A política de comércio externo apropriada para um país católico, como Portugal, é o mercantilismo, uma política em que o Estado assume um papel activo no sector, protegendo a economia nacional de certas importações e encorajando activamente certas exportações. Só através desta política é possível equilibrar a tendência natural que esta cultura tem para importar tudo e mais alguma coisa, e a dificuldade que ela tem em exportar as suas próprias coisas.
Quando Adam Smith publicou aquele que é considerado o livro fundador da ciência económica em 1776, governava então em Portugal o Marquês de Pombal. Na sua defesa do livre-cambismo, Smith apontava precisamente Portugal como o exemplo acabado do atraso em matéria de política de comércio externo, seguindo o país na altura uma via mercantilista que contrastava com as novas ideias do liberalismo económico.
No século XIX os ingleses voltaram à carga com o argumento da vantagem comparativa de David Ricardo, um economista britânico que possuía ascendência portuguesa. Para ilustrar os benefícios do comércio internacional livre, Ricardo utilizou como exemplos a indústria de lanifícios inglesa e a indústria de vinho portuguesa. Desta vez, o Governo português caíu na esparrela, e em contrapartida da ajuda recebida para lutar contra as invasões francesas, assinou uma série de acordos de livre comércio com a Inglaterra.
Foi uma tragédia. Tudo desembocou na crise financeira de 1890, com o país a dever dinheiro a toda a gente, a começar pelo ingleses. No final do processo, a indústria inglesa dos lanifícios continuava nas mãos dos ingleses. Mas a indústria portuguesa dos vinhos (do Porto) também já estava nas mãos deles.
Deixem-se os portugueses importar livremente e eles vão importar este mundo e o outro. Quanto a pagar, logo se vê. Quando finalmente a factura chega, para que fiquem os dedos, têm de ir os aneis. Iato está-se a passar outra vez em Portugal e mesmo debaixo dos nossos olhos. Como é que alguém, com um mínimo de realismo, ainda defende o liberalismo económico para Portugal? Só se fôr para arruinar o país, mais do que aquilo que ele já está.
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