09 janeiro 2012

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Portugal é um país de importadores natos. A sua cultura católica (universal) leva os portugueses a desejar possuir, ou imitar, tudo aquilo que existe no estrangeiro, uma característica sem a qual a sua cultura deixaria de ser católica ou universal.

Em comparação, os portugueses não são grandes exportadores, e o mesmo acontece com todos os outros povos de cultura católica (italianos, espanhóis, etc.). Não é apenas que a estrutura empresarial dos países de cultura católica, a que aludi num post anterior, onde predominam as pequenas empresas orientadas para segmentos muito pequenos do mercado, os torna mal capacitados para a exportação. É a sua própria cultura católica que os torna maus exportadores. Eles são os primeiros a depreciar as suas próprias coisas, sejam produtos sejam pessoas.

Quem quiser um dia assistir à arte de dizer mal dos italianos, e de depreciar tudo aquilo que é italiano, não deve ir procurar nos EUA, na Inglaterra ou na Alemanha. Não. Itália é o lugar certo para assistir ao espectáculo. O mesmo acontece em Portugal, Espanha, Brasil ou qualquer outro país partilhando a cultura católica.

Como podem os portugueses promover aquilo que é português - produtos e pessoas -, se, logo cá dentro e à parte raras excepções, cada vez que abrem a boca é para depreciar aquilo que é português? Basta ler os jornais. Os temas são a corrupção, os julgamentos disto e daquilo, o autarca condenado que não vai para a prisão, a velhinha que morreu no hospital sem assistência, o cantor que batia na mulher, o restaurante chique fechado pela ASAE, o falsificador do Queijo da Serra em Albufeira, os roubos do multibanco e do carjacking, a menina desaparecida e nunca mais encontrada.

O Vinho do Porto é, talvez, o mais emblemático produto português no estrangeiro, mas não foi promovido por portugueses porque eles nunca o conseguiriam fazer. Foi promovido por ingleses. A pizza é um prato distintamente italiano, mas quem a internacionalizou não foram os italianos, foram os americanos. E um dia que se faça a história do Vinho Mateus Rosé, outro produto português emblemático no estrangeiro, eu estou razoavelmente certo que se vai descobrir que quem o promoveu não foi um português, mas algum estrangeiro, provavelmente inglês.

O Marketing não é uma instituição católica, é uma instituição protestante, sobretudo americana; na realidade, não existe sequer uma palavra nos países de cultura católica para traduzir a ideia, forçando à importação directa da palavra americana. Os protestantes são os especialistas em Marketing, os católicos são os especialistas em anti-Marketing. Esta é a sua especialidade, dizer mal daquilo que é seu.

A exportação não é o forte dos países de tradição católica. Antes pelo contrário. Eles não se sabem promover, na realidade são os primeiros a despromover-se. Compreende-se facilmente que a cultura católica tenha uma tendência nata para valorizar tudo aquilo que é estrangeiro. Mais difícil de compreender é a tendência igualmente nata que ela tem para desvalorizar tudo aquilo que é nacional e, portanto seu. Talvez porque um país católico, por ser universal, sinta que não tem nada de novo ou original para oferecer ao mundo, que tudo aquilo que ele tem também existe algures em alguma parte do mundo.

Engana-se. Um país católico tem uma coisa que nenhum outro país fora da sua cultura tem. Ele tem tudo aquilo que existe no mundo.

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