25 abril 2012

porque não sou de esquerda

Não sou de esquerda porque não tenho uma visão do mundo que gostasse de construir. Há mil e uma maneiras de nos organizarmos e de vivermos em sociedade e a minha paixão é descobrir, a cada momento, como somos e para onde vamos.
Tenho uma fé inabalável na capacidade humana para fazer o Bem. Em liberdade, o nosso potencial é infinito. Basta pensar que a nossa aventura colectiva tem mais de 150.000 anos e é uma história de sucesso. Começamos por um pequeno bando de primatas que se aventurou a sair de África e aqui estamos hoje com mais de 7.000.000.000 de indivíduos, irmanados por um destino comum, neste planeta especial e talvez único que é a Terra.
Somos uma espécie inteligente e curiosa, criativa e sociável, mas apenas mais uma espécie da criação divina, sujeita aos constrangimentos inerentes à existência animal. O nosso objectivo comum, como o de qualquer outra espécie, é “Crescermos e Multiplicarmo-nos”. As famílias, as tribos, as nações e os estados, são apenas veículos ao serviço desse fim, que podemos designar por Bem Comum.
As instituições culturais emergiram de forma espontânea, ao longo de milénios, como produto agregado da ação individual. Não foram planeadas nem desenhadas por ninguém. A evolução depende portanto da liberdade de ação e esse é o valor essencial que temos de preservar e promover. A esquerda, com os seus modelos construtivistas, é naturalmente inimiga da liberdade. Em liberdade emergem soluções e equilíbrios sociais que só por improvável acaso coincidiriam com qualquer agenda política.
Ser de esquerda é sempre apostar no passado porque é olhar para o futuro à luz do que sabemos, à luz do que já foi. É ser reaccionário, é ter medo, é não confiar na capacidade individual, é não acreditar no valor supremo da liberdade.
Após o 25 de Abril, é natural que um povo pouco habituado à liberdade fosse seduzido por ideologias inimigas da liberdade, esquecendo que sem liberdade não há futuro. Hoje, no 38º aniversário desta data, Portugal continua preso ao passado e com medo do futuro.
É por tudo isto que eu, que no dia 25 de Abril de 1974 tinha 23 anos e regozijei com a “revolução”, não sou de esquerda. Prefiro surpreender-me com o futuro a ficar preso ao passado.

26 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito deste post. E concordo plenamente.

Anónimo disse...

"Em liberdade, o nosso potencial é infinito.
(...)
A evolução depende portanto da liberdade de ação e esse é o valor essencial que temos de preservar e promover."


Concordo com o seu post.

Mas a minha questão é: vivemos em liberdade?

No sistema actual o Joaquim goza da liberdade de acção necessária para, por exemplo, implementar o modelo de financiamento proposto nestes comentários?

Acha viável implementá-lo de baixo para cima, ou seja, começar num pequeno conjunto de hospitais/escolas numa determinada região?

O sistema dá-lhe essa liberdade de acção?

zazie disse...

"Tenho uma fé inabalável na capacidade humana para fazer o Bem".

Neotontismo optimista.
.
Pois eu tenho cá uma fezada na capacidade humana para a loucura

zazie disse...

Liberdade será espititual. O resto é conversa. O que mais temos são servidões.

Se calhar, sem elas, nem encontrávamos sentido para aguentar tanta coisa.

Como diria o Nietzsche: «Serás tu alguém que tenha o direito de se livrar de um jugo? Há quem perca o seu último valor ao libertar-se da sua sujeição.»

CCz disse...

Zazie,
.
Nietzsche, imagino-o um filósofo ao serviço do poder (na boa tradição alemã) e, realmente, para quem detém o poder, um servo que se liberta deixa de ter utilidade.

zazie disse...

Nem pouco mais ou menos. Nada disto tem a ver com poder mas com o eterno retorno e sentido da vida.

Leia o Assim Falava Zaratustra que vai perceber.

Não entendo a que título foi buscar essa do Nietzsche servir o poder.

Anónimo disse...

Ser de Direita é :“eu sou do tamanho do que vejo/E não do tamanho da minha altura”

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)


Mikerinos

Anónimo disse...

Zazie.

Assim falava Zaratrusta: http://www.youtube.com/watch?v=otK237G4ueE&feature=related

Vale a pena.

Mikerinos

tric disse...

"A esquerda, com os seus modelos construtivistas, é naturalmente inimiga da liberdade. Em liberdade emergem soluções e equilíbrios sociais que só por improvável acaso coincidiriam com qualquer agenda política."
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mas o modelo do liberalismo tambem não é construtivista!!?? na Austria até já andam a promovêr uma nova Teologia da Libertação...se isto não é um modelo construtivista...já para não ir ao passado buscar argumentos do papel catastrófico do liberalismo na Nação Portuguesa...então, esse Judeu-Maçon que foi D. Pedro...

zazie disse...

No neotontismo a liberdade é a tal opção do livre-arbítrio. E serve para fazer culpados das supostas escolhas.

Uma grande treta. Assim como assim, antes o jugo do destino.

Vivendi disse...

Sobre a esquerda:

O totalitarismo persegue o controlo da riqueza.

O capitalismo funciona menos mal que o estado socialista.

Têm-se que aceitar tudo o que a esquerda fala porque senão passamos para a periferia da extrema direita.

Socialismo é a propriedade estatal dos meios de produção.

O estado socialista coloca-se acima da ordem legal.

Socialismo já não existe, o moderno socialismo é o estado socializante pelo controle da economia mas sem nunca chegar à totalidade.

Quanto mais controle socialista mais depressa as pequenas empresas desaparecem e quem ganha são as grandes empresas monopolistas visto que já não há o risco da estatização total.

O resultado do socialismo será sempre auto contraditório.

Os grandes capitalistas só têm fomentado o socialismo.

O papel das esquerdas, uns andam por aí a radicalizar e outros a acalmar.

É tradicional na esquerda olhar o adversário sem qualquer espírito de humanidade, para a mentalidade da esquerda o pessoal da direita, é sem qualquer virtude moral e classificados como uns monstros.
Uma mentalidade baseada no ódio. Na esquerda o espírito é, nós devemos ser tolerantes mas não com os nossos inimigos.

As maiores atrocidades humanas foram cometidas na esquerda.

A esquerda promove o favorecimento geral ao crime.

A crítica unilateral de esquerda não pode ser contestada.

Desde quando qualquer gritaria de esquerda representa a sociedade portuguesa.

A crise económica foi criada com o apoio de pessoas de esquerda, estimulando o aparecimento de políticos que chegaram ao governo a promover os direitos invés dos deveres.

A esquerda estimula a concentração de renda.

As anormalidades são criadas acima das anormalidades e assim a máquina esquerdista não para mais, é este o projeto da esquerda para Portugal, mesmo com o país falido.

Vivendi disse...

A Zazie tem razão quando escreve que a maior liberdade do homem a perseguir é a liberdade espiritual.

zazie disse...

É preciso obedecer-se às leis mais duradouras para que se saiba pelo qual vale a pena viver.

O contrário disso é nem saber o que se quer e confundir prosápias e cobiças com liberdade

zazie disse...

Se é que se consegue atingir. Porque mesmo aí existem artimanhas em que nos envolvemos.

Liberdade na vida, como o José uma vez recordou, pode ser morrer na contramão, cantada pelo Chico Buarque:
http://youtu.be/P7mHf-UCZp0

Anónimo disse...

O Socialismo é só para alguns:

Veja-se a diferença de esperança de vida entre homens e mulheres.
Contra a desigualdade, supostamente a Esquerda deveria querer que a esperança de vida entre os dois sexos se nivelasse. E de acordo com a ideologia mesmo que fosse ás custas do diminuição da esperança de vida das mulheres.
Mas qual é política para a igualdade da esperança media de vida?
Qual o Partido Socialista de Esquerda ou de Direita que o defende?

lucklucky

zazie disse...

O liberalismo começa com sujeição do individual ao soberano (Hobbes) e avança para fazer de cada um um senhor que domestica (pela moral do trabalho e do ter) os outros.

Para o Nietzsche a imagem de liberdade estava no artista criador; no que se eleva espiritualmente e encontra aquilo pelo qual vale a pena viver.

email disse...

Assim falou Zaratchim.

Liberdade, cada um escolhe a que quer e, essencialmente, na quantidade que lhe serve. Pode é não servir aos outros, mas isto é um pormenor de somenos importancia.

Eu agora, assim de repente, nem é coisa que pense às quartas, quero exercer o direito inalianavel ao sexo. Liberdade sexual (isto passa, prometo).

Ora bem, esta liberdade, como todas, esbarram exactamente nas motivações da parceira potencial.

Portanto, eu sou livre de pensar, mas não sou livre de agir. É a tal liberdade de espirito de que fala a Zazie.

Nem tenho opções individuais, excepto aquelas pequenas coisas comumente aceites pela sociedade e vertidas nas leis e costumes.

Porque, antes de mais, o Homem é um ser social. É um ser que abdica da liberdade individual em troca de proteção que o Todo lhe confere.

Resumindo, é um bocado maricas ser-se libertário. Porque, tal como os maricas é antinatura viver-se isolado da sociedade ou no caso vertente engravidar pelo rabinho.
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Rb

email disse...

E estes tipos estão tão parecidos com os comunistas que até doi. Assanhados por coisinhas abstractas que não existem.

Os comunas é pela Igualdade. Uns maricas também, a natureza não gera igualdades. É até bastante desigual. E esquecem o mérito como valor acima da igualdade.

Os liberais é pela liberdade. Outros maricas, na natureza não se tem liberdade alguma, excepto na nossa cabeça. A liberdade de um Gnu depende do sono do Leão e este depende de quantas femeas o cansaram nesse dia.

Rb

zazie disse...

O Zaratchim falou

":O)))))))

email disse...

O 25 de Abril foi uma boa merda. Mas à distancia, compreendo que toda a gente tem de cagar. Não há volta a dar. As tripas revoltam-se, inexoravelmente.
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O que me chateia, e preocupa, é haver uma certa direita portuguesa a reincidir no erro em acentuar o elitismo financeiro e uma certa sobranceria, marcando ostentivamente a supremacia sobre o povo comum.
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Os riscos hoje são semelhantes aos daquela altura. Vão por mim que sei do que falo.
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A melhor forma de evitar uma revolução e proteger patrimonios do saque caótico das massas, vão por mim, é aceitar perder algum. De boa vontade. Senão em quantidade, ao menos em gestos.
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Os ricos percebem bem isto... e os riscos que neste preciso momento correm. Os novos ricos só o aprendem quando perderem o que têm. Nunca sirvas a quem serviu.
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Rb

Vivendi disse...

Ricciardi,

Muito bem tirado o seu último comentário.

Os interesses instalados com o artista velho foram orientados para o crescimento económico e para uma indústria que o país chegou a ter. Após o 25 de abril os mesmos interesses instalados com os artistas novos levaram à ruína económica e à falência industrial.

Chegou o momento de ruptura.

Os dois caminhos que os portugueses podem escolher:

A via autoritária:
exs: Salazar, Pinto da Costa, Rui Rio, Alberto João jardim, o típico empresário industrial português

Nos países do sul da Europa, por razões eminentemente culturais e religiosas, é só na autoridade que alguns mecanismos funcionam melhor, uma autoridade carregada de moral e mostrando o timbre que pretende à sua organização.

Não esquecer que Portugal não é um estado de direito.

A democracia participativa:
exs: Suíça, países nórdicos, Alemanha

Aqui temos a participação da população com uma elevada e esclarecida participação política, níveis altíssimos de formação e uma forte cultura de moralização.

Não esquecer o chumbo recente dos Suíços para o aumento das férias e o aumento da idade das reformas na Europa do Norte com uma aceitação pacífica dos seus povos.

Pedro Sá disse...

Eu precisamente por essas razões é que sou de esquerda! A direita pelo menos em Portugal é estruturalmente conservadora e anti-liberdade.

Anónimo disse...

"interesses instalados com os artistas novos levaram à ruína económica e à falência industrial."

Deixe-se de tretas. Se você quer a industria do salazarismo terá de pagar os ordenados do salazarismo.
Para um mundo que já não existe: um Império Colonial.

Pedro Sá
A Direita em Portugal é Socialista.
A esquerda é ainda mais conservadora e então anti-liberdade nem se fala, está sempre cheia de medo da escola.

lucklucky

Fernanda Viegas disse...

Parabéns ao Dr Joaquim pelo seu belíssimo post e à Zazie "liberdade será espiritual..." pela lucidez e clarividência que demonstra face à realidade e à vida.

Vivendi disse...

"interesses instalados com os artistas novos levaram à ruína económica e à falência industrial."

Deixe-se de tretas. Se você quer a industria do salazarismo terá de pagar os ordenados do salazarismo.
Para um mundo que já não existe: um Império Colonial.

tretas? ahhahaha

Farto de tretas e treteiros ando eu.

Por acaso estudou as estatísticas da economia e comparou-as com as de hoje?

Naquilo que escreve, na sua óptica a Alemanha não podia ser um país industrial.

E caso não saiba naquele tempo o escudo era bem valioso, não inflacionário e as pessoas não viviam do crédito.

Os mundos não existem, criam-se!

É só demagogos.

Anónimo disse...

" A liberdade de um Gnu depende do sono do Leão e este depende de quantas femeas o cansaram nesse dia. "

Citacao do dia. Muito Bom!!!!

Elaites