22 janeiro 2012

comunhão

Até aqui eu tenho invocado o personalismo como uma característica central da cultura católica. Eu pretendo agora introduzir uma outra - o sentido de comunidade ou comunhão. Como sempre, o meu objectivo é laico - tem a ver com a Economia -, e não tem quaisquer pretensões teológicas.

O personalismo católico - a ideia de que cada um tem uma relação pessoal e única com Deus - está na base da ideia de diferença e de diversidade, que é uma das marcas distintivas da cultura católica. Porém, se não fôr exercido em comunhão com os outros, conduz à pior foma de individualismo, que é a ideia que cada um é diferente dos outros, quando afinal são todos iguais. Foi por esta via que seguiu o protestantismo.

Eu tenho uma relação pessoal com Deus, que é única, e é isso que me torna diferente dos outros. Os outros pensam o mesmo acerca de si próprios e da relação que cada um mantém com Deus. Porém, se eu, e cada um dos outros, nos fecharmos nesta relação, e não a comunicarmos uns aos outros, que garantia temos nós que elas não sejam, afinal, todas iguais?

Para que o personalismo seja a fonte formadora da diferença e da personalidade, cada pessoa precisa da companhia dos outros, precisa de estar com os outros, e de falar com eles, porque só aí ela pode definir e avaliar as suas diferenças em relação aos outros. Nunca o conseguirá ficando sozinho a falar com Deus. É por isso que, para o catolicismo não há relação com Deus, por mais intensa ou profunda que seja, que possa dispensar inteiramente o contexto comunal. A cultura católica possui um grande sentido de comunidade.

Ao contemplar a história de Portugal, eu fico com o sentimento que os melhores períodos foram aqueles em que os portugueses estavam animados de um grande sentido comunitário e, embora eu não seja um historiador, toda a lógica aponta para isso. Os portugueses têm uma cultura universal, não existe talento no mundo que algum português não tenha. Quando estão juntos, eles são o mundo, não há nada de que não sejam capazes. Conseguem tudo, às vezes até parece milagre.

Pelo contrário, quando as circunstâncias da vida e as instituições (partidos políticos, separação de poderes, concorrência económica, etc.) os separaram, e os dividiram, nunca conseguiram fazer nada. Sozinhos são insignificantes - eles próprios se vêem como insignificantes e, por isso, se desvalorizam mutuamente -, e Portugal vai ao fundo. Como agora.

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