Dentre as contribuições protestantes que o Papa Bento XVI deu à Igreja Católica moderna, talvez a mais importante foi dada ainda como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé quando presidiu à comissão de teólogos que durante anos elaborou o novo Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Papa João Paulo II em 1992.
O Catecismo uma contribuição protestante?
Sim. O catecismo é uma ideia protestante que o catolicismo imitou do protestantismo. A palavra catequese vem do verbo grego katechein que significa ressoar ou ecoar, e, na verdade, é mais fácil imaginar um pastor luterano do que um padre católico - excepto se fôr jesuíta - de megafone na mão a fazer ecoar a sua doutrina, a proselitar.
Os primeiros catecismos são o Pequeno Catecismo de Martinho Lutero e o Catecismo Alemão, ambos publicados em 1529. Os católicos imitaram a ideia ainda na Alemanha, tendo S. Pedro Canisius produzido três catecismos entre 1555 e 1559, um para o clero, outro para os jovens, outro ainda para as crianças. E foi só em 1566, quase 40 anos depois do primeiro catecismo protestante, que saiu um catecismo de Roma, o Catecismo do Concílio de Trento para o Clero.
Embora desde então tenham existido catecismos para certos sectores da Igreja Católica - como o Catecismo americano que teve uma duração de vida de 75 anos no século XIX, e destinado à Igreja Católica da América -, a verdade é que o Catecismo de 1992, elaborado pela comissão presidida pelo Cardeal Ratzinger, é o segundo Catecismo oficial da Igreja Católica e produzido a uma distância de 426 anos do primeiro.
O Catecismo contém a versão oficial e autoritária da doutrina católica, e tem a forma de um código legislativo com os artigos devidamente numerados, 2865 no total. É o código da fé católica, reflectindo o ênfase protestante que, tendo rejeitado a Tradição como fonte da Revelação e retido apenas as Escrituras (A Lei), desenvolveu a tendência para juridicalizar a vida e codificá-la.
O catolicismo guardou a Bíblia e a Tradição como fontes da revelação divina. Pode dizer-se que o Catecismo é o livro que representa a Tradição, pois é ele que contém a interpretação da Bíblia, destilada por mais de dois mil anos de experiência histórica da humanidade. O Catecismo é O Livro do catolicismo e, para os leigos pelo menos, é muito mais importante do que a Bíblia.
Nos mais de quatro séculos que medearam entre os dois Catecismos saídos de Roma, a doutrina católica andou dispersa pelo Catecismo de Trento, pelos vários documentos conciliares, pelas encíclicas, e pelos vários pronunciamentos papais acerca das questões da fé católica. Neste ambiente, e à excepção talvez de alguns teólogos, ninguém sabia ao certo o que era a doutrina católica.
Foi também neste ambiente, acentuado pela liberalidade que o Concílio Vaticano II veio trazer à interpretação do catolicismo, que o Cardeal Ratzinger assumiu as funções de guardador da fé católica a partir de 1981, na sua condição de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisção). Mas o que era a fé católica? Em muitos aspectos, ninguém sabia ao certo.
O Catecismo uma contribuição protestante?
Sim. O catecismo é uma ideia protestante que o catolicismo imitou do protestantismo. A palavra catequese vem do verbo grego katechein que significa ressoar ou ecoar, e, na verdade, é mais fácil imaginar um pastor luterano do que um padre católico - excepto se fôr jesuíta - de megafone na mão a fazer ecoar a sua doutrina, a proselitar.
Os primeiros catecismos são o Pequeno Catecismo de Martinho Lutero e o Catecismo Alemão, ambos publicados em 1529. Os católicos imitaram a ideia ainda na Alemanha, tendo S. Pedro Canisius produzido três catecismos entre 1555 e 1559, um para o clero, outro para os jovens, outro ainda para as crianças. E foi só em 1566, quase 40 anos depois do primeiro catecismo protestante, que saiu um catecismo de Roma, o Catecismo do Concílio de Trento para o Clero.
Embora desde então tenham existido catecismos para certos sectores da Igreja Católica - como o Catecismo americano que teve uma duração de vida de 75 anos no século XIX, e destinado à Igreja Católica da América -, a verdade é que o Catecismo de 1992, elaborado pela comissão presidida pelo Cardeal Ratzinger, é o segundo Catecismo oficial da Igreja Católica e produzido a uma distância de 426 anos do primeiro.
O Catecismo contém a versão oficial e autoritária da doutrina católica, e tem a forma de um código legislativo com os artigos devidamente numerados, 2865 no total. É o código da fé católica, reflectindo o ênfase protestante que, tendo rejeitado a Tradição como fonte da Revelação e retido apenas as Escrituras (A Lei), desenvolveu a tendência para juridicalizar a vida e codificá-la.
O catolicismo guardou a Bíblia e a Tradição como fontes da revelação divina. Pode dizer-se que o Catecismo é o livro que representa a Tradição, pois é ele que contém a interpretação da Bíblia, destilada por mais de dois mil anos de experiência histórica da humanidade. O Catecismo é O Livro do catolicismo e, para os leigos pelo menos, é muito mais importante do que a Bíblia.
Nos mais de quatro séculos que medearam entre os dois Catecismos saídos de Roma, a doutrina católica andou dispersa pelo Catecismo de Trento, pelos vários documentos conciliares, pelas encíclicas, e pelos vários pronunciamentos papais acerca das questões da fé católica. Neste ambiente, e à excepção talvez de alguns teólogos, ninguém sabia ao certo o que era a doutrina católica.
Foi também neste ambiente, acentuado pela liberalidade que o Concílio Vaticano II veio trazer à interpretação do catolicismo, que o Cardeal Ratzinger assumiu as funções de guardador da fé católica a partir de 1981, na sua condição de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisção). Mas o que era a fé católica? Em muitos aspectos, ninguém sabia ao certo.
Por exemplo, a recente teologia da libertação tinha sido desenvolvida na Alemanha, mas para se saber ao certo a verdade acerca dela a Alemanha era um mau laboratório. Um bom laboratório, capaz de a levar aos extremos, tinha de ser um país profundamente católico. O teólogo brasileiro Leonardo Boff estudou na Alemanha sob a orientação de professores que eram adeptos da teologia da libertação e, quando mais tarde regressou ao Brasil, foi isso mesmo que ele foi fazer - leva-lá ao extremo. Em breve, em nome da teologia da libertação estava a defender a luta de classes e a alimentar movimentos marxistas na América Latina, em nome do cristianismo.
Ora, a luta entre os homens - a luta de classes ou qualquer outra forma de luta - é exactamente o oposto da mensagem de Cristo, que pregou o amor entre os homens. Foi com estas questões que o Cardeal Ratzinger teve de lidar, e foi com o vigor intelectual de um protestante - e por oposição à bagunçada doutrinal em que o catolicismo vivia há séculos, sob a direcção de Papas predominantemente italianos - que ele se entregou à tarefa de definir com rigor o que era a verdadeira fé católica.
Muitos sectores da Igreja não gostaram. A Leonardo Boff e a vários outros teólogos foi-lhes retirada a licença para ensinarem em nome da Igreja Católica. O caso mais célebre é talvez o do teólogo suíço Hans Kung que nos anos sessenta tinha levado o jovem Ratzinger para a prestigiada Universidade de Tubingen, onde ambos foram durante anos professores, colegas e amigos. Kung começou a ensinar, entre outras coisas, que a Igreja Católica devia ser governada, não por um Papa, mas por um colégio de cardeais democraticamente eleitos. Ora, isto era protestantismo do mais puro. Ficou também sem licença e, indignado, chamou “nazi” ao seu ex-colega.
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