09 fevereiro 2012

Insegurança

Qual é a diferença entre ser um metodista - ou, para o efeito um evangélico, um calvinista, um luterano, um mormon, ... - e ser católico?

É como a diferença entre um homem escolher uma terra - mesmo que seja uma grande cidade - para aí viver toda a sua vida fechado ou, em alternativa, escolher o mundo. Noutra escala, é como a diferença entre viver toda a vida fechado numa rua estreita, ou viver no mundo inteiro.

Para mim foi uma grande descoberta ter encontrado o protestantismo luterano na Igreja Católica, entre os jesuítas. Eu estou agora convencido que, se procurar, encontro também na Igreja o metodismo, o calvinismo, o evangelismo americano, o judaísmo, o taoísmo o confucionismo, o islamismo e cada uma destas confissões religiosas em todas as variedades possíveis.

Mas não apenas isso. Se procurar, eu vou encontrar no seio da Igreja, nas suas ordens e congregações e em outras organizações católicas, todas as formas possíveis de governação de uma comunidade humana, presentes ou passadas, incluindo o comunismo, o socialismo-democrático, o liberalismo, a monarquia constitucional, a monarquia absoluta, e cada uma destas em todas as suas variedades possíveis (no caso do comunismo: leninismo, maoísmo, castrismo, etc.). É só uma questão de procurar.

Mas então, para quê ser socialista e não católico, para quê viver fechado numa rua estreita se posso viver no mundo inteiro? Para quê ser liberal-clássico, no sentido anglo-saxónico e protestante, se posso ser católico, para quê decidir viver fechado numa aldeia se posso ter o mundo todo à minha disposição?

Ao decidir ser metodista ou, para o efeito liberal ou socialista, eu estou a decidir fechar-me numa terreola com os meus conterrâneos, quando tinha o mundo todo à volta onde viver, isto é, quando podia ser católico. Porque ser católico inclui tudo isso, ao passo que cada uma dessas coisas exclui ser católico. O mundo inclui todas as terreolas, mas nenhuma terreola é o mundo.

Ser metodista, ou para o efeito ser liberal ou socialista, ou outro qualquer sectarismo, significa, por isso, e em primeiro lugar, ser provinciano ou parolo, restringir a inteligência e a razão, limitar a imaginação às verdades de uma seita, quando o mundo tem, na realidade, muitas outras verdades. É um exercício de auto-mutilação humana.

Mas o ponto final a que eu queria chegar é o de inquirir como é que um metodista, ou, para o efeito, um socialista ou um liberal, ou outro sectário qualquer, vê um católico. O que é que ele sente perante um genuíno católico, e um genuíno católico é, em primeiro lugar, o homem capaz de tudo, excepto de uma coisa - segregar a comunidade humana, estabelecer divisões, pertencer a uma seita?

Sente insegurança. Insegurança é o sentimento que os católicos inspiram aos não-católicos, sejam eles metodistas, socialistas ou liberais, porque insegurança é o sentimento que o homem mundano inspira ao provinciano. O provinciano só conhece as verdades da sua terra, o homem mundano conhece as verdades de todo o mundo.

Perante um problema para o qual é preciso encontrar uma solução , o provinciano diz: “É assim” porque essa é a única verdade conhecida na sua terra. O homem mundano responde: “Pode ser assim, mas também pode ser assado; ou estornicado; ou até em grau intermédio entre o assado e o estornicado - estornicadinho; e também pode ser frito, cosido; e crú também vai bem...”. Para o não-católico a única verdade que ele conhecia começa a abanar, ele sente-se agora sobre areia movediça. Vai precisar de se agarrar, senão cai. É este sentimento de insegurança que o catolicismo produz sobre os outros.

Dois provincianos, cada um de sua terra, podem facilmente entender-se, cada um conta a sua verdade ao outro, e até as comparam, é até provável que fiquem amigos, embora não seja de excluir o oposto, que se tornem inimigos. De qualquer forma é uma relação simples, de verdade contra verdade. Mas a relação entre uma provinciano e um homem mundano é muito diferente e desigual, é a relação entre um homem que só tem uma verdade e um outro homem que é bem capaz de conhecer todas as verdades do mundo.

Para o mundo não católico, esta insegurança produz rejeição. Tudo menos católicos por perto, tudo menos isso. Convém primeiro identificá-los, talvez até arranjar uma designação que os descreva a todos (v.g., PIIGS) para sabermos onde está o perigo, e donde ele pode vir, e depois contê-los, mantê-los à distância, talvez até dominá-los. Porque se os deixamos livres, ninguém sabe o que pode vir dali, são imprevisíveis, e as nossas verdades, as verdades sobre as quais assenta a nossa vida, rapidamente podem ser estilhaçadas.

Insegurança. É isso também que ressalta desta história pessoal. Na família e entre os amigos ninguém se importava que o autor se convertesse a outra seita protestante. Mas converter-se ao catolicismo é que não. Os católicos são diferentes e, portanto, imprevisíveis.

Sem comentários: