28 março 2012

liberty and freedom

A Liberdade é a ideia mais importante da idade moderna, o verdadeiro slogan da modernidade.  É esta  ideia moderna de Liberdade que eu pretendo analisar, e constrastá-la com a ideia tradicional (ou medieval ou católica) de Liberdade.

A ideia moderna de liberdade começa, obviamente, no texto de Lutero de 1520, "Sobre a Liberdade de Ser Cristão". A liberdade surge aqui como uma prerrogativa que eu tenho, uma reivindicação da minha autonomia para chegar à Verdade, sem a tutela da autoridade (da Igreja, uma palavra que, não é de mais relembrar, significa Comunidade). Embora Lutero pareça ter desejado que esta reivindicação se mantivesse dentro do domínio religioso, a realidade é que ela rapidamente saltou as fronteitas da religião, e se tornou a bandeira de todo um programa político.

A língua inglesa tem duas palavras para designar liberdade, uma  - liberty - refere-se à liberdade tradicional, a outra - freedom - refere-se à liberdade moderna. Em português - e talvez por os nossos antepassados nunca terem acreditado na liberdade moderna - existe apenas uma palavra - liberdade - que é usada nas duas acepções.

A palavra freedom, como a sua composição indica,  significa "livre de". Livre de quê? Da autoridade. Em português, o sentido mais próximo é autonomia. É livre aquele que é autonómo, que não depende de qualquer autoridade e, no seu sentido inicial, é livre aquele que não depende da autoridade da Igreja (Comunidade).

A palavra liberdade, em latim libertas, de liber, também significa  "livre de". Mas a palavra tem um sentido ainda mais antigo que possui uma natureza comunitária. Designa nação ou povo que não está sujeito à escravatura. Libertas é, neste sentido, a comunidade daqueles que são livres, que não são escravos. Este sentido comunitário da palavra Liberdade (Libertas) é decisivo para o meu propósito.

No post seguinte, começo por analisar uma das diferenças principais entre a concepção moderna de liberdade a  concepção tradicional. A liberdade reclamada por Lutero é uma liberdade que tem por oposição a Igreja (Comunidade); na realidade, a autoridade da Igreja (Comunidade) é apresentada como o protótipo da anti-liberdade. Para Lutero e a modernidade, a liberdade está no indivíduo. Pelo contrário, a Igreja, não negando que a liberdade esteja no indivíduo,  afirma que a liberdade está, em primeiro lugar na Comunidade (Igreja). Na acepção moderna, a liberdade é um valor primariamente individual, ao passo que na acepção tradicional a liberdade é um valor primariamente comunitário.

Quem tem a verdade nesta matéria?

É a esta questão que procuro responder no próximo post.

1 comentário:

Pedro Sá disse...

Tem consciência dos dois monumentais disparates que está a dizer?

1. Freedom é palavra de raiz germânica, e liberty de raiz latina. E como estes há muitos sinónimos que têm a ver com a História da língua inglesa. De qualquer forma, a ser correcto o seu raciocínio, seria mais um argumento em favor do que lhe tenho repetido várias vezes - que essas diferenças são culturais e não religiosas, e que a Reforma veio facilitar as características culturais de cada zona da Europa marcarem cada uma das confissões religiosas onde fossem maioritárias.

2. No mesmo sentido, recomendo-lhe vivamente que leia a História da Filosofia do Abbagnano, se aprender umas coisas sobre filosofia medieval perceberá como muito antes da Reforma já os ingleses tinham uma claríssima tendência para o empirismo e para o nominalismo.