A situação económica em que se encontram os países predominantemente católicos do sul da Europa, mais a ortodoxa Grécia – os chamados países da dolce vita, do Club Med, ou PIGS, uma sigla aparentemente criada na Alemanha mas popularizada em língua inglesa – tem feito reavivar o interesse na tese que Max Weber popularizou no seu livro de 1905, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”.
A tese de Weber não era inteiramente original. Antero de Quental já a tinha formulado mais de 30 anos antes nas célebres Conferências do Casino sob o título “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”. Essencialmente, a tese afirma que a ética protestante, com o ênfase que coloca nas virtudes do trabalho, da poupança, da honestidade, do respeito pela palavra dada, do cumprimento dos contratos, da disciplina pessoal e de uma certa austeridade de vida, é mais propensa ao desenvolvimento económico do que a ética católica. Por outras palavras, os países protestantes tendem a ser economicamente mais sólidos e progressivos do que os países católicos.
A tese parece assentar que nem uma luva à situação actual da Europa Ocidental, na medida em que os países em maiores dificuldades, para além da Grécia, são precisamente os mais católicos – Portugal, Espanha e Itália, aos quais se acrecenta, por vezes,a também católica Irlanda. A tese parece também descrever a situação económica na Europa ao tempo em que foi formulada - finais do século XIX, princípios do século XX. A Igreja Católica conheceu então aquele que foi, talvez, o período mais baixo da sua história - o mesmo sucedendo a Portugal, Espanha e Itália -, a tal ponto que não faltava quem previsse a sua extinção num espaço de uma ou duas gerações. Entre nós, esta previsão, que era também um desejo, foi partilhada por Afonso Costa.
A realidade é que a partir do início do século XIX (em Portugal, a partir da Revolução Liberal de 1820), os países católicos do sul da Europa decidiram imitar as instituições protestantes ou modernas – constitucionalismo, partidarismo, republicanismo, separação de poderes, parlamentarismo e, na esfera económica, o mercado como instituição central, e mais tarde, o Estado. As consequências foram catastróficas, e não apenas do ponto de vista económico. É este facto ainda agora – o de terem voltado a imitar as instituições protestantes, virando costas às suas próprias tradições – que explica as dificuldades presentes dos países católicos.
A tese de Weber não possui uma validade intemporal. O países católicos não estão condenados a serem menos prósperos que os países protestantes. Quando vivem de acordo com as suas próprias tradições e instituições, os países católicos podem ser tão ou mais prósperos que os países protestantes.
Poderia ter ocorrido a Weber que, ao tempo da Reforma protestante (inícios do século XVI), os países mais prósperos do mundo eram precisamente os mais católicos – Espanha e Portugal. Mais recentemente, entre 1926 e 1974, o país que mais cresceu em toda a Europa Ocidental foi um país católico – Portugal, um milagre económico segundo o Financial Times de 1973 – seguido de perto pela Espanha, porque ambos viveram então com instituições que eram muito mais próximas da sua tradição católica. E o último milagre económico conhecido do mundo Ocidental ou Cristão é o Chile dos anos 80 – ainda um país católico vivendo de acordo com a sua tradição católica. Talvez se possa ainda acrescentar um milagre económico mais recente nos anos 90, mas também esse ocorreu num país católico - a Irlanda. Há quem fale agora num milgare económico no Brasil, o mais católico de todos os países do mundo. No mundo ocidental, os milagres económicos parecem só acontecer em países católicos. Talvez porque só os católicos acreditam em milagres.
(Publicado,com alterações, no jornal A Ordem, Janeiro, 2012)
(Publicado,com alterações, no jornal A Ordem, Janeiro, 2012)
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