25 maio 2012

homens na cozinha

"Saiam daqui. Eu não quero cá homens na cozinha".

Esta é uma das frases que mais frequentemente me ocorre ao espírito quando me lembro da minha mãe.

Para uma mulher que vivia rodeada de homens, o marido e quatro filhos, parece uma frase extraordinária. Na maior parte do tempo havia empregada doméstica que partilhava com ela todos os cuidados da casa. Mas quando não existia, ou estava de férias, era a minha mãe que assumia tudo sozinha. Fazer a comida, arrumar os quartos, tratar da roupa, e nunca umas calças ou uma camisa eram arrumadas no armário sem estarem devidamente engomadas.

O que é que ela pretendia com aquele princípio tão rígido, de não querer ninguém na cozinha, mesmo se às vezes nós só íamos lá com o propósito de a ajudar?

A minha mãe não era nenhuma intelectual e portanto aquele princípio, afirmado assim de forma  tão categórica e recorrente, só podia ter origem cultural, ser o reflexo da cultura em que ela própria nasceu e foi criada, e em que agora educava os filhos, todos homens.

O que é que ela visava com aquele princípio?

Valorizar as mulheres, torná-las indispensáveis aos olhos dos homens, como é próprio de uma cultura feminina.

Comecemos pelas consequências. Eu ainda hoje não sei estrelar um ovo, nem sequer fazer uma cama, e engomar uma camisa ou umas calças é para mim uma ciência  profundamente oculta, embora eu a tenha visto muitas vezes ser praticada pela minha mãe e pela empregada doméstica.

Por detrás daquele princípio - "Não quero cá homens na cozinha" - havia uma mensagem cultural profunda: "Vou-te educar de maneira que nunca conseguirás viver sozinho. Vais sempre precisar de uma mulher".

Cumpriu-se.

É assim que se reproduz uma cultura feminina.

26 comentários:

lusitânea disse...

Pelo que tenho visto nas TV´s existem por aí muitos rapazes que adoram fazer essas mesmas tarefas.E cuidam do outro rapaz muito bem...
Viva o sec XXI!Agora só falta resolver o problema da reprodução...

marina disse...

não sei..eu não gosto de homens na cozinha porque deixam tudo num caos. uma trabalheira arrumar e limpar tudo o que deixam fora do sítio..não compensa a ajuda , sorry :))

Luís Lavoura disse...

Falando com franqueza, o Pedro Arroja deveria ter vergonha de não saber estrelar um ovo nem fazer uma cama.

E ainda mais vergonha deveria ter de o divulgar publicamente.

Eu em minha casa sei fazer tudo o que é preciso para me manter. Fui viver só aos 23 anos de idade e desde então nunca precisei de mulher para me dar de comer.

Fernanda Viegas disse...

O que o Prof. quis dizer é que as mulheres da geração das nossa avós e mães eram muito mais espertas que as atuais. Sem conhecerem o marketing elas já passavam mensagens subliminares: "sem mim, tua mãe ou mulher, não sobrevives".Hoje, uma grande parte dos homens já diz que não precisa de uma mulher para nada e não me estou a referir aos "alegres".

Renato disse...

Fernanda, eram mulheres só relativamente espertas, isto é, os "seus" homens (alguns) é que eram burros e ineptos. Qualquer homem aprende rapidamente a estrelar um ovo e fazer uma cama, se tiver dois neurónios. Eu tenho 50 anos, e o meu pai e o meu avõ conseguiam fazer isso. Tiveram de aprender montes de tarefas quando foram para a tropa, e continuaram a aprender pela vida fora, quando emigraram ou por força de outras circunstâncias. Eram óptimos cozinheiros e nunca se sentiram menos homens, pelo contrário. Tenho orgulho neles porque eram homens capazes. Agora, assumir que não se consegue estrelar um ovo é... hilariante. O que levará pessoas a assumir assim a ignorãncia sobre coisas tão básicas, é para mim um mistério.

Fernanda Viegas disse...

Seja bem vindo Renato. Eu vou referir um comentador deste blogue que é o Zephyrus e que diz que em Portugal é difícil apresentar ideias e estimular debates, porque as pessoas levam tudo à letra(não foi com estas palavras, mas a ideia é esta). É evidente que o Prof. Arroja sabe fritar um ovo, fazer um arroz e se estivesse sozinho não morria à fome. Ele tem esta maneira muito sui generis de expressar uma ideia, concluir um raciocínio, que confesso, por vezes a mim, também me tira do sério, mas o intuito é mesmo esse: provocar uma reação, um incómodo. De outra forma, nem haveria assunto a discutir, de tal forma era banal.
Não era muito comum, os homens dessas gerações se preocuparem com os trabalhos do lar e socialmente isso era visto como coisas de mulheres. É evidente que elas se aproveitavam dessa situação para terem poder dentro de casa, já que não o tinham em mais lado nenhum(na generalidade). Para já, constatamos factos.

Vivendi disse...

Correta explicação Maria!

As pessoas gostam de pegar tudo à letra sem entender o essencial da questão.

E se o prof. não sabe estrelar ovos que os bata e faz ovos mexidos!!!

Mexam esses cérebros pessoal.

Fernanda Viegas disse...

Essa foi mesmo boa Vivendi! O Renato quando se ambientar aqui aos comentadeiros do "PC", não vai querer outra coisa!

Anónimo disse...

Nem mais. O ilustre prof. várias vezes tem afirmado que os católicos não conseguem pensar em abstrato.

Luxor

Renato disse...

Os interpretes do Professor Arroja ;)... hehehe, não se preocupem, pronto, o senhor Professor Arroja sabe fritar ovos. SE vocês o dizem... A verdade que conheço homens assim, como nesse retrato. Acabam por casar com "mamãs". Não são gays, são maricas.

zazie disse...

Realmente, não entendo que gozo possa dar a mulher servir de mãezinha a um deficiente motor

":OP

Depois admiram-se da instituição da amante como a segunda que não é a mãe.

zazie disse...

Uma coisa é achar que é tudo igual, outra é criar homens soja dependentes.

Aliás, os homens até tendem a ser bem melhores cozinheiros.

zazie disse...

E eu acredito que tenha dito isto de forma literal e não saiba mesmo.

Por uma razão básica- não fez a tropa.

zazie disse...

Mas este é que sempre foi um tipo de conversa que me encanitou desde que me conheço.

Um homem a gabar-se de ser mongo e não conseguir dar uso aos dedos para fazer uma treta de uma tarefa de sobrevivência é tão imbecil como aquelas mulheres que passam a vida a dizer que detestam máquinas.

Nunca entendi isso e sempre achei que a falta de agilidade do corpo traduz-se por igual emperramento mental

zazie disse...

Aposto em como o Birgolino sabe.

A ver se ele não mudou o template do blogue.

E o PA não era capaz. Porque é aselha.

Fernanda Viegas disse...

Renato espero que não tenha ficado ofendido. Eu apenas pretendi dizer, que no caso era irrelevante se o prof sabia ou não fritar ovos e o importante é a mensagem que ele tenta passar. Também conheço muitos homens completamente dependentes da fada do lar e por incrível que pareça o mesmo acontece com algumas mulheres, que se recusam a fazer qualquer tarefa doméstica. É lá com eles!

zazie disse...

A mensagem que o PA passou foi a de que evitar que os homens saibam comer e sobreviver por eles próprios é uma forma de valorizar a dependência em relação a quem faça isso por eles.

Ora chamar a isto casamento é que é mentira.

Pois eu penso que se fazia isto para evitar mariquices. Para que os rapazes não dessem em ficar muito efeminados a terem brincadeiras de meninas.

O exemplo da cozinha é até apenas subsidiário. Também não brincavam com bonecas nem viam novelas nem tinham conversa de mulher.

Hoje têm. E não é pelo facto de não serem deficientes motores e saberem sobreviver sozinhos.

zazie disse...

A parte que nunca entendi e me irrita é o gostinho de se ter alguém na mão e criar dependências.

Eu nunca prendi ninguém, nem a prole.

Se não deslargam é lá com eles

":O))))))

Fernanda Viegas disse...

Completamente de acordo Zazie.

zazie disse...

Mas eu defendo uma boa partilha familiar. E e o meu pimpolho foi educado à moda antiga. No sentido de ser "chefe de família"

E a menina dele e compadres hoje em dia agradecem. Porque foi graças a essa mania que ele tem de cuidar de toda a gente que ela está bem na vida.

Porque ele é que investiu na formação profissional dela. Porque sabia que tinha cabeça para isso.

E nada disto teve a ver com machismo.ç Apenas o desejo de viverem juntos e trabalharem perto.

zazie disse...

Mas, o meu pimpolho aprendeu tudo isso em pequeno nos escuteiros.

Aos 18 anos, quando foi viver sozinho (por acaso ainda tinha 17) já sabia fazer todas as coisas sem precisar de "mamãs".

E nada disso impediu o desejo de ter menina ao lado.

Fernanda Viegas disse...

Pois claro.
Agora vou "provar" a "galinha putona" a ver se aprova para o almoço!!!

zazie disse...

ahahahahahaha

O Fast Show era o máximo. Depois dos Monty Python são os meus favoritos.

Fernanda Viegas disse...

É de gritos Zazie e o seu amigo José, se também viu, ainda deve estar a rir à gargalhada, sobretudo pela analogia com o "outro assunto"! Essa sua cabecinha vale ouro(já agora, português e do antigo, com todos os kilates a que tem direito).

Renato disse...

Não fiquei nada ofendido, Fernanda. Divertido, isso sim. É-me indiferente que o Professor não saiba fritar ovos. Acho patético, é tudo.

Pedro Sá disse...

Homens e mulheres na mesma cozinha ao mesmo tempo costuma dar asneira. É que o modus operandi, em regra, não tem nada a ver.