"A Igreja não tem modelos políticos ou económicos para oferecer ao mundo". Esta é uma afirmação recorrente nos pronunciamentos da Doutrina Social da Igreja. E que sempre me pareceu a mim uma afirmação desconcertante.
Comecemos pelos modelos políticos. A Igreja não tem modelos políticos para oferecer ao mundo? Parece que tem - o seu. Se a Igreja escolheu aquele modelo de governação, e não outro, parece que esse é o melhor para si. Por que não ser também o melhor para qualquer outra comunidade humana, por exemplo, um país?
O modelo de governação da Igreja é muito simples, muito pessoalizado e altamente descentralizado. O Papa preside à comunidade universal (igreja católica), com uma autoridade suprema e absoluta; abaixo dele, um bispo preside a cada uma das dioceses espalhadas pelo mundo; abaixo do bispo, um padre preside a cada uma das paróquias pertencentes à diocese. O padre, o bispo e o Papa estão ligados por promessas de obediência irrestrita.
O Papa sabe tudo o que se passa no mundo e, se quiser, ao mais ínfimo detalhe, e em cada paróquia. Basta perguntar ao bispo e este ao padre. Este sistema de governação permite ao Papa tomar decisões acerca de uma paróquia recôndita num qualquer país da Ásia no perfeito conhecimento das circunstâncias locais. Não será este sistema, que parece tão eficaz, o sistema ideal para governar um país?
É certo que até ao início da Idade Moderna a maior parte dos países ocidentais se governavam imitando o modelo da Igreja, através do regime de monarquia absoluta. Desde então, abandonaram-no e a Igreja parece não fazer questão de o recomendar explicitamente. Essencialmente, a Igreja diz que qualquer regime político é aceitável desde que as pessoas se sintam bem com ele, e ninguém seja abusado.
O mesmo se passa com o regime económico. A Igreja governa-se através de um regime económico que assenta na dádiva, menos na troca, e menos ainda no poder. Porém, excepto para lhes criticar os excessos, a Igreja não se opõe a qualquer outro regime económico, por exemplo o liberalismo que assenta na troca, menos na dádiva e menos ainda no poder, ou o socialismo, que assenta no poder, menos na troca e menos ainda na dádiva. A este respeito, a Igreja diz que qualquer regime económico é aceitável desde que as pessoas se sintam bem e ninguém seja excluido.
Mas, então que função têm o modelo político e o modelo económico da Igreja? São soluções de última instância, soluções para situações extremas, de urgência ou emergência. A este respeito, a mensagem implícita da Igreja é a seguinte, dirigida a qualquer comunidade humana: "Experimentem com os regimes políticos que quiserem, inventem até outros. Mas se algum dia estiverem aflitos, e não saibam o que fazer, olhem para nós, para o regime político da Igreja. Este funciona sempre, e nós estamos cá há dois mil anos para o comprovar. O mesmo com o regime económico".
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