Quem tem Kant, Hegel, Nietzche a Marx pode ter muitas coisas, e decerto tem algumas - por exemplo, uma elevada produtividade económica -, mas há uma coisa que, de certeza, não tem - sentido de comunidade.
Não é por acaso que os pais fundadores da Comunidade Europeia eram todos católicos e que o Tratado fundador da Comunidade foi assinado em Roma, com a benção do Papa Pio XII. É que os católicos têm uma comunidade - uma Igreja -, ao passo que os protestantes não têm, eles têm várias comunidades (igrejas), todas divididas entre si. Isto é especialmente válido para os protestantes da variedade luterana.
O Tratado de Maastricht, sintomaticamente assinado num país protestante, a Holanda, mudou o nome de Comunidade Económica Europeia para União Europeia, e isso foi uma infelicidade. Porque uma União faz-se normalmente contra alguém ou alguma coisa, ao passo que uma Comunidade faz-se sempre por alguém ou por alguma coisa.
A União Europeia está agora numa encruzilhada. A saída da Grécia do Euro, a que se seguirá inevitavelmente a de Portugal e a dos outros PIGS será um golpe tão violento que poderá levar ao desmembramento da União Europeia. Não tanto porque os PIGS, isolados, não consigam sobreviver. Conseguem, sempre conseguiram. Mas porque os alemães, isolados, esses é que não o conseguem fazer. Eles não sabem fazer uma comunidade.
Sempre que ficaram isolados, os alemães desataram à bulha uns com os outros e, pior, ainda, rapidamente a externalizaram ao mundo inteiro. Foi primeiro a Guerra dos Trinta Anos, depois a I Guerra Mundial e finalmente a II Guerra Mundial. O saldo ascende a cerca de 100 milhões de mortos. Ainda recentemente a senhora Merkel reconheceu o falhanço da política de multiculturalismo na Alemanha, a tentativa mais recente dos alemães para construirem uma comunidade no seu próprio país.
Se é um facto inquestionável que os PIGS não têm (nem nunca terão) os níveis de produtividade e competitividade da Alemanha, o outro facto inquestionável é que que os alemães não sabem fazer uma comunidade. Por isso, a Comunidade (União) Europeia interessa crucialmente aos alemães, sem a qual, e olhando para história, eles se vão matar uns aos outros outra vez.
Por isso, a única maneira, em alternativa ao desmembramento, de manter a Comunidade Europeia de pé é os alemães perdoarem as dívidas aos gregos e àqueles que vierem a seguir (portugueses, espanhóis e italianos). E não apenas isso. É necessário que a União Europeia institua um sistema permanente de transferências dos países do Norte, mais competitivos para os países do Sul, menos competitivos.
Ou será que os alemães, não sabendo fazer uma comunidade, esperam ter uma Comunidade de borla? Eles não dão de borla o know-how que lhes permite fazer os BMW's e os Mercedes. Por que razão haviam os PIGS de fornecer de borla o know-how que lhes permite fazer Comunidades?
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