10 abril 2012

o desmembramento das equipas

Um dos aspectos mais discutidos na questão do encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) tem sido o “desmembramento das equipas”. “O hospital são as equipas que demoraram anos a desenvolver” e que, com o encerramento, correm o risco de desaparecer, dizem-nos.
O próprio ministro da saúde , segundo notícias publicadas, veio manifestar também a sua preocupação com este problema.
Ora eu gostaria, fazendo um pouco o papel de advogado do diabo, de discordar desta perspectiva. A maior parte do trabalho que se desenvolve nos hospitais constitui uma rotina para os especialistas. Um parto, por exemplo, segue sempre os mesmos preceitos em qualquer maternidade do mundo Ocidental (exceptuando talvez o tanque familiar do Hospital de Setúbal). O mesmo para uma cesariana, ou para qualquer outro procedimento habitual.
Assim sendo, a qualidade do resultado final não é afectada pela composição das equipas, desde que todos os elementos sejam profissionais competentes.
As equipas fixas são importantes apenas para procedimentos muito invulgares, como, por exemplo, um transplante hepático numa criança. Nestas situações, a equipa é fundamental porque não há outras pessoas com experiência.
O mesmo se poderá dizer das equipas que conduzem investigação científica ou que oferecem tratamentos pioneiros.
Seria portanto útil que os profissionais da MAC nos esclarecessem sobre a natureza dos tratamentos pioneiros que desenvolveram, sobre os trabalhos de investigação que têm em curso, etc. Porque só as equipas que participam nessas atividades é que seriam prejudicadas pelo tal desmembramento.
O ministério da saúde também deve ser mais objectivo em relação a esta problemática. Não pode apoiar sem reservas as pretensões do pessoal da MAC, ao mesmo tempo que promove legislação para a mobilidade especial dos profissionais de saúde. Sob pena de ficarmos a pensar que não há qualquer estratégia definida.

3 comentários:

sampy disse...

Em teoria, um profissional competente trabalha bem em qualquer lado e em qualquer equipa. Na prática, não é bem assim. Todos temos as nossas idiossincrasias e simpatias, que podem complicar o trabalho em equipa, mesmo que todos sejam competentes e honestos na sua forma de estar.

O que o pessoal da MAC quer dizer é que houve todo um processo de selecção natural (típico da selva do funcionalismo público) até ter sido possível encontrar as pessoas certas com quem estabelecer cumplicidades e lealdades (para o melhor e para o pior); e que não estão dispostos a abrir mão disso.

Anónimo disse...

Caro sampy,

Concordo.

sampy disse...

Mas há, neste assunto, uma outra questão a considerar: que sentido faz dissolver uma unidade de saúde monotemática para rentabilizar a capacidade instalada de unidades polivalentes, e ao mesmo tempo, promover a construção do mastodôntico Centro Materno-Infantil do Norte?