Há cerca de três meses um amigo meu convidou-me para proferir uma palestra perante uma audiência católica sobre a minha experiência com o catolicismo. Eu aceitei de bom grado, mas quando chegou a altura de dar o título à palestra eu fiquei sem saber o que dizer. Foi ele próprio que sugeriu: "Do liberalismo ao catolicismo, onde ainda não cheguei". Aceitei a sugestão porque reflectia bem a realidade.
Passei o dia de hoje a reler o livro do Chesterton "Por qué soy católico" sempre com a seguinte pergunta no espírito: Será que, não sendo católico, eu me converteria ao catolicismo depois de ler este livro? No final do dia, a minha resposta foi um conclusivo Não.
E, no entanto, o livro está cheio de artigos admiráveis que o Chesterton escreveu em defesa do catolicismo e do processo da sua conversão a partir do anglicanismo. Mas a conclusão a que cheguei é que nenhum deles me levaria a tornar-me católico. Mais importante, cheguei à conclusão que ninguém se converte ao catolicismo por argumento intelectual. Esta é a forma maciça de conversão ao protestantismo e às doutrinas laicas saídas do protestantismo - como o socialismo e o liberalismo -, mas não é a forma de conversão ao catolicismo.
Foi, de resto, o ensaio "A Igreja Católica e a conversão" , escrito em 1927, e reproduzido logo no início do livro que hoje me prendeu mais a atenção. O Chesterton distingue três fases na conversão ao catolicismo: a primeira é a da protecção à Igreja (de todos os ataques que lhe são dirigidos), a segunda - e a mais excitante do ponto de vista intelectual - é a da descoberta da Igreja, e é nesta fase que eu ainda estou. A terceira é a de fugir da Igreja. Ora eu sei perfeitamente o que são as duas primeiras fases porque já as vivi. Quanto à terceira, é dela que eu tenho medo e medo é a palavra verdadeira. Para não ter de fugir, eu tenho medo de entrar.
Se o catolicismo é incapaz de gerar conversões por argumento intelectual, o que é que leva um homem a converter-se ao catolicismo? Outro homem. E o que é que esse homem inspira? Mistério. No fim, o mais interessante e misterioso naquele livro é a personalidade do autor. Eu gostava de o ter conhecido.
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