12 janeiro 2012

Austrália

A cultura católica, dada a sua natureza universal, cria no povo um sentimento de subserviência em relação ao estrangeiro. Para esta cultura, tudo aquilo que é importante é estrangeiro e está no estrangeiro, e isso, em certo sentido, é verdade, porque aí é que está tudo aquilo que esta cultura precisa para se manter católica. A cultura católica tende, por isso, a criar uma imagem do provincianismo a que se referiu Fernando Pessoa, a admiração por tudo aquilo que não se tem, por tudo aquilo em que não se participou, por tudo aquilo que se deseja imitar e que, no final, acabará por ser imitado. A cultura católica projecta uma aparência provinciana.

Pelo contrário, a cultura protestante, que é verdadeiramente uma cultura provinciana, projecta uma imagem universal. Aquilo que caracteriza a cultura protestante, deste ponto de vista, é que, ao contrário da cultura católica, ela valoriza tudo aquilo que é seu e desvaloriza tudo aquilo que é estrangeiro. É uma cultura que não visa imitar nada, e por isso não tem curiosidade nem admiração por nada que não seja seu. É uma cultura que espera ser imitada: "Aqui estamos. Somos bons. Imitem-nos".

Os ingleses, neste aspecto, são paradigmáticos. Segundo eles próprios, eles são os autores de tudo aquilo que existe no mundo, da democracia moderna, do primeiro Parlamento, da descoberta da América, da descoberta da Austrália, da fundação da Ciência Económica, até, ainda segundo eles, dos Descobrimentos Portugueses (através da influência que Filipa de Lencastre exerceu sobre os seus filhos).

...Da descoberta da Austrália. Afinal, parece que não foram eles a descobri-la.

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