13 abril 2012

inovar na saúde

Para melhorar a qualidade dos serviços de saúde e diminuir os custos temos de inovar. Isto é, temos de criar oportunidades para a inovação, porque não é possível, claro está, inovar por decreto.
Ora estas oportunidades, como em qualquer outro setor, dependem da existência de um mercado concorrencial, do chamado "benchmarking" e da eliminação ou diminuição das barreiras à entrada de novos "players".
De todos estes fatores, a concorrência parece-me o mais importante. As inovações caracterizam-se sempre em relação aos produtos ou serviços que pretendem substituir e não em valor absoluto. Será que criam mais valor para os clientes, ou utilizadores, do que os produtos concorrentes? Eis a questão.
As companhias de aviação "low cost", por exemplo, surgiram da concorrência com as outras - vamos chamar-lhes "full cost" - e tiveram sucesso porque souberam criar valor para os clientes. A modesta diminuição de conforto é mais do que compensada pelo baixo custo - "low cost". Sem concorrência, porém, é absurdo pensar que as companhias de aviação "full cost" iriam reinventar os seus modelos de negócio e propor o "low cost".
O "benchmarking" é um processo de comparação de desempenho, através de variáveis quantitativas. A Ryanair, para além dos preços baixos, faz gala de ser a companhia de aviação mais pontual da Europa, um "benchmark" notável.
Por fim a questão das barreiras à entrada. Uma ideia inovadora, com potencial para arrasar a concorrência, pode esbarrar na existência de barreiras consideráveis à entrada no mercado. Alvarás dispendiosos, por exemplo, podem impedir o aparecimento de novas empresas com produtos e serviços revolucionários.
Na saúde há pouca concorrência devido ao monopólio do Serviço Nacional de Saúde. O "benchmarking" quase não é utilizado e há barreiras significativas à entrada de novos "players".  Não é portanto de estranhar que a inovação seja muito pouca. Não me refiro à inovação tecnológica de que somos ávidos importadores, refiro-me a novos modelos de gestão e de organização dos serviços de saúde que permitam melhorar a qualidade e diminuir os custos.

Artigo meu na Vida Económica de hoje

12 comentários:

Ricciardi disse...

«Não me refiro à inovação tecnológica de que somos ávidos importadores, refiro-me a novos modelos de gestão e de organização dos serviços de saúde que permitam melhorar a qualidade e diminuir os custos.»Joachim
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A concorrencia.
Bem, vamos ver, o caro Joachim tem razão subjectiva e objectivamente a falta dela. Refiro-me ao mercado português, exclusivamente.
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Este portugal contemporaneo de consumo de saúde é constituido por clientela ou consumidores ou utentes cujos rendimentos não andam longe dos 800 eurozinhos por mês?
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Errado.
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O universo dos utentes são dez milhões de pessoas das quais a parte activa, uns 4 milhõezinhos, aufere aquele valorzinho.
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De notar mais um dado para os concorrentes se instalarem; a pobreza extrema atinge os 18% da população e se retirarmos os subsidios sociais que o estadozinho paga, a pobreza dispara para 40%. Isto é, quase metade do pessoal consumidor potencial de saúdezinha ganha menos de 400 euros por mês.
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Portanto, eu diria que o benchmark para que qualquer investimento possa ser feito por privados é destinado a um mercado social muito restricto, isto é, aquele pessoal que tem rendimentozinhos acima da maioria e a quem lhes sobra algum para pagar do seu próprio bolso a sua saúde. Ora, isto reduz significativamente a clientela potencial.
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E se formos a ver bem, dizem, mas o Joaqchim pode infirmar, que 30% do mercado já é explorado por privados.
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Aonde é que o SNS entra? entra precisamente junto daquela maioria que não tem um chavo e que nunca poderia recorrer a um hospital privado com os seus próprios recursos. E isto é tão verdadezinha que, um passaro disse-me que, o Hospital PRIVADO, não tinha clientela e estava a ir-se abaixo. Era mais do que obvio, não existe clientela com recursos para aqueles investimentos. Eis se não quando o referido Hospital consegue um acordozinho com o Estado. E tudo muda. O pessoal da ADSE passa a poder usar os seus serviçozinhos médicos e garante a sobrevivenciazinha ao grupo do Privado.
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Quanto a melhorar a qualidade de gestão e organização dos Hospitais Publicos, o que me parece é que, na realidade, as experiencias com os hospitais-empresa são tão bonzinhos quantos os públicos. Ambos geram inovação que chegue, qualidade de serviços de sobra, ou não?
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O que me leva a outro ponto. Que é o ponto da ilusão que os teoricos Portugueses vivem.
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Em Portugal tem-se a ilusão que isto pode ser como na américa. Que existe um mercado de dezenas de milhões de pessoas e aonde os investimentos tem sempre garantido, por via da inovação e qualidade, quantidades enormes de clientela.
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Não é verdade. Não existe massa critica para isso.
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Insistimos em achar o contrario e discutimosisto pela eternidade, mas a verdade é que os nórdicos, com a mesma população ou clientela que nós, foram e são muitissimo mais pragmaticos e assertivos nesta matéria e não andam com ILUSÕES.
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Rb

Vivendi disse...

O Ricciardi tem total razão no que escreve, bem ou mal é a realidade. E as causas que precedem esta situação são estruturais para se conseguir mudar numa só geração.

O máximo que consigo imaginar como conversão possível da sociedade era a substituição dos centros de saúde públicos pela procura dos privados. Caso houvesse a tal inovação na saúde que o autor escreve.

Mas os investimentos nos tempos recentes foram para que houvesse uma maior oferta que diminuição de centros de saúde.

Por fim, agora numa visão mais global estes são os caminhos que se atravessam à sociedade portuguesa:

Querem estado social? Só com protecionismo.

Não querem estado social? Fim dos impostos.

Portugal, parece não saber o que quer, e quem tudo quer, nada tem.

Pode ser estendido à Europa.

Anónimo disse...

Os pobrezinhos também não podiam andar de avião...
Agora podem porque os preços baixaram apesar de todos os esforços de muitos aeroportos e Governos para os tornar mais caros com taxas e a subida do preço do combustível que tanto agrada aos governos...
Mas talvez seja estranho para o Ricciardi que se pode vender coisas a pobres.
Para isso também teria de mudar a mentalidade na saúde e matar a aristocracia que por lá grassa e pensar que é um serviço e não um acto de nobreza.

Segundo não há mercado da saude nos EUA, é tudo regulado, regulamentado, cheio de bloqueios. As leis até impedem um americano de optar por ter ele próprio um seguro de saúde em vez de o empresarial. Para ter um seguro próprio obriga sempre à duplicação.

lucklucky

Anónimo disse...

O que eu defendo é uma espécie de cheque-educação na saúde.

Acabava com o SNS, ADSE, e todos os subsistemas.

Cada português tinha direito a um cheque-saúde para utilizar em qualquer prestador à sua escolha fosse este prestador público, privado ou cooperativo (do terceiro sector).

Todos concorriam com todos: privados, público e sector social.

Claro que o financiamento dos prestadores do sector público decorreriam, exclusivamente, do cheque-saúde.

Anónimo disse...

O cheque saúde é uma boa opção. E inovadora.

Anónimo disse...

Defendo o mesmo para a educação. Chamo ao conceito cheque-cidadão pois aplica-se a vários sectores.

E também defendo um imposto único sobre as transacções (deixava de haver IRS, IRC, etc.), mas isto tinha de ser feito a nível Europeu.

Participei com uma proposta concreta para a Mais Sociedade mas os gajos não querem saber de soluções concretas e inovadoras.

É a classe política que temos... afasta pessoas com soluções a atraí lambe botas incompetentes. :)

Ricciardi disse...

E pronto, lá vem outra vez o cheque.
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Compreendo e aceito um sistema destes na educação, mas não o percebo na saúde. Não tem, aliás lógica, nem é aplicavel.
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Vejamos, na educação é simples; cada rapaz recebe um cheque igual e gasta-o numa qualquer escola à sua escolha.
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Mas na saúde isso é absolutamente útopico, senão mesmo uma palermice.
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Cada pessoa tem a sua doença própria com custos de tratamento aboslutamente diferenciados.
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Podia, quando muito, ser uma medida aceitavel se se proporcionasse um cheque-saude para os cuidados primarios, mas para tudo o resto é inaplicavel.
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Até já estou a ver um doente canceroso à espera que viesse um reforço, um segundo cheque, para ver se iniciava o tratamento. Julgo mesmo que o cheque chegaria depois do gajo finar.
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Rb

Ricciardi disse...

Isto é como nas empresas... quando um gajo mete um contabilista e é ele que toma conta da estratégia, está tudo estragado.
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Houve por aqui alguém que tinha uma ideia engraçada. Que era uma sistema que permitia a venda do tal cheque-saúde num mercado do tipo bolsista ou leilão. A ideia era vender os direitos que cada portugues teria no cheque-saúde e aliena-lo ao preço de mercado, que tinha a ver com a procura e a oferta, esse jogo de forças que faz o milagre de tudo o que mexe à face da terra.
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Nessa altura eu até sugeri, porque não, que se pudesse vender direitos futuros. Ora, se eu vou receber 82 cheques durante a minha vida, posso muito bem vende-los a quem queira pagar e precise deles para a sua saudezinha. Imaginei um sistema cientifico que baste, que se baseava na venda de uma opção sobre o activo em questão. E constituia um fundo aonde congregava todas as options. Enfim, a coisa é linda e finceiramente um assombro...
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Rb

Vivendi disse...

Mais uma vez aprovo as palavras de Ricciardi.

E reafirmo a ideia, Centro de saúde diz respeito aos pequenos cuidados e aqui pode-se fazer-se muita coisa, agora os hospitais requerem outros cuidados por vezes de valores incalculáveis.

Anónimo disse...

Eu por mim penso que todo os sistema nacional de saúde deveria ser propriedade dos Portugueses e não do Estado - à luz das rendas que o estado "ultraliberal conservador etc etc do Alaska faz com o Petróleo" - A posse desse título de propriedade poderia ser vendido para pagar assistência, assim como os dividendos.
Aliás isto também deveria ser aplicado a cada um dos direitos de exploração restritos que Portugal tem de leiloar: pescas, espectro electomagnetico, minerais, aviação. Tudas as receitas deveriam ir parar primeiro ao bolso de cada Português. Só depois ao Estado via impostos.


lucklucky

Anónimo disse...

Caro Ricciardi,

Pelo seu comentário percebe-se que não conheça (e é natural que não conheça) o modelo de "cheque-saúde" que eu defendo.

Não deixa de ser curioso, contudo, que aceite o conceito tão bem na educação quando, na prática, o custo por aluno no 1º ciclo não tem nada a ver como custo por aluno do secundário e, dentro destes, há diferenças de custo anuais entre alunos de humanidades e tecnologias.

Mas, deixemos de parte estes pequenos pormenores e vamos ao que realmente interessa.

O conceito que defendo chama-se cheque-cidadão e aplica-se a áreas tão diferentes como a educação, saúde e justiça, por exemplo.

Para o entender basta que mude o actual paradigma de financiamento por parte do Estado a serviços essenciais à vida em comunidade (saúde, educação, justiça, etc.).

Ora, o que eu defendo é que o Estado passe a financiar EXCLUSIVAMENTE o cidadão, ou seja, o verdadeiro interessado em determinado serviço numa determinada fase da sua vida. Isto em vez de financiar, sem qualquer critério, entidades (centros de saúde, hospitais, escolas, etc.) sejam elas bem ou mal geridas.

Bom, ao operarmos esta mudança de paradigma significa que nos é perfeitamente indiferente a natureza jurídica do prestador do serviço (público, privado ou cooperativo) uma vez que o seu financiamento decorre, única e exclusivamente, da ESCOLHA LIVRE de cada cidadão.

Posto isto, devo dizer-lhe que não se prenda à ideia de cheque, pois não existe qualquer valor anual pré-definido para cada cidadão. O conceito funciona como uma espécie de seguro, ou seja, cada cidadão tem o direito a ser tratado onde desejar.

Ao contrário do seu exemplo do doente com cancro o que aconteceria com este modelo é que o tal doente com cancro poderia escolher ser tratado num hospital particular, público ou cooperativo em Faro ou no Porto se "o seu hospital local" de Lisboa tivesse listas de espera de 1 ano por estar a ser mal gerido.

Enfim, não me vou alargar muito em mais explicações. Pode ler aqui o mesmo conceito aplicado à educação:

Pequeno slide show com uns 5 ou 6 slides: aqui

Versão um pouco mais detalhada com 6 páginas: aqui

Anónimo disse...

Entrevista do Dr. Gentil Martins ao i na qual defende o que já defendia há 30 anos: o seguro de saúde universal e obrigatório em oposição a um SNS obsoleto e despesista: http://www.ionline.pt/portugal/antonio-gentil-martins-eu-tenho-certeza-servico-nacional-saude-nao-sustentavel