03 março 2012

distributivismo

Existem as sementes de uma teoria económica do catolicismo lançadas em Inglaterra no início do século passado, e a que estão associados os nomes de Hillaire Belloc e G.K. Chesterton, e que se chama distributivismo.

As ideias de Belloc e Chesterton nunca tiveram grande difusão, em parte porque são ideias dispersas, Belloc e Chesterton não eram treinados em Economia, e o próprio nome da teoria, se assim se pode chamar, não é muito esclarecedor, é até enganador, porque está excessivamente ligado às condições concretas da história britânica.

A própria palavra distributivismo sugere tonalidades socialistas que não estavam no espírito dos autores e o seu enviesamento anti-capitalista é uma reacção à forma de organização económica predominante em Inglaterra. Belloc e Chesterton não eram anti-capitalistas, por serem socialistas. Não. Eles eram muito mais anti-socialistas do que anti-capitalistas, e o seu distributivismo é muito mais anti-socialista do que anti-capitalista.

O que é que significa, então, e em primeiro lugar, distributivismo? Trata-se de distribuir o quê?

Quando Henrique VIII se desligou da Igreja Católica, toda a propriedade da Igreja foi confiscada, mosteiros, igrejas e uma vastíssima propriedade fundiária. Mais tarde essa propriedade acabaria vendida ou cedida pela Coroa britânica a nobres, grandes proprietários que a exploravam sob a forma capitalista. Na opinião de Belloc e Chesterton esta propriedade deveria ter sido distribuida por pequenos proprietários (a distribuição deve aqui ser entendida sob a forma de venda, arrendamento ou outras formas de cedência).

Portanto, o distributivismo significa, em primeiro lugar e acima de tudo, uma economia baseada na pequena propriedade privada.
Tivessem Belloc e Chesterton sido portugueses e as suas ideias económicas nunca teriam ficado conhecidas pelo infeliz nome de distributivismo. A razão é que em Portugal a Igreja nunca foi perseguida da maneira que foi em Inglaterra (e mais ainda no norte da Europa) nem a propriedade da Igreja confiscada numa tal dimensão. Não havia nada para distribuir à escala que existiu em Inglaterra.
A estrutura proprietária de Portugal, largamente assente na pequena propriedade, sobretudo no norte do país, torna Portugal particularmente adequado, à partida - e sem qualquer necessidade de distributivismo -, à implementação das ideias económicas de Belloc e Chesterton. E a força das circunstâncias presentes vai fazer ressurgir no país - na realidade, já está a fazer ressurgir no país - uma economia baseada na pequena propriedade familiar.

1 comentário:

CN disse...

Não sei se já deu com Dorothy Day