16 abril 2012

Povo de Deus

No seu livro Jesus de Nazaré (vol. I, cap.IV - O Sermão da Montanha), O Papa Bento XVI discute, em termos teológicos, aquilo que o Cristianismo acrescentou ao Judaísmo. São principalmente dois pontos que eu vou procurar explanar em linguagem vulgar, e que ainda hoje, mau grado as raizes comuns, constituem os principais pontos de divergência entre judeus e cristãos.

1. Primeiro, Cristo universalizou o judaísmo. Cristo veio dizer que o Povo de Deus não são exclusivamente os Judeus. O Povo de Deus é toda a humanidade, somos todos nós. Cristo universalizou o Povo de Israel e levou o Deus de Israel a todos os povos do Mundo. Acabou-se o Povo Eleito, eleitos são todos os homens: "O que decide já não é a "carne", a descendência fisica de Abraão, mas o "espírito": a pertença à herança da fé e da vida de Israel através da comunhão com Jesus Cristo, o Qual "espiritualizou" a Lei e assim a transformou num caminho de vida aberto a todos" (op. cit., p. 142).

2. Segundo, Cristo pessoalizou o judaísmo. A união do Povo de Deus, não se faz primariamente pela Lei (Torah), mas em torno da figura do Legislador, Deus, encarnado na figura de Cristo. Assim, Cristo acrescenta à Lei Judaica um elemento muito importante: Ele próprio. Mais importante que seguir a Lei (Torah), passa a ser seguir o Legislador (Cristo).

Daqui decorrem algumas consequências importantes. Gostaria de mencionar duas:

a) Um católico, que seja verdadeiramente um católico, não tem nenhum preconceito em relação aos judeus, ele olha para os judeus como olha para qualquer outro povo, todos sendo filhos de Deus. A recíproca é que não é verdadeira, um judeu não olha para um católico (ou para qualquer outro povo) como sendo filho de Deus. Filhos de Deus são só eles, os judeus. Está aqui a origem do ressentimento que, ao longo dos séculos, os judeus têm gerado nas comunidades no seio das quais têm vivido.

Um exemplo actual acerca desta dualidade de critérios respeita à produção de armas nucleares pelo Irão. Israel possui armas nucleares. No meu julgamento católico, o Irão também tem direito de as possuir, porque os iranianos também são filhos de Deus. Mas isto é assim no meu julgamento católico. Porque no julgamento judaico, Israel e o Irão não são comparáveis, uns são filhos de Deus, outros são bastardos, e não se reconhece esse direito a filhos bastardos.

b) A ideia moderna do Estado de Direito, da supremacia da Lei sobre os homens é uma ideia com raizes judaicas, e de que o protestantismo se aproximou após a Reforma religiosa. Na verdade, não apenas o protestantismo adoptou a versão judaica do Antigo Testamento como, colocando o ênfase nas Escrituras e rejeitando a figura do Papa, se colocou, neste aspecto, do lado da tradição judaica.
A ideia católica correspondente é a de um Estado de Pessoa - ilustrada pelo Papa e pelo próprio Vaticano - onde um homem, o Legislador´é mais importante que a Lei, porque ele próprio tem poder para mudar a Lei (como Cristo fez em relação a vários aspectos da Lei Judaica ou Torah: circuncisão, sábado, purificação de alimentos, etc.).

Esta diferença ajuda a explicar por que é que num país tradicionalmente católico como é Portugal a ideia do Estado de Direito nunca vence. Como mais uma vez se está a confirmar.  

11 comentários:

Ricciardi disse...

Caro PA, está a confundir as coisinhas:

Uma coisa é afirmar-se que os Judeus são o Povo Eleito outra coisa é dizer-se que os não Judeus não são filhos de Deus.
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Portanto os judeus são o povo eleito, mas não são os unicos filhos de Deus. É isso que afirmam, ou não é?
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Eleito porque foi com os Judeus, alegadamente, que Deus terá feito um pacto.
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Mas isso, sabe, são palavras. Na verdade a biblia também é poesia aonde o jogo com palavras tem sido demasiado levado à letra.
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Quanto às bombas atómicas. Não se trata de um direito. Porque esse direito ninguém deveria ter, sobretudo uma arma daquele calibre. Trata-se de uma coisinha bem humana que tem a ver com equilibrios regionais e politica e percepção do perigo e embuste e táctica e paz.
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Não me parece que assobiar para o lado e achar que paises cuja cultura politica instiga e destila ódio e a eliminação especifica de uma país - Israel - possa ter o direito de ter uma arma nuclear para atingir esse fim.
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Tudo em nome da igualdade. O que me irrita profundamente. Tratar igual o que é desigual. Qualquer dia, e nessa linha de raciocinio, democratiza-se a bombinha por tudo quanto é país. Então se o Irão a pode ter, o afeganistão também, e o sudão e o libano e a siria e a arabia saudita.
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Aliás um irão nuclear iria despoletar uma corrida imediata ao nuclear por parte dos arabes que sentiam ameaçados.
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Olhe o exemplo de Cuba durante a guerra fria... a ver se os gringos não fizeram tudo para evitar uma Cuba nuclear. Claro. São estúpidos não.
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Rb

CN disse...

Rb

"Não me parece que assobiar para o lado e achar que paises cuja cultura politica instiga e destila ódio e a eliminação especifica de uma país - Israel - possa ter o direito de ter uma arma nuclear para atingir esse fim. "

Veja o lado deles.

Um país (sem marinha ou aviação) que em duas frentes, vê inúmeras bases militares em dois países invadidos e ocupados pela única nação que utilizou duas bombas atómicas e que por acaso já operou um golpe militar para depor o seu presidente eleito (1953) e depois apoiou logisticamente Saddam na sua guerra contra o Irão.

O regime actual é agressivo contra Israel? sim, é uma pena, não se devia meter no assunto e nas disputas territoriais dos outros.

Mas não é que o não-intervencionismo geo-estratégico seja um exemplo dado pelos outros. Pelo contrário.

Assim, a vida da oposição interna no Irão é difícil.

zazie disse...

«sim, é uma pena, não se devia meter no assunto e nas disputas territoriais dos outros.»

ehehe
Nestas coisas o CN é certeiro.

Ricciardi disse...

O Irão não tem força aérea e naval? deve estar a brincar comigo.
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Se não conseguiram obter a merda da bomba no tempo em que o podiam fazer, agora é tarde, sobretudo depois dos acordos de não-proliferação de armas nucleares controlado pela ONU.
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Temos pena, mas a eliminação de Israel terá de ficar para mais tarde.
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Rb

lusitânea disse...

Precisamos de um "imperatore" que restaure Portugal.De facto com os dirigentes adquiridos nas lojas chinesas dos 300 não nos safamos...

lusitânea disse...

O pior dos males "democráticos" foi aprofunda divisão dos Portugueses.Divididos qualquer um reina.E tem reinado a pior mediocridade, alguma dela internacionalista que quer abastardar a NAÇÃO Portuguesa, traindo-a...esses deveriam ser castigados!

lusitânea disse...

Uns andam por aí a descobrir "raízes" judaicas, outros "islâmicas", outros "africanas".Capelinhas e mais capelinhas para a fogueira da "divisão".Quem ganhou?Quem lucrou?Quem é que "avança"?
Safanões a tempo!Isto se não quiserem desaparecer do mapa...

CCz disse...

Julgo que não erro muito ao dizer que hoje em dia o Judaísmo está muito mais aberto a receber no seu seio gente de todas as raças, ao abrigo da ideia de que podem fazer parte das tribos perdidas de Israel

Pedro Sá disse...

Ora, os iranianos querem é ser o parceiro regional dos Estados Unidos. E estas coisas contra Israel são pura retórica para aumentarem a sua popularidade na região.

De qualquer forma acho altamente improvável que o protestantismo seja qualquer tipo de regresso ao judaísmo, até porque aliás constituiu em certa medida alguma recuperação de Santo Agostinho contra Tomás de Aquino.

Luís Lavoura disse...

Considero muito certeiras as distinções que o papa faz entre o judaismo e o cristianismo.
Porém, é falso que essas distinções tenham sido elaboradas pelo próprio Jesus (Cristo), o qual era, como hoje em dia está bem estabelecido, um judeu tal como os outros.
Essas distinções foram elaboradas e estabelecidas nos primeiros tempos do cristianismo, pelos primeiros cristãos (nomeadamente sob a influência de São Paulo), mas não pelo próprio Jesus.
Com toda a verosimilhança, Jesus ele próprio cumpriria escrupulosamente a lei judaica e, como todos os outros judeus, discriminaria entre judeus e gentios.

MOQ-TAR AL KABIR disse...

En français ::Pedro Arroja est le roi des cons ! champîon galactiquer de la connerie basse!

Un vrai vers de merde