Os bancos europeus estão a utilizar as facilidades de crédito concedidas pelo BCE, não para concederem crédito à economia, mas para resolverem os seus próprios problemas financeiros, por exemplo, comprando as suas próprias obrigações a desconto.
A crise financeira actual veio mostrar aquela que é uma das maiores fragilidades do sistema financeiro e a fonte de grandes injustiças - a dimensão dos bancos e o associado risco sistémico que os torna too big to fail.
Quando as condições de negócio são prósperas, os bancos geram lucros que são apropriados pelos accionistas e pelos seus gestores. Quando as condições são adversas, e os bancos correm o risco de falência, invoca-se o risco sistémico, que é o risco da falência de um grande banco arrastar a de todos os outros. O risco sistémico conduz a que sejam os contribuintes, através do Estado, a pagar as perdas dos bancos, ou que sejam outras instituições como o BCE, que deviam estar ao serviço de todos, a porem-se ao serviço dos bancos para lhes resolver as dificuldades.
Na actual crise financeira, em toda a zona Euro, o único banco que foi à falência foi o Banco Privado Português. E ele não foi salvo pelo Estado porque era pequeno, e portanto não havia risco sistémico significativo.
Agora que estamos à beira de uma reorganização económica e política profunda na vida das nações europeias, eu julgo que o exemplo do BPP devia servir para alguma coisa. Devia servir para mostrar que a dimensão conveniente de um banco é pequena - em termos geográficos, local ou regional - porque, passada essa dimensão, qualquer banco coloca os cidadãos contribuintes numa situação de chantagem intolerável: "Em caso de dificuldades nossas, ou vocês entram com a massa, ou então isto vai tudo ao charco".
O capitalismo tem grandes benefícios qundo não se lhe perde a mão. Mas aos bancos, que costumam ser apresentados como as instituições mais representativas do capitalismo, há muito que se lhes perdeu a mão. Os seus lucros são privados, mas as suas perdas são públicas.
O sistema bancário precisa de ser reorganizado, assentando em pequenos bancos com uma vocação local ou, no máximo, regional. Quanto aos bancos possuindo uma vocação nacional e, mais ainda internacional, esses devem pertencer ao Estado ou serem estritamente tutelados pelo Estado, de maneira que as perdas sejam de todos, mas os lucros também.
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