Estarão as soluções para os problemas que hoje afectam Portugal e os portugueses no catolicismo? Eu estou convencido que sim. É preciso é procurá-las. Se não estiverem lá não estão em mais lado nenhum.
Esta segunda parte da tarefa não parece nada fácil, como não foi fácil chegar ao fim da primeira. Mas, mesmo desconhecendo as soluções, poder-se-à, desde já, dizer alguma coisa acerca delas? A resposta é um conclusivo sim.
Primeiro, a dificuldade em encontrar as soluções há-de ser, em parte, aparente, porque tudo no catolicismo é uma união de contrários. Chegar às soluções há-de ser difícil e fácil ao mesmo tempo, daquelas coisas que, uma vez lá chegados, nos deixam surpreendidos por nos parecerem tão óbvias. Estavam mesmo debaixo do nariz.
Segundo, as soluções virão no plural, não no singular. O catolicismo não oferece a solução aos problemas de uma comunidade, isso é típico do protestantismo que as oferece em pacotes ou ideologias, como o liberalismo ou o socialismo. O catolicismo é assim como um brunch em que todos os alimentos estão ali à disposição e em que cada um, segundo as circunstâncias e os seus apetites do momento, compõe o seu próprio prato, um bocadinho disto, mais outro daquilo e, em breve, tem o prato cheio de coisas boas e bem combinadas - uma óptima refeição. O catolicismo não impinge lombo de porco a quem só gosta de peixe, nem bacalhau na brasa a quem só gosta de carne.
Terceiro, as soluções aparecerão de forma inesperada e serão expressas por homens - não será só um, mas serão vários - que os outros têm uma certa dificuldade em compreender e lidar com eles. Parecem estranhos aos olhos dos outros, de tal forma que os outros sentem-se inseguros ao pé deles. Serão os tais homens nas abas da distribuição, uma mistura de santos e pecadores.
Quarto, as soluções serão baseadas na tradição dos portugueses e, portanto, no seu passado. Mas não serão iguais às do passado. Desengane-se quem pensa que o futuro nos reserva uma nova edição do salazarismo. Aquilo que caracteriza o catolicismo é o seu ênfase nas circunstâncias. Ao contrário do protestantismo que oferece soluções ao mundo - como o liberalismo e o socialismo - que são independentes das circunstâncias do tempo e do lugar, as soluções do catolicismo estão sempre dependentes do tempo e do lugar, das circunstâncias presentes e da tradição. O catolicismo, ao contrário do que parece, nunca sugere soluções passadas para os problemas presentes da humanidade, porque o presente não é igual ao passado.
Quinto, as soluçoes do catolicismo são soluções para o presente, não para o futuro, e também aqui ele se distingue radicalmente das soluções oferecidas pelo protestantismo. O futuro ninguém conhece, certamente que não nos seus detalhes ou circunstâncias. As soluções virão, portanto, sob a forma de ideias, comportamentos e instituições destinadas a resolver os problemas presentes, do desemprego e do crescimento económico, do desmantelamento parcial do Estado-Providência que não podemos pagar, da corrupção, da restauração dos sistema de justiça, da representatividade do povo nas instituições políticas, etc.
Sexto, as soluções não chegarão todas de uma vez, numa espécie de sopetão. Chegarão, pelo contrário, em pequenas peças, uma agora outra depois, uma aqui outra ali, como um puzzle que se vai resolvendo encaixando as diferentes peças umas nas outras. Parece um divertimento de crianças.
Sétimo, serão predominantemente mulheres a dar as dicas ou sugestões que apontam para as verdadeiras soluções, frequentemente na privacidade das suas próprias casas. Serão, porém, predominantemente homens a formulá-las e a executá-las. As soluções chegarão com cara de homem, mas sairão de mulher, exactamente da mesma forma que eu e tantos outros chegámos ao mundo com cara de homem, mas saídos de mulher.
(PS. A fotografia foi escolhida somente para representar crianças a resolver um puzzle. Curiosamente, são as raparigas que estão concentradas a tentar resolvê-lo, enquanto o rapaz está lá agachado não se sabe a fazer o quê. Provavelmente, à espera que elas lhe dêem os sinais ou indicações para ele fazer alguma coisa).
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