Menos castelos

Foi no Verão passado, ao regressar de umas férias em Porto Santo, que decidi ficar dois dias na Madeira. Eu já conhecia a Ilha, na realidade fazia 35 anos que lá tinha ido pela primeira vez. Num dos dias, decidi alugar um automóvel e percorrer mais uma vez a Madeira.

Aquilo que imediatamente me fez pensar foi o enorme contraste entre a Madeira e Porto Santo. Porto Santo não tem nada - excepto aquilo que é essencial para viver. A Madeira, pelo contrário, tem tudo, na minha opinião é o melhor destino turístico que Portugal tem para oferecer e um dos melhores que conheço no mundo. O Funchal, em particular, é bem capaz de ser a cidade mais cosmopolita do país e uma das mais cosmopolitas do mundo.

Até aqui, nada de novo. A cultura católica é uma cultura muito ampla, uma cultura que faz conviver os contrários, e todos os graus intermédios. O extremo contraste entre a Madeira e Porto Santo não era de admirar.

Foi então que, ao percorrer a Ilha, a Madeira me foi parecendo cada vez mais uma réplica do Continente. Tudo aquilo que existia no Continente também existia na Madeira. Imaginei-me a viver na Madeira, comparando com o Continente. Havia alguma coisa de que eu iria sentir falta? Não, tudo aquilo que eu podia imaginar e que existia no Continente também existia na Madeira. Nos meses seguintes entretive-me mesmo a testar esta tese perguntando a várias pessoas interessadas na ideia, se conheciam alguma coisa no Continente que não existisse na Madeira. Algumas sugeriram vinho, mas a Madeira tem vinhos; outros praias, mas a Madeira tem praias. E só fui surpreendido quando uma pessoa me disse: "A Madeira não tem castelos". Fui confirmar. É verdade, a Madeira não tem castelos. Nunca foi preciso combater lá os mouros nem os castelhanos. Tem apenas dois fortes.

Se Madeira tem tudo (excepto castelos) e é uma réplica do Continente, será que Portugal é um país que tem tudo? Gradualmente, toda a minha experiência de vida e de estudo fez convergir a resposta para um conclusivo sim. A grande vantagem competitiva de Portugal, que Porter procurou sem sucesso e que eu também nunca tinha encontrado, a maior de todas, aquilo que Portugal tem de especial para oferecer ao mundo, é precisamente isso. Tem tudo.

Estava mesmo debaixo dos olhos. Portugal é um país de cultura profundamente católica, uma palavra que significa universal. Ora um país de cultura universal tem de ter tudo aquilo que existe no mundo. Quanto à muitíssimo católica Madeira, essa, também tem tudo. Menos castelos.