21 janeiro 2012

Sagres



Recentemente, estive na ponta de Sagres. Estava uma linda manhã de sol e isso permitia ver a vastidão do mar que se estendia para sul e oeste. Todas as outras vezes que lá tinha estado tinham sido em dias com nevoeiro.

A pergunta que, naturalmente, me ocorreu, foi: "Por que é que Sagres se tornou um local tão importante e simbólico dos Descobrimentos portugueses?".A resposta estava ali à vista, olhando para o mar a sul.

As expedições portuguesas partiam normalmente de Lisboa, e rumavam a sul seguindo paralelamente à costa portuguesa e depois, paralelamente à costa africana. A ida era fácil, mas o regresso, seguindo a mesma rota em linha recta, mas agora de sul para norte, era penoso, porque os ventos eram imensamente adversos.

E foi por isso que, mais tarde, os portugueses descobriram um truque, que é hoje uma banalidade para quem viaja da Europa para a América, ou inversamente: a viagem para cá demora menos tempo (cerca de um hora, talvez um pouco mais), do que a viagem para lá. Uma corrente de ventos fortes sopra da América em direcção à Europa, ajudando o avião ou o navio.

Por isso, em lugar de regressarem de sul para norte, paralelamente à costa africana, os navegadores portugueses passaram a deixar-se descaír primeiro para ocidente, e depois regressavam a Portugal com o vento pelas costas. Foi numa dessas descaídas que terão avistado pela primeira vez o Brasil. Mas isto só aconteceu mais tarde.

De início, o regresso era feito subindo a costa de África. E era penoso. É natural que, já no final da viagem, existissem muitas emergências a bordo, doentes, falta de mantimentos, velas danificadas, rombos no casco, e nalguns casos os portugueses eram perseguidos por piratas (os holandeses e os ingleses eram especialistas nesta arte). E foi assim que Sagres se tornou importante.

O primeiro ponto de Portugal, para quem vem da costa de África é Sagres. Acontece que o mar é ali recortado por rochas que formam pequenas e acolhedoras baías. E ao olhar para o mar a sul é possível imaginar ainda hoje o comandante da nau a dizer para o timoneiro: "Oh Chico encosta aí ... encosta já aí ... isto já é Portugal. Pede já um médico que o Manel está a morrer".

Depois, nesta cultura muito pessoalizada, havia a saudade e a expectativa do regresso. Pois quem quisesse esperar os navegadores, onde quer que eles estivessem no mar a sul, estava mais próximo deles estando na ponta de Sagres.

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