico se ainda vivem no século XVIII e têm medo de ficarem beatos ou imbecis se perceberem que houve outras formas de entender o mundo que não eram iluministas nem tinham a Razão como dogma único de alcançar a verdade e entender tudo.

muja disse...

Muja: estuda primeiro e depois conversamos.

Não está a ser justa. Quer dizer, dá conversa aí às aves que vêm arengar e cuja intenção é só destabilizar.

A mim, que efectivamente quero discutir e falar seriamente das coisas, manda-me ir estudar. Ora porra...

Começo-me a sentir solidário com o Relvas...

zazie disse...

Aliás, o meu pimpolho é todo científico e aos 20 e poucos aninhos decidiu estudar Filosofia precisamente por lidar com Física Quântica

Até foi antes- foi ainda na licenciatura que chegou lá porque estas questões colocam-se a quem pense os seus próprios saberes.

zazie disse...

Não dou nada.

Vou fazer argamassa e trabalhar nas obras. Logo volto cá.

Mas a sério. O José costuma usar uma expressão catigta que resume o que eu lhe disse:

"Se não sabe porque pergunta".

É que, para haver diálogo, acerca de um determinado assunto, é necessário que os interlocutores saibam do que vão falar.

Ora v. nem isso sabe. Portanto, convinha primeiro inteirar-se da questão e depois sim, podemos dialogar e v. pode até encontrar argumentos para a rebater.

Mas assim não é nada. O assunto é alhos e v. fala de bugalhos e com exemplos particulares (já o Joaquim faz sempre o mesmo) quando estamos a falar de teorias, de generalizações, de balanços civilizacionais, que nunca se explicam caso a caso, por aplicação prática sabe-se lá a qu~e.

Esse é um vício que a Filosofia tira em 3 tempos.

muja disse...

"Se não sabe porque pergunta"

Pergunto porque quero saber, home essa agora!

Mas rais ma partam se não vou ler essa tralha toda! E então depois falaremos.

De qualquer forma, seja lá o que for a razão para si ou para os filósofos, mantenho que estas teorias da treta internacional-capitalista não têm lógica nenhuma.
E também mantenho que o catolicismo é imperfeito. E aqui sei do que falo. Posso não saber lá o que disse o S. Tomás de Aquino ou S. Agostinho, mas sei aquilo a que deu origem. E é longe de ser perfeito. É muito melhor que as tonterias que por aí há hoje em dia, mas não é perfeito.

E também mantenho tudo o que disse em relação à Natureza. Qualquer sistema de pensamento ou visão do mundo que leve a um conflito Homem vs. Natureza é irracional e não presta porque nega a própria natureza do homem. Recuso-me a aceitá-lo, venha quem vier, seja que padilha de filósofos, teólogos ou banqueiros for que a venha pregar.

zazie disse...

V. quer saber o quê?

É que isso que escreveu era o mesmo que eu dizer que queria debater teoria de gerbes ainda que nem soubesse fazer uma raiz quadrada ou resolver uma equação.

Tem de saber as bases para entender o tema acerca do qual quer fazer perguntas.

Mas, até disse aí 2 coisas que se podem responder de forma rápida:

1- Estamos a falar do Ocidente- o iluminismo e seus efeitos, no Ocidente.

2- Acerca da dessacralização para lá do Ocidente, o Mattoso até refere uma questão pertinente- a globalização.

É verdade- é mais uma forma de terraplanagem feita à medida de esquemas racionalistas onde vão à vida outras representações do mundo que nem tinham de ser cristãs ou a base de tradição ocidental.

zazie disse...

V. fala em catolicismo. O Mattoso falou de um civilização medieval que tinha por base o catolicismo.

São coisas diferentes. Como é que quer conversar se nem estas nuances entende.

V. não sabe o que são representações civilizacionais?

Não entende que seja necessário procurar-se um apanhado cultural de épocas históricas?

É que é disso que se trata. E o iluminismo, ao contrário do que o Pedro Sá julga não nasceu de geração espontânea.

é preciso entender o que foi antes e o que ele pretendeu substituir para podermos saber de que falamos.

Estas coisas até se aprendem na literatura.

Acho eu.
Mas já não digo nada. Parece que houve uma regressão mental e as pessoas já só conseguem falar como os jornais- de casos- de notícias, particulares.

zazie disse...

Olhe, é isso. O mal dos nossos tempos é que se substituiu a Filosofia pelo Marketing e a História pelo Noticiário.

zazie disse...

E o Joaquim também lê estas coisas como quem faz zapping.

Nunca consegue entender os milhares de livros que lê durante a noite

ahahahaha

zazie disse...

Quanto a Natureza- é outra noção que v. não entendeu no contexto.

Veja aqui, para ter uma ideia de como as coisas mudam:

http://cocanha.blogspot.pt/2007/01/os-gigantes-de-jardim.html


(olhe, lembrei-me de uma frase do Popper - e nem é por ser dele- que tem a sua piada.

Dizia ele a propósito da "natureza e da "razão" que conhece o mundo- dantes, uma nuvem era um relógio- hoje, um relógio é uma nuvem)

O dantes- significa o positivismo científico/racionalista. Da tal Razão que tudo decifrava.

zazie disse...

Olha, mas, a brincar, fica aqui uma ideia, a propósito da tal "Razão".

A mitologia também falou destas coisas e há mito em tudo, não é preciso ser paganismo.

Porque é que julgas que Tirésias- o que tem de decifrar os enigmas da Esfinge, era cego?

E, no nome da Rosa, do Eco, porque motivos julgas que quem guardava o livro perdido do Aristóteles, o Jorge de Burgos, era um monge cego?

muja disse...

Não julgo nada. Nem me ia adiantar nada se julgasse, pelos vistos.

Eu vou tratar de ler sobre isso tudo. Depois julgarei então.

zazie disse...

Julgar no sentido de entender o motivo pelo qual fizeram um cego com o dom de decifrar enigmas ou guardar segredos.

Isto é literatura mas a literatura também é pensamento, né?

zazie disse...

E a Arte, explica-se pela Razão das leis da Ciência?

Entende, esta é a questão- passou a considerar-se "Razão" apenas o que se traduz em leis universais aplicadas nas ciências ditas positivas.

Mas nem sempre foi assim. E nem continuou a ser.

Podemos é perguntar se a herança do iluminismo ainda faz mossa.

Eu acho que sim. O Mattoso, pelos vistos, também.

muja disse...

Mas quando eu penso, V. manda-me ir estudar.
Quando lhe digo que vou estudar, manda-me pensar.

Eu tenho um entendimento do que é a razão. É o meu entendimento. Pelos vistos, toda a gente tem um. Seja.

Tenho então que tratar de perceber quais são os outros, porque de outra forma nunca mais saímos da cepa torta.

Também tenho um entendimento do que é a natureza e o homem. É o meu, mais uma vez. Que remédio tenho senão tratar de ir saber o que os outros entendem também...

Enfim, que é que me adianta estar aqui a pensar porque é que os cegos fazem melhores decifradores de enigmas ou guardadores de segredos, quando, provavelmente, nem sequer estamos de acordo sobre o que é um cego, um enigma, ou um segredo?

zazie disse...

Não fale como um puto.

Acha que um conceito histórico é coisa ao gosto de cada um?


Leu o Nome da Rosa do Eco? se leu deve perceber o sentido porque é cego e não é por acaso.

E não venha com tretas que até um cego pode ser outra coisa. É cego- não via mas entendia melhor que quem tinha visão normal.

zazie disse...

Se eu falasse assim de qualquer conceito científico o que é que v. dizia?

Dizia que eu estava armada em parva e tinha toda a razão.

Isso é vício de puto com a mania que tudo é subjectivo e que ele lá tem o seu conceito daquilo que não estudou.

muja disse...

Isso é vício de puto com a mania que tudo é subjectivo e que ele lá tem o seu conceito daquilo que não estudou.

Lá está V. a tirar conclusões precipitadas.

O mais preciso seria dizer:

Isso é vício de puto que parece que tem a mania que tudo é subjectivo e que ele lá tem o seu conceito daquilo que provavelmente ainda não estudou.

Mas foi só para me meter consigo. Não duvide que vou estudar (já comecei até) e voltarei para falarmos disto mais tarde.

Mas agora vou fazer o jantar.

zazie disse...

Agora foi problema de português.

Isso é vício de puto com a mania que tudo é subjectivo e que ele lá tem o seu conceito daquilo que não estudou.

Isso (o achar que é com cada um) é mania de puto (de qualquer puto- dos putos, dos cábulas) e que ele (o putos=os putos= os cábulas) lá tem o seu conceito daquilo que não estudou (não estudaram, não sabem, inventam e dizem sempre esta treta do "para mim é...")

zazie disse...

E não parece que tem a mania- os que falam assim - têm mesmo a mania que todos os conceitos que desconhecem se resumem a palavras corriqueiras que podem traduzir como lhes apetece.

zazie disse...

V. passou-se com aquela idiota da Bluesmile por causa disto...

ehehehe

":OP

zazie disse...

Boa paparoca.

Se souber de tintas para terraços e de marcas, agradecia.

Gostava de saber se a Blatem (espanhola) é boa porque tem uma cor de telha muito bonita mas estou-me a passar com os resultados no chão.

zazie disse...

V.s os científicos sabem sempre estes detalhes e marcas de automóveis

":OP

Pedro Sá disse...

Zazie é simples, aquela forma de escrever do Mattoso é muitíssimo parecida há de alguns juristas. Ele, repito, está a ser meramente descritivo de algo que se passou - e nestas coisas o que se passa a nível científico corresponde à "realidade".

zazie disse...

Quando ler o livro digo-te mas desconfio que seja apenas uma descrição, até pelo título e sentido que escolheu para ele.

Entretanto, para o muja, fica aqui o link do Cassirer sobre o iluminismo (mesmo que eu nem concorde com muita coisa dele, pelo menos explica o básico)


http://pt.scribd.com/doc/96234934/Cassirer-A-Filosofia-Do-Iluminismo

zazie disse...

Olha, nem sabia que era uma compilação. Mas lê esta entrevista e diz lá se é apenas uma descrição do iluminismo e à semelhança dos juristas.

Nunca podia ser e nem faria sentido.

http://www.snpcultura.org/jose_mattoso_levantar_o_ceu_os_labirintos_da_sabedoria.html

muja disse...

Thanks Zazie.

Infelizmente, não a posso ajudar. Não percebo nada de tintas nem vernizes! Ainda ontem aprendi pela primeira vez o que são "unhas de gel" e porque é que alguém haveria de preferir isso a vernizes...

zazie disse...

ahahah

Mas isto é construção civil.

(essa das unhas ultrapassa-me. Nunca entendi sequer como é que alguém pode agarrar no que quer que seja, usando unhas compridas. É coisa de deficiente)

zazie disse...

Mas já tenho outra lata de tinta.

A seguir vai ser as pedras. Vou ver se faço negócio online que fica sempre mais barato.