25 maio 2012

como os homens

Eu estou agora em condições de fazer passar um argumento que já tentei passar várias vezes, mas sem êxito. 

Trata-se de questionar o mito de que foi o protestantismo e o movimento da modernidade a que ele deu origem que libertou as mulheres. Mulheres livres são as suecas, as holandesas, as alemãs ou as americanas - enfim, as estrangeiras -, não as portuguesas porque essas estiveram tradicionalmente submetidas à escravidão do trabalho de casa e dos cuidados dos filhos.

O facto de os movimentos de libertação das mulheres, ao longo do último século e meio, terem tido origem, invariavelmente, nos países protestantes, e não nos países católicos, deveria ser motivo para levantar imeditamente a sobrancelha. Então, é lá que as mulheres são livres e é lá que elas se sentem escravizadas? Alguma coisa não bate certo.

É verdade que Lutero, logo depois das célebres teses, estava a declarar que as mulheres são iguais aos homens. É verdade também que foi o protestantismo e a modernidade que, em parte, libertaram as mulheres do trabalho da casa e do cuidado dos filhos - mas só em parte. Mas libertaram-nas, em parte, destas tarefas para elas fazerem o quê? Para elas irem trabalhar para os campos, para as fábricas, e só mais recentemente também para os escritórios, como os homens.

A responsabilidade de sustentar financeiramente a família que, na cultura católica, recai exclusivamente sobre o homem, passou a ser repartida, na cultura protestante, também pela mulher. Sem que a mulher pudesse fazer repercutir sobre o homem, de alguma forma significativa, os cuidados dos filhos, porque ela é insubstituível nos mais importantes cuidados dos filhos. Um homem sabe mudar uma fralda, mas não pode amamentar. E, por mais que um homem se esforce, os filhos quando têm fome, pedem comida à mãe, não ao pai. E quando estão doentes correm para a mãe, não para o pai. A mãe é a educadora por excelência, não o pai.

Livres eram as nossas mães, antes de o 25 de Abril introduzir em Portugal mais este elemento da cultura protestante. Muitas delas trabalhavam, sobretudo depois de os filhos serem crescidos, mas era
por opção. Agora as mulheres, na sua generalidade, trabalham por obrigação.

15 comentários:

Vivendi disse...

A responsabilidade de sustentar financeiramente a família que, na cultura católica, recai exclusivamente sobre o homem, passou a ser repartida.

E de tanto repartida que foi hoje em dia só sobram migalhas para a maior parte dos que se aventuram no mercado.

E pior ainda se for feita uma análise estatística verificamos que nos países católicos as mulheres trabalham mais horas que a Europa do norte.

Duarte Meira disse...

« É verdade que Lutero, logo depois das célebres teses, estava a declarar que as mulheres são iguais aos homens» ? - Que são iguais em dignidade é uma tese cristã, não de Lutero. Quanto ao mais, não tenho informação. Sei apenas que é duvidosa libertação tirar as mulheres (com ou sem vocação!) dos conventos para servrem o sr. Lutero e os seus amigos à mesa; e que o sr. Lutero hesitou na teoria e tolerou na prática casos de poligamia, por influência provável do Velho Testamento.

«A mãe é a educadora por excelência, não o pai.» - Os filhos são biologicamente mais filhos de sua mãe que do pai, porque herdam mais genes dos cromossomas mitocondriais da mãe; psicologicamente, a melhor ciência e o velho senso comum dos povos estão de acordo sobre a principal importância da mãe na configuração e estabilização da personalidade, nos primeiros 5-6 anos de vida.

Com a extensão progressiva das licenças de parto, os nórdicos já tentam agir em consequência.

Parabéns, sr. Pedro Arroja, pela desassombrada crítica que vem fazendo dos mitos que têm cancerado toda a vida social no Ocidente, cujas primeiras vítimas têm sido os mais fracos e indefesos - as crianças.

( Espero que, em coerência, haja também aqui desmontado o pseudo-liberalismo abortista, que levou entre nós ao afundamento em 2007 do que restava do Estado de Direito.)

Sobra, para além da crítica dos mitos mortíferos, o mais difícil: - lutar agora pela emancipação do homem. A libertação da mama do Estado e da mama da Mulher são dois aspectos da mesma luta!

Anónimo disse...

Parece-me que o PA se entusiasmou e começa a imaginar cenários que não sãoa realidade. Se se informar pode saber, como eu sei por experiencia de familiares directos que em países protestantes o papel tradicional é o da mulher é em casa. Na Alemanha não é até hoje socialmente aceite que uma mulher trabalhe e crie filhos ao mesmo tempo (ou trabalham ou criam os filhos), são até pejorativamente chamadas "mães cuco"-e nem há rede de creches que permita. Na holanda, de amigos holandeses nativos, só há trabalhos part time para mulheres mães, as escolas têm horários impossíveis. Nos USA é ver as "desperate housewives", as cozedoras de muffins, as socker mums. Lembre-se os usa é que popularizaram o papel da primeira dama, decoradora da casa branca, apoio do presidente (um papel muito recente aqui). O que é coerente com a tal necessidade de liberação.

Anónimo disse...

passeie nos países do norte e repare, como é a separação de sexos. Veja-os a passar férias em Maiorca em bandos separados. A ideia de "tete a tete" latino não é com eles. Saia da universidade e ande na rua.

Anónimo disse...

Em portugal as mulheres sempre trabalharam no campo. A ideia da mulher sustentada é uma invenção recente, da burguesia urbana do século XIX. Até hoje cá a taxa de mulheres trabalhadoras é muito mais elevada do que nos países do norte. Não é por acaso.

Anónimo disse...

E na Alemanha as regras para o divorcio são absolutamente defensoras do papel da mulher sustentada, e penalizadoras para maridos que se coibam de cumprir o papel de sustentá-las.

Anónimo disse...

Não sei em que planeta vive o PA, mas no meu sempre as mulheres portuguesas trabalharam.
Quase todas, só poucas não o fazia, das classes socio-economicas mais abastadas, na enorme maioria da população sempre trabalharam.
Aliás já a defesa do Frei Bartolomeu dos Martires a favor dos padres barrosão poderem casar passava pelo trabalho das mulheres.

Camilo

Anónimo disse...

Não por obrigação, por necessidade. Hekate, ó tonto!

Anónimo disse...

Tradição Portuguesa são as padeiras (lembre-se da Aljubarrota), as fiadeiras, peixeiras (então as mulheres da Nazaré, e as dos xailes negros a puxar os barcos para terra?)... tudo isso é a nossa tradição. Se for à praça a Frankfurt vai ficar espantado ao ver que o mundo que cá é feminino, lá é maioritariamente feito por homens!
E se for mais para sul em África elas lavram e eles ficam encostados à cubata.

R.

lusitânea disse...

"em África elas lavram e eles ficam encostados à cubata."

Não é necessário fazer a viagem tão longa.Basta ir à horas normais de trabalho aos nossos milhentos bairros sociais multiculturais...

Anónimo disse...

O PA continua a fazer análise com base na sua experiência de classe. As mulheres em Portugl, as do povo (coisa que ele se farta de dizer que não é), sempre trabalharam muito fora e não por opção. Essa coisa da opção sempre foi de uma certa classe.

zazie disse...

Nunca o PA disse que não era do povo.

Ele teve bolsa de estudos da Gulbenkian para poder estudar. E sempre contou isso publicamente.

Há outra coisa- há povo da província com família alargada e há e havia povo que vinha para a cidade e apenas contava o casal e os filhos.

E é nessa categoria que a coisa se entende. Porque aí, sim, era comum as mulheres ficarem em casa.

zazie disse...

E essas mulheres trabalhavam mas trabalhavam mais em casa.

Tal como agora começa a acontecer de novo. Em não havendo dinheiro para montar negócio ou loja, faz-se trabalhos em casa e vende-se na mesma, até sem haver descontos, como na altura.

Pedro Sá disse...

Os comentários do Anónimo estão certíssimos. As mulheres sempre trabalharam fora de casa, excepto as mais abastadas.

E, acima de tudo, não confundamos protestante com nórdico. Se nos países nórdicos é verdade que a realidade é parecida com Portugal, nas Alemanhas e principalmente nos Estados Unidos acha-se que o papel principal da mulher é o de ser mãe e dona de casa. Como um dos Anónimos disse.

Anónimo disse...

Eu não conheço ninguém do povo que não saiba estrelar um ovo seja a mulher todos dos dias a escolher-lhe a roupa, as cuecas e os sapatos.Talvez os ciganos...
Em portugal as mulheres sempre trabalharam fora de casa. Se havia coisa que distinguia a mulher do povo era a liberdade de andar na rua ( e no campo), em vez de ficar fechadas no gineceu.
As dondocas que ficavam "em casa a cuidar dos filhos" em boa verdade tinham criadas para as lides domésticas e livravam-se das criancinahs assim que as pariam e as entregavam a amas de leite. Um sossego, para se dedicarem a coisas mais giras,como futilidades sociais.