26 março 2012

Liberdade é Escravidão

Pode-se escolher a profissão e até se tem a liberdade de mudar de patrão, as condições de mercado permitindo. Mas, à parte estas diferenças, a realidade permanece que a instituição moderna mais próxima da escravatura é a instituição do trabalho assalariado.

Nos últimos 40 anos, em Portugal . um país onde todos os exageros são possíveis - a taxa de participação das mulheres na força de trabalho passou de 10 ou 15% (não tenho o número exacto à mão) para 55%. Eu não me posso pronunciar, em concreto, se isto é bom ou mau, porque só cada mulher envolvida no processo é que o pode dizer.

Mas eu posso pronunciar-me, ou pelo menos tentar descobrir, o significado desta tendência. E o significado desta tendência é o de que se passou, em poucos mais de uma geração, de uma sociedade em que eram os homens maciçamente a servir as mulheres - no sentido em que eram eles maciçamente que trabalhavam fora de casa a angariar um rendimento  que depois repartiam com elas -, para uma sociedade em que são  maioritariamente as mulheres a servir os homens - no mesmo sentido de serem elas agora maioritariamente a trabalharem fora de casa, angariando um rendimento que depois partilham com eles.   

Aquilo que eu pretendo salientar é que esta alteração foi acompanhada de um discurso, segundo o qual  esta nova tendência representava a emancipação ou a libertação das mulheres. Libertação, quando a instituição do trabalho assalariado é, de todas as instituições modernas,  a mais parecida com a escravatura? Temos de voltar ao Orwell, para reinterpretar o significado das palavras: Liberdade é Escravidão.

Foi o próprio Lutero que declarou que a principal função das mulheres era servir os homens, e esta declaração inseriu-se no movimento de revolta que ele liderou contra o catolicismo. A tendência crescente para as mulheres participarem no mercado de trabalho, em medida até superior à dos homens, de tal modo que se pode agora dizer com propriedade que são elas, predominantemente, a servir os homens, e não o contrário, é uma tendência moderna que, como todas as tendências modernas, teve origem no protestantismo. A Igreja católica, pelo contrário, sempre defendeu que era a missão dos homens servir as mulheres.

O problema com as teses protestantes, com as teses da modernidade (como por exemplo, as ideologias) é o de que são sempre apresentadas e defendidas de forma abstracta, e o pnesamento abstracto,  tendo o seu lado bom, tem também os seus perigos, e o principal é o de que, referindo-se a todos, e não particularmente a ninguém,  às vezes esconde mais do que aquilo que revela.

Se o Lutero tivesse, ao menos, indicado uma comunidade concreta onde são as mulheres a servir os homens, para nós podermos avaliar se gostaríamos ou não de viver nessa comunidade, o julgamento seria mais fácil. Mas o Lutero não indicou nada. Existe notícia de algumas destas comunidades em África - comunidades onde as mulheres trabalham para servir os homens -, mas, francamente, eu não estou impressionado. Eu não gostaria de lá viver.

E esta é uma diferença importante em relação ao catolicismo. É que o catolicismo não se limita a enunciar opiniões ou a procalmar princípios em abstracto. Tudo aquilo que o catolicismo anuncia como verdade, apresenta em seguida exemplos concretos, de carne e osso, para atestar que essa é a verdade. Então, e onde é que eu posso ver uma comunidade em que são os homens a servir mulheres?

Na própria Igreja Católica. O que é a Igreja Católica senão uma comunidade em que  homens dedicam a sua vida, ao ponto da escravidão, ao serviço das mulheres,  todas elas simbolizadas pela figura de Maria? A promessa que o padre católico faz no momento da sua ordenação, vista de fora, é uma declaração em que livremente se submete a uma vida de escravidão ao serviço da Igreja, que é uma figura de mulher, Maria. (A missão principal de Maria foi dar à luz Cristo, a missão principal da Igreja é dar à luz ou produzir cristãos).

Uma comunidade onde os homens são capazes de se escravizarem pelas mulheres funciona, parece até eterna, como a Igreja Católica está aí para atestar (Maria e a Igreja sendo os símbolos da fecundidade procriadora das mulheres).   Pelo contrário, uma comunidade em  que são as mulheres a escravizarem-se pelos homens também parece poder funcionar, mas não por muito tempo. Vai empobrecer, e acabará por desaparecer, como os exemplos de certas tribos africanas claramente ilustram.

61 comentários:

Lionheart disse...

O autor fará as apreciações que bem entender, apenas acho algumas bizarras, no mínimo. É fantástico como os católicos conseguem virar o bico ao prego. Agora quando as mulheres eram obrigadas a ficar em casa era uma coisa "boa", porque os homens "serviam" as mulheres. Até porque estas em casa não faziam "nada" e "queriam" lá ficar de "bom" grado, até porque é "duvidoso" que as mulheres possam ter outros interesses sem ser a vida familiar. Por isso "só" agora é que são exploradas, coitadas. É como a história do luso-tropicalismo. Era só "amor", "não" houve violações nem "nada" que se parecesse. Mas atenção que era só num sentido, branco com negra ou asiática. Ai do indígena que se atrevesse a olhar para uma branca.

O caso das mulheres portuguesas no mercado de trabalho serem maioritárias deve-se à pobreza dos agregados familiares, que obriga que ambos os membros do casal sejam obrigados a trabalhar. Além disso, como estão habituadas a ganhar menos que os homens, as mulheres ficam geralmente menos tempo a receber subsídio de desemprego do que os homens. Como ficam socialmente mal vistas se passarem o dia no café ou a cirandar, como fazem os homens, e se fartam de ficar em casa sem ver ninguém e sem falar com ninguém, preferem trabalhar e ganhar menos que antes, do que estar no desemprego. É a minha opinião.

Vivendi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

Na América Latina muitas mulheres ainda preferem e entendem essa missão católica.

Este movimento serviu também para consolidar o escravizar do trabalho assalariado, pois no geral um só salário nos dias de hoje não protege a família. E pior, muitas vezes nem os salários conjuntos do casal.

Não que defenda o papel da mulher em casa, julgo sim que deverá haver para elas uma maior liberdade de escolha invés da quase obrigatoriedade em ter uma carreira profissional com as vicissitudes dos dias atuais.

Todas as instituições sejam públicas ou privadas desceram a sua qualidade funcional ano após ano, tornando-se mais híbridas, incaraterizadas e de relações cada vez menos duradouras. O que aconteceu?

Ricciardi disse...

Bem, eu penso que o trabalho nao êh só aquele de onde provem dinheiro. Um gajo trabalha sem necessariamente ganhar salário. O mesmo êh dizer que mto trabalho êh remunerado de outra forma. O bem estar êh a melhor forma de remuneração. Um missionário, por ex, trabalha sem salário. O objectivo nao eh colher salario para comprar uma coisa qualquer, mas antes trabalhar para satisfazer necessidades alheias. Êh a lógica da caridade. Ao mesmo tempo que sendo caridoso para os outros obtém remuneração em gêneros pela satisfação e gozo de ajudar.
Numa família êh a mesma coisa. Se se constituiu êh porque se pretende o bem estar da mesma. E o bem estar da família pode passar, mas nao necessariamente, por um dos elementos do casal trabalhar sem salário. A remuneração neste caso êh a felicidade e o tempo e paz e a boa formacao dos elementos da família, que deixa o elemento que trabalha com salario muito mais feliz e concentrado naquilo que faz profissionalmente.
Êh claro que muitas pessoas tem outros objecto os na vida que nao apenas a família. E esta bem. Tem anseios e sonhos de empreender, de trabalhar nos seus dons, de pintar, de compor música, de lecionar, de ir a lua, de ser mecânico, eu sei lá. Mas o que eu acho êh que 90% dessas pessoas andam enganadas. A gaja que gostava de pintar vai dobrar camisas para uma loja, a que gostava de lecionar vai para caixa de supermercado, etc. Na verdade poucos são os que são felizes tabalhando para obter salário. Mas a esperança nao morre, nao êh?
.
Rb

AF disse...

O trabalho é escravidão??!!! Mas então, se está escrito, num pórtico de entrada com letras todas catitas, que "o trabalho liberta" !!!???

Fernanda Viegas disse...

Prof. nem o homem deve servir a mulher, nem a mulher deve servir o homem. O ideal é que se complementem. Ressalvando toda a consideração intelectual que tenho por si, atrevo-me contudo a dizer que este post é de uma tremenda demagogia. Essa não é de todo a sociedade que eu quero para mim, nem para aqueles de quem gosto.

Fernanda Viegas disse...

Ricciardi o mesmo acontece com os homens. Nem todos trabalham no que gostam. Mas esse volt face vocês não vão conseguir, caríssimos. Hoje em dia as mulheres estão muito menos interessadas em constituir família do que os homens. E o "combate" não se vai fazer ao nível de "caixa do super", ou da "loja" do centro comercial, mas sim ao nível dos lugares de topo. Temos pena!!

marina disse...

bem , nem sei que diga , estou parva. fui ver uns números no pordata e em 2010 a população activa era de 5.580,7 milhões ,2.931,8 homens e 2.648,9 mulheres ; depois , por causa da percentagem de mulheres no mundo laboral , dei de caras com um artigo no DN de abril de 2011 sobre um relatório da ocde e "As mulheres estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho, com as portuguesas a representar já mais de 60 por cento da força laboral.."
de forma nenhuma defendo que a mulher deva ficar em casa ,e sobretudo nesta época em que o divorcio é banal jamais deve depender económicamente do marido , mas lá que aqui há qualquer coisa de errado , há. a mulher anda mesmo a trabalhar para o homem !

Fernanda Viegas disse...

Elas são mais do que eles Marina. Numa população ativa de 5.587.300 milhões, a relação mulheres/homens é de 107 para 100 respetivamente.

marina disse...

mas foi isso que eu fui confirmar ao pordata , Fernanda. se reparar , os homens em idade activa são mais que as mulheres. não muito , cerca de 300 mil , mas são mais. é a partir dos 65/70 anos que as mulheres são em maior número. a esperança de vida da mulher é maior , somos fortes :)

marina disse...

mas .. pode ter razão . não consigo encontrar dados mais precisos no site do ine ,num quadro sintético. a verdade é que eu estava a incluir na população activa toda a gente capaz em idade de trabalhar ( dos 15 aos 65 , penso) mas só inclui os empregados e os desempregados à procura de emprego .

Pedro Sá disse...

Bem que anda por aí uma tentativa de convencer os mais incautos de que ser mera mãe e dona de casa é um privilégio...PA experimente dizer isso às suas filhas ver para que sítio é que elas o mandam...

Ricciardi disse...

Fernanda (Maria?), nao me parece que as mulheres estejam menos dispostas a constituir família. As mulheres e os homens. Mas tenho, de facto, muitos amigos que nao pensam em ter filhos. Eu acho isso muito estranho, sinceramente, mas admito que haja excepções na normalidade das coisas que sempre foram. O que me encanita êh o facto das excepções estarem a tornar-se a normalidade.
Isto deve-se, a meu ver, ao materialismo vigente e ao facilitismo do mundo virtual. Quer dizer, o pessoal êh capaz de passar a noite toda a jogar um tamagochi e cuidar de um bebe virtual, mas nao êh capaz de cuidardes um verdadeiro. A razão assenta na facilidade com que se pode descartar a responsabilidade no mundo virtual. Êh essa facilidade que o pessoal aprecia. Nao incorrer em responsabilidades. Dai o aborto ser encarado, hoje em dia, como uma forma ideal de descartar responsabilidades. Êh uma espécie de clique no ficheiro para a reciclagem. O problema nao e financeiro, êh de comodismo e responsabilidade para manter uma vida de gozo, festarolas, saídas no turmas com os amigos - non stop - a vida toda.
Quanto as mulheres chegarem ao topo. Pois claro que chegam. Elas nao são diferentes em capacidade intelectuais dos homens. Mas tem uma diferença insanável. Emprenham e amamentam. E esta diferença faz-nos desiguais. Lamento, mas a natureza nao êh alteravel. Olha, quando estou em Angola, a minha mulher sofre naturalente. Alem da falta de companhia, falta-lhe a segurança que um homem pode dar. Um qualquer barulho lá fora durante a noite intimida-a fortemente. O ser humano precisa de coisa simples, mas naturais, sem as quais a vida torna-se desiquilibrada. A cidade veio alterar algumas coisas, êh certo, na natureza das coisas.
Agora, repara, a mulher pode e deve seguir os seus sonhos e dons, como o homem tambem, apenas lamento que as mulheres estejam a transformar-se em homens, e os homens cada vez mais afeminados. Êh mais do que evidente que a natureza da mulher nao êh compatível com grandes carreiras profissionais, daquelas do topo, em que êh preciso abdicar de todo o tempo que se tem.

.
Rb

Vivendi disse...

Quem quer ser uma Merkel?

zazie disse...

Ricciardi: sabes qual é o barómetro para se aferir a falta de procriação?

O nº de animais domésticos.
Uma coisa absolutamente louca. Um exagero.

E ataca mais as mulheres que os homens.

Vivendi disse...

As mulheres devem ambicionar mais o amor que a profissão e aos homens respeitarem e seguirem o bom exemplo. Assim se constrói uma comunidade.

zazie disse...

«Êh mais do que evidente que a natureza da mulher nao êh compatível com grandes carreiras profissionais, daquelas do topo, em que êh preciso abdicar de todo o tempo que se tem.»

Estranhamente também pensava assim. Ainda que perceba que cada um é para o que nasce.

Eu entendo quem é solitário ou tem uma grande necessidade de realizar coisas, mas nunca entendi a necessidade de chegar ao topo ou de carreiras.

Acho que tens razão- é algo contra-natura numa mulher.
Para quê? chegar ao topo para ser chefe, para ter poder?

E enfia isso onde?
ehehehe

zazie disse...

Os homens não procriam e daí terem mais necessidade de carreiras e lugares de topo e criarem coisas.

As mulheres são naturais contadoras de histórias- e geram filhos, dentro de si- mandam em casa.
ehehe
A sério- dizem que sou selvagem- que até fico doente com tentativas de domesticação (e será verdade) mas desconheço essa cena da "carreira" e do mando e chefia profissional.

zazie disse...

De onde virá o prazer em mandar, se o que sabe bem é ser-se independente?

Quem manda tem uma data de gente a precisar de ordens. Deve ser uma cena bem dependente, para todos os que mandam e precisam de mando.

zazie disse...

Essa é uma boa pergunta, quem quer ser uma Merkel?

Outra que não procriou. Dantes iam para freiras.

E eu defendo que as mulheres façam coisas e sejam autónomas e tudo isso. Mas daí a secundarizarem a família por causa do mando e da carreira, nem pouco mais ou menos.

Porque muitas têm trabalhos de merda a que chamam carreira. E fora isso não criam nada- consomem.

Vivendi disse...

O poder é sempre contra-natura, mesmo no homem.

E os mais perspicazes são aqueles que entendem essa condição momentânea e tem capacidade para se transformar em seres mais espirituais.

A figura de Salazar é sintomática no seu alcance. Porque nenhum político português chegou a mesma capacidade?

zazie disse...

Pois será. Eu, das únicas vezes que fui chefe foi por ter tido a noção que ia ter chatice se o chefe fosse outro colega.

Assim, como assim, o melhor era ser eu.

":OP

E sempre usei o mando para isso- para nãop ter chatices.

zazie disse...

Agora independência entendo. E até me faz muita confusão o inverso- quem tem carreira mas é dependente de tudo e de todos.

Viajar, por exemplo- conheço quem seja incapaz de o fazer sozinho ou sozinha. E eu não só o faço como até tenho um prazer especial nisso.

Quando vou em caçadas de gárgulas, claro. Uma caçada dá pica.

zazie disse...

À parte isso há excepções e temos agora uma boa- esta ministra da justiça.

Não tem paralelo com nenhum antecessor.

E até é gira e tudo. Não tem ar de frustrada nem nada de anormal.

Ricciardi disse...

Pois, claro, as coisas sao o que sao. Quer dizer, uma mulher nao pode dar um bom trolha, nem ser militar na infantaria, nem pedreira. Nas profissoes intelectuais ou artisticas já nao acontece isso. Tem a mesmissima capacidade, obviamente. Existem excelentes pintoras, menos escultoras (a rebarbadeira é pesada), excelentes presidentes de conselho de administracao.
A questão não está na capacidade, mas na natureza. Se uma mulher, em idade fertil, quer constituir familia, vai ter de abdicar da carreira, ou pelo menos suspende-la por uns tempos. É claro que ha excepções. Há mulheres que conseguem isso tudo. Depende apenas do tipo de profissão.
Agora, nao me venham com tretas, quando numa familia, a mulher chega a casa às 10h da noite e o homem tambem, porque querem muito ter sucesso profissional, nao pode existir familia. Um deles tem de abdicar. E eu acho que é esta complementaridade no casal que advem um equilibrio na familia. Um faz isto e outro aquilo em prol do equilibrio e bem estar de todos.
Isto nao quer dizer que desista do seus sonhos de realizacao pessoal, apenas quer dizer que de entre todos os sonhos um deles é natural que seja tambem o de constituir familia. Epá nao sou eu que quero muito, foi Deus que fez assim as coisas. Temos, regra geral,um impulso para nos associarmos com quem gostamos muito e cuidar da nossa maior obra de todas- os nossos filhos. Filhos esses que um dia nos deixam e produzem netos.

Rb

zazie disse...

Tens razão. E uma coisa é certa porque tenho-o observado ao longo da vida- as mulheres que não procriam acabam por ganhar pancada e da grande.

Ficam frustradas. Se não ficam logo, aos 30 e 40, ficam-no aos 50. Completamente cheias de paranóias e manias.

Já nos homens não será a mesma coisa- agora mulher sem filhos dá em megera.

zazie disse...

Porque uma coisa é certa- também não existe assim tanta gente excepcional e com dons criativos a granel.

A maioria é banal. E banalidade sem família é coisa triste- por muito lugar de topo a que chegue.

Vivendi disse...

O importante da mensagem é como passar de uma comunidade competitiva para uma comunidade apaziguada.

zazie disse...

Banalidade de topo- há-de ser essa a realização

ahahahahah

O que mais há é banalidade encarreirada.

zazie disse...

Bem, quanto a isso, o capitalismo actual desenfreado não só não a passa como estimula o contrário.

É um facto que foi o liberalismo global que ajudou a esta tristeza familiar.

zazie disse...

Mas, por cá, os lugares de topo, tão almejados, pouco passam de função pública e carreira política.

Portanto, se é para isso que nem querem ter filhos, bem podem limpar os dedos à parede.

E as criancinhas já andam encarreiradas em juventudes partidárias logo no ciclo.

Vivendi disse...

Zazie, esse pormenor é interessante,

..."Porque uma coisa é certa- também não existe assim tanta gente excepcional e com dons criativos a granel."...

Procurei agrupar quem era as melhores figuras portuguesas vivas e o resultado foi decepcionante e escasso, no lado das figuras públicas. Creio e tenho esperança que existam bem mais na esfera privada mas com naturalmente menos espaço de ação.

zazie disse...

Pois é verdade. Por isso é que se torna caricato falar nas "elites portuguesas".

Ninguém sabe onde estão. Porque, mesmo nas coisas mais simples, são sempre os mesmos.
Temos tendência para replicar a banalidade por endogamia, é o que penso.

E para esses a carreira é determinante. Já viu o que seria um bacoco ou uma bacoca sem carreira?

":O))))

Quem é excepcional destaca-se naturalmente- os criativos tendem a ser independentes- não é por carreira que fazem coisas que mais ninguém faz.

zazie disse...

Eu até os conto. Olhe- de comentadores políticos, tínhamos dois. O VPV e o Pedro Lomba- agora temos um, já que o VPV ficou fora de prazo.

(e isto dentro do que nada tem de excepcional e nem é elite, claro).

E o resto idem- contam-se pelos dedos e às vezes nem de 1 passa.

Vivendi disse...

Nem mais. O segredo está no natural.

E sabe onde se encontra as grandes figuras?

Nas nossas aldeias, de gentes e saberes seculares, em que perdura a alma portuguesa mais primitiva.

E gostaria de partilhar com o fórum a comunidade das aldeias portuguesas no facebook:

http://www.facebook.com/AldeiasPortugal

zazie disse...

Dantes era assim- poucos devem ter sobrado porque exterminaram o povo com a tv.

zazie disse...

Mas concordo- para se encontrar gente diferente e com sabedoria, só nesse Portugal profundo. Que praticamente acabou.

Foi tudo normalizado por betão, centros comerciais e televisão.

Vivendi disse...

É esse o Portugal que temos de encontrar de novo. Ele ainda existe e pode ser recriado.

zazie disse...

Mas mesmo essa coisa de se ter família e educar filhos e coisas no género, relacionadas com a casa, tende a desaparecer porque ninguém tem com quem aprender.

Criaram um mundo ad hoc onde tudo começa quando se nasce.

Acho piada às meninas que se dizem do campo e depois nem sabem cozinhar, nem fazer nada de nada.
Foram educadas no café onde aprenderam a fumar que nem homens.

É essa a mais valia. Porque depois ficam como boi a olhar para palácio ao verem uma máquina de costura ou agulhas de tricô e nem plantar umas couves sabem.

Ricciardi disse...

"as mulheres que não procriam acabam por ganhar pancada e da grande." zazie
.
Sabes uma coisa, um dia estava a falar com um funcionário em Angola que me pedia o carro para ir buscar uma outra funcionaria ao hospital. Eu disse-lhe epa a rapariga estah outra vez doente? e ele disse-me assim " mule' apartir de uma certa idadi tem qui dah filho, sinao fica sempre doenti".
És capaz de ter razão rapaz, resolve-lhe lá o problema, eu disse.
Naaa doutor, nao podji. Casei no meis passado e dispois tinha qui pagah pensão, nao dah doutor.
Referia-me ao carro pá, afiancei, leva-o e paga o internamento da rapariga, toma lá dinheiro.
ahhh mas o doutor podji dar tambem remédio a ela?
eu, epa, achas? achas que ando por aí a fazer filhos?
naaa, referia-me aos medicamentos, ele afiançou.
Pois, malandro, leva lá o carro e vai buscar a rapariga.

Rb

Vivendi disse...

É tempo de cuidar dos nossos idosos, eu sou jovem e acredito no saber dos anciãos.

E penso que os ainda mais jovens deveriam ir até as nossas aldeias e não a loret del mal.

Ver e aprender como se faz um pão no forno a lenha.

zazie disse...

ahahahahahha

Tu tens cada história aí da cubata

":O)))))

Olha, há sintomas que já conheço. Um deles começa cedo- é a pancada de juntarem sacos de plástico.

ahaahha

Enchem as dispensas com sacos de plástico. Daí a uns tempos inventam maneiras de os dobrarem.

Depois passam para os remédios- coleccionam maleitas e remédios e passam a vida em check-ins.

Fernanda Viegas disse...

Olá Ricciardi, sou a Maria (Fernanda)e como não tenho grande desembaraço com o computador, selecionei a conta do google aparecendo o nome que tenho no e.mail. Eu gostava de dizer que basicamente concordo com o que o Ricciardi disse; apenas constato o que se passa à minha volta.Grande parte das jovens, não coloca em primeiro lugar o casamento e os filhos, mas sim a profissão. Quanto à maternidade, pela parte que me toca, sou insuspeita; tenho três filhos e ser mãe é maravilhoso, contudo, não o vejo como uma missão na terra...

Fernanda Viegas disse...

A Zazie também tem razão quando diz que as mulheres ficam desconcertadas, à medida que a idade avança e não têm filhos.Conheço várias assim, mas a opção é (foi) delas.No meu entender, o que acho lamentável é não se respeitarem as diferenças.E nunca senti, como hoje em dia, tanta intolerância, discriminação e prepotência e isso preocupa-me de verdade.

zazie disse...

Hoje em dia não se respeitam as diferenças de quem é conservador. Isso sim, é obrigatório andar tudo à moda- a começar pelo léxico.

Nunca, em tempo algum, existiu uma coisa chamada "Linha da Denúncia" onde se fazem denúncias anónimas de palavras proferidas.

Nunca, em tempo algum, andou meio mundo a ser instrumentalizado pelo dogma do politicamente correcto.

Se calhar houve, apenas com processos inquisitoriais. Hoje a Inquisição é laica e é feita pelos que a praticam em nome do "direito à diferença"- obrigando todos a pensarem e expressarem-se de forma igual.

zazie disse...

Ora vejam este vídeo me manif convocada para exigir a demissão do Cavaco-

puro terrorismo inquisitorial. O homem é acusado de ter dito umas palavras- quanto baste para um processo em nome da "Liberdade".

zazie disse...

E não sei se é "opção". Hoje chama-se opção a tudo- até em ser-se maricas.

Na volta, a maioria não optou nada. Protelou, foram protelando ao engano- para imitarem as outras.

Depois já é tarde.

Fernanda Viegas disse...

E Vivendi como é que vamos apaziguar a comunidade, se o dia-a-dia é de competição? E o primeiro núcleo de competição é a família!

zazie disse...

Não vejo que a família seja o primeiro núcleo da competição.

Antes pelo contrário. É na família e em função dela que todos se integram e ajudam.

Quando um irmão tem mais dificuldades em determinadas tarefas, os pais ensinam logo o que não tem essa dificuldade a ajudar o irmão. E aquilo em que um é fraco é apoio extra que tem, salientado-se outras capacidades.

É sempre em função do amor e não da obtenção de resultados que a família funciona.

Pode é nada disto existir por a família ter degenerado. Mas esse é outro problema que nada tem a ver com as características da família (em sentido lato)

zazie disse...

O que acontece são factores exteriores de modas que se intrometem com o tradicional funcionamento das famílias.

Um deles é o sucesso. Em nome dessa palavra imbecil que deve ter nascido de concurso televisivo, muita porcaria se faz.

Há famílias que já vão atrás dessa treta de sucesso e fazem dos filhos candidatos a vedetas.

Claro que isto é uma pressão brutal para cima de desgraçados que não têm todos de nascer para aparecerem na tv.

zazie disse...

A família implica mesmo apaziguar todos, dando lugar a todas diferenças e unindo-as pelo amor.

Numa família os avós não vão para o lixo por não conseguirem competir em rentabilidade de produção com o neto, né?

Na família não há lutas de classes nem lutas de género. Não é o pai que quer provar que é melhor mãe nem a mãe que é mais competitiva no mercado que o pai.

zazie disse...

Aí não era caso de família mas de bordel....

":O+

Ricciardi disse...

Pois é, a coisa vai mal. E talvez tenhas razão zazie, quando dizes que a televisão veio alterar o estado natural das coisas. No entanto eu acho é que são os conteudos que são o grande problema. Senão vejamos, observo milhares de jovens a candidatarem-se aos idolos e coisadas semelhantes. Fazem filas de dias para o estrelato. 99% daqueles jovens não tem talento algum, nem dom, nem vocação, mas vão lá por imitação daquilo que veem na televisão. Vidas irreais, de estrelas e actores; na prática esses jovens vivem num sonho ou querem viver o sonho das vidas dos outros que os meios de comunicação consideram com gente de bem. E esses jovens não percebem que, eles próprios, tem outros talentos que estao a ser marginalizados para tentar imitar o sonho do talento dos outros que realmente teem o dom.
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E vivem frustrados porque nao conseguem ser aquilo que veem na televisao. Perdem tempo a tentar imitar as estrelas socialmente dentro da moda e esquecem-se de aperfeicoar os seus proprios talentos. As pessoas nascem com um Dom, e tornam-se Talentosas com a dedicação e trabalho e suor. É dificil encontrar o nosso Dom, mas é essencial nao perseguir miragens de Dons alheios.
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Cada pessoa tem qualquer coisa de util a acrescentar ao mundo. Mas o mundo da comunicacao valoriza apenas as estrelas de rock, futebol, de novelas e filmes etc. Gostava de que esses programas pudessem ser melhores; porque é que valorizamos um imitador de musicas e elevamo-lo a exemplo a imitar e nenhum programa é dedicado a valorizar outro tipo de dons e talentos e vocações?
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Alguém valoriza as investigadoras da universidade do minho que inventaram aquela cena das tintas ecologicas para tecidos recorrendo à nanotecnologia? ninguém lhes dá um prémio publico e televisionado. Eu sei que as empresas apreciaram-nas, mas era preciso valorizar esta gente e torna-las exemplo para a juventude. E quem diz nas ciencias, diz nas artes, nas literaturas e humanidades e agricultura etc.
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É este tipo de valorização de profissões e oficios que tem de voltar a ser feito. É importantissimo que isso seja feito, principalmente nos sectores aonde temos tradição.
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Numa coisa os gringos são finos. Quando alguém se destaca em qualquer coisa, essa pessoa é premiadissima pelas altas estancias. Um bombeiro heroi tem direito a medalhas, repotagens de televisão e jantarinho com o mayor. E isso é bom porque motiva os outros a superarem-se e esperar ser valorizado em qualquer oficio... e não apenas nos idolos.

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Rb

Fernanda Viegas disse...

Já tinha visto o vídeo da manif ao Cavaco e senti arrepios. Uma gota d'água e temos linchamentos em plena rua. Quanto ao resto acho que a Zazie está certa;é assim que deve ser.Eu tenho o péssimo defeito de analisar tudo "ao microscópio", em busca das verdades, suas contradições e esse caminho, na maior parte das vezes,conduz ao nada.

zazie disse...

O vídeo está muito bem feito. Por isso é que é perigoso.

Ricciardi disse...

Qual vídeo? botai aí o link

zazie disse...

http://www.youtube.com/watch?v=oCPWXzT8p4Y

Claro que não estou a defender o sonso do Cavaco. Mas, esta cena é uma galvanização de massas exclusivamente baseada numas palavras.

Misturam tudo e acabam com o 25 de Abril. Mais um PREC. E isto com o país na bancarrota sem sequer se importarem com os actos (e não meras palavras bacocas) dos responsáveis.

Mete medo. Mete medo porque foi preciso muita mentalização e ditadura de novilíngua para se chegar a este jacobinismo.

Vivendi disse...

Maria, julgo que a Zazie e o Ricciardi abordaram muito bem a questão.

Ao Professor não faltará concerteza oportunidades para reforço desta mensagem, neste espaço que é sem dúvida um dos mais estimulantes de toda blgosfera e do pensamento português.

Pena que seja ainda muito fechado à sociedade. O Prof. Arroja, deve encontrar novas formas de comunicação para as suas ideias terem ainda mais força. Sugiro-lhe que tente também a exposição das suas ideias pelo youtube, facebook, o agrupamento dos posts em livro, o que seja.

Procurar tentar aumentar esta comunidade. Na parte que me toca cá estarei para ajudar.

Cumprimentos a todos.

zazie disse...

E eu já falei com quem apoia esta porcaria e nem vale a pena. Ficam cegos, fanatizados- por causa de palavras.

Com a trampa da lengalenga que o resto é passado e agora o que importa é "destabilizar a base de apoio do Cavaco" (o que quer que isso seja e para que sirva).

zazie disse...

Olha morgadinho da cubata, isto é que é ideologia.

Não existe a ideologia da "social democracia" nem nada como essa historieta da conspiração contra o direito natural.

Mas existe instrumentalização das pessoas. E foi feita em décadas até na escola. No pensamento escardalho que se infiltrou em todo o lado.

Quem organiza estas mobilizações é perigoso.

Vivendi disse...

Quando se pesquisa no youtube "Pedro Arroja", poucos vídeos estão ainda disponíveis, e hoje em dia não faltam personalidades ou pensadores com imensa força de impacto através do youtube.