Num post anterior, o Joaquim afirmou que a democracia é um valor relativo, isto é, só é um bem enquanto satisfizer certos critérios ou condições, deixando de o ser quando esses critérios ou condições não forem satisfeitos.
Uma das grandes novidades que Cristo trouxe ao mundo judaico do seu tempo foi a separação entre a esfera política e a esfera religiosa. Na tradição cristã, a escolha dos regimes políticos passou a ser deixada à liberdade dos homens e não emana de Deus: "... Jesus operou uma separação entre as dimensões religiosa e política; uma separação que mudou o mundo e que pertence verdadeiramente à essência do seu caminho novo...De facto, na ordem em vigor até então, as duas dimensões - a religiosa e a política - eram absolutamente inseparáveis uma da outra. Não existia o político «sozinho» nem o religioso «sozinho»". (J. Ratzinger, Jesus de Nazaré, vol. II, p. 141)
Não existe nada de sagrado no regime político da democracia, nem em qualquer outro. Pelo contrário, a verdade absoluta que a tradição cristã afirma acerca dos regimes políticos é que todos - os que já se conhecem e os que podem ser inventados - são legítimos desde que promovam o bem comum: "A diversidade dos regimes políticos é moralmente admissível, desde que concorram para o bem legítimo da comunidade que os adopta." (Cat: 1901).
Um regime político que não promova o bem comum pode e deve ser descartado e substituído por outro. E a democracia não é excepção.
34 comentários:
Porque qualquer regime político de raízes católicas, tem sempre de obedecer a algo maior que o Poder terreno.
Tem de se submeter a Deus. As esferas nunca foram totalmente separadas porque a Divina é superior e engloba a terrena.
Tem de servir Deus.
Ora isto nada tem a ver com o ideal republicano que sempre foi laico (quando não era judaico-ateu disfarçado ou maçónico, que vai dar ao mesmo).
O Hobbes é o criador da religião laica de Estado. Os enciclopedistas copiaram-no.
O Dragão tem mais que razão quando insiste que tudo veio de Inglaterra.
Pois veio- e no seguimento da sacralização da Ciência.
qualquer regime é válido quando é,
Tudo pela nação, nada contra a nação.
Isso é exagero e geralmente dá bode.
O que diz Ratzinger é apenas "langue de bois".
Para entender o papel do cristianismo relativamente à esfera política, é imprescindível ler o livro de Paul Veyne.
Tudo pela nação, nada contra a nação.
"Isso é exagero e geralmente dá bode."
Acha mesmo Zazie?
Vejo que não é do FCP.
":O)))))
Qual livro do Paul Vayne?
Eu até gosto muito do Veyne mas ele é ateu.
Ele tem um grande livro- les grecs ont ils cru á leurs dieux?
Mas tem falhas e são efeito do ateísmo.
Mas é um grande livro de História.
Estava a falar de qual?
Quais são as falhas do ateísmo?
«Quais são as falhas do ateísmo?»
As mesmas do teismo.
Rb
eheheh
Grande resposta.
(eu disse que o estudo tem falhas e que elas derivam do facto dele ser ateu).
O livro tem falhas. As falhas provêm do facto dele ser ateu.
Eu não disse quais eram as falhas porque estou à espera que o Sampy diga a que estudo do Veyne se referia.
Essas falhas não são as do ateísmo que politicamente é um teísmo.
O bacano do morgadinho da cubata topa tudo.
Ou são... por acaso até que as falhas do estudo podem ser o erro base do ateísmo.
Mas é um ateu inteligentíssimo e o estudo é excelente.
Mil vezes melhor do que é mais conhecido, o "Como se escreve a História".
Mas nunca fiz recensão dele para poder falar com propriedade. E é assunto que só se discute com historiadores, creio eu.
Pronto, mas que falhas são essas que provêm do facto de ser ateu?
E que as falhas do ateísmo são as mesmas do teísmo, sei eu. O que é basicamente o mesmo que dizer que não são nenhumas. Por isso é que perguntei.
Leu o livro?
Se não leu não merece a pena. Não ia perceber nada do que eu queria dizer.
A falha base da argumentação ateia é mais ou menos esta- nivelam tudo o que transcende ou que é universal e trans-histórico por "fantasia".
O Veyne faz isso no estudo acerca dos gregos e do facto de poderem acreditar e não acreditar (ao mesmo tempo) nos seus deuses.
O argumento de acreditar e não acreditar como algo que vai contra a lógica da identidade mas tem sustentação, é espantoso e muito bem fundamentado com fontes históricas.
A falha é a tal de considerar fantasia uma questão ontológica ou metafísica ou mito fundador, ao mesmo nível do maravilhoso.
É um argumento de fundamentação ateia e
tem erro teórico.
Mas, repito, é um estudo espantoso e delicioso de se ler.
Não li.
Mas vou ler.
Faz bem.
Mas não está traduzido para português.
Eu, pessoalmente, não creio. Em tempos foi diferente.
No entanto, isso não invalida de forma alguma a doutrina e sobretudo, os valores, da religião (neste caso, católica). Que é, para mim, o que de mais valioso têm.
Penso que a religião cristã (e a muçulmana, das outras sei pouco) é como uma espécie de bússola. Todo o Homem tem um caminho a percorrer. É completamente livre de o escolher. Tem a bússola para o auxiliar. Ainda que a bússola não tenha caído do céu, não deixa de ser uma boa bússola por causa disso. E, portanto, não se deve deitar fora de forma leviana.
Só quem nunca andou perdido ou não teve de se orientar, é que pensa o contrário.
Eu percebo francês. Ainda o ensinam na escola. :)
Talvez não por muito mais tempo...
ehehehe
É verdade. Já pouca gente sabe francês, o que é uma pena.
Zazie, o livro é de 2007: "Quand notre monde est devenu chrétien (312-394)".
Já o vi por aí em português.
Zazie, quanto ao livro de que falavas, também existe em português, pelas Edições 70. Mas não está disponível no catálogo actual da editora.
Ah, esse. Folheei-o uma vez mas nunca li todo.
Mas v. recomenda-o para quê? Para entender o cristianismo e o poder político?
Duvido. Ele é ateu demais para poder trazer alguma novidade.
O Duchesne fez o trabalho de fundo.
O problema do Veyne é outro. Ele defende sempre o supremo poder da "instituição".
E disso percebe ele porque foi militante do partido comunista.
Por muito bom historiador que seja, e é, este aspecto, juntamente com o ateísmo, tende a nunca entender o que está para lá disso. Sejam os gregos e as suas crenças- o que sobra é o "aparelho político" que é mais forte. Com os cristãos, idem. E com a própria História também- daí que tudo se equivale e tende a ser uma narrativa como outro qualquer.
Penso que é impossível entender o relacionamento do cristianismo com o poder político sem captar a figura do primeiro imperador cristão. E, sobre isso, o referido livro oferece umas aportações extremamente pertinentes.
Não sabia que havia tradução.
Mas v. leu-o?
Não quer comentar mais nada. Por exemplo, como é que um estudo dos primórdios do cristianismo (não ultrapassa o séc. IV) pode contrariar o que o Ratzinguer disse ou explicar as relações da Igreja com o Poder político ao longo de séculos e séculos.
Ou será que v. está a cometer o mesmíssimo erro do Veyne quando ele fala de Poder- é sempre um aparelho igual e abstracto, e para si cristianismo é sempre a mesma coisa igualmente abstracta.
Tanto fará que seja século III em Constantinopla como XII, ou XIV, ou XVI em qualquer parte do mundo.
Ok. Portanto lá vem a pancada do Constantino e blá, blá.
Tinah de ser. Os dogmas do ateísmo militante são pouco criativos.
Mas faço justiça ao Veyne que deve ter-se ficado por aí- pelo que estudou e conhece e nunca extrapolou nem fez ideologia com isso.
Eu não tenho pachorra para debater com ateus.
É coisa que a que já coloquei ponto final há muito.
E li o Veyne a falar dos gregos como poderia falar dos cristãos mas ele tem fontes e saber e nem passou mensagem.
Topa-se apenas em detalhes quando fala das "levitações imperiais" para comparar com as crenças religiosas e está visto que lhe falta sensibilidade para mais.
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