O défice das contas externas – basicamente, a diferença entre Importações e
Exportações – constitui o maior problema da economia portuguesa, e a origem de muitos outros (escassez de crédito, falências, desemprego). Os portugueses falharam de forma concludente, em termos de competitividade internacional, nesta época de globalização.
E, no entanto, foram os portugueses nos séculos XV e XVI, juntamente com os espanhóis, os pioneiros da globalização - entendida como a extensão do comércio à escala intercontinental -, e Portugal conheceu então o período mais próspero da sua história.
O que mudou no processo de globalização desde então, que diferenças existem entre a globalização dos séculos XV e XVI e a globalização actual, o que explica o enorme sucesso português no primeiro caso e o seu rotundo falhanço no segundo?
A globalização portuguesa dos séculos XV e XVI foi uma globalização relevando tipicamente da cultura católica, ao passo que a globalização actual provém da cultura protestante.
A globalização portuguesa (e espanhola) dos alvores da modernidade era uma globalização assente em relações pessoais. Os portugueses foram por esse mundo fora estabelecendo relações pessoais, e as relações comerciais eram depois assentes sobre as relações pessoais. Produzia-se para, ou comerciava-se com, o mandarim chinês ou o soba africano.
Pelo contrário, a globalização actual está assente em ideias, não em pessoas, e em particular nas ideias do economista britânico do século XIX David Ricardo, segundo as quais a liberdade comercial entre nações e continentes é benéfica para a generalidade das populações. A globalização actual realiza-se pelo esbatimento das barreiras alfandegárias e pela e remoção de todos os outros impedimentos à liberdade de circulação de recursos (v.g., trabalho, capital) entre nações e continentes. Cada um passa a ser livre de produzir para uma massa anónima de pessoas situada noutro país ou continente.
Esta globalização assente na ideia abstracta da vantagem comparativa (David Ricardo), e distintamente impessoal, briga directamente com duas características principais da cultura católica – primeiro, o seu ênfase no concreto em detrimento do abstracto; segundo, e mais importante, o seu carácter altamente pessoalizado.
Dizer a um português que agora pode produzir livremente para a Alemanha ou para a China, leva-o imediatamente a perguntar: “Mas produzo para quem?”. E sem que esta pergunta esteja respondida, ele não faz nada e a globalização não lhe diz nada.
Exportações – constitui o maior problema da economia portuguesa, e a origem de muitos outros (escassez de crédito, falências, desemprego). Os portugueses falharam de forma concludente, em termos de competitividade internacional, nesta época de globalização.
E, no entanto, foram os portugueses nos séculos XV e XVI, juntamente com os espanhóis, os pioneiros da globalização - entendida como a extensão do comércio à escala intercontinental -, e Portugal conheceu então o período mais próspero da sua história.
O que mudou no processo de globalização desde então, que diferenças existem entre a globalização dos séculos XV e XVI e a globalização actual, o que explica o enorme sucesso português no primeiro caso e o seu rotundo falhanço no segundo?
A globalização portuguesa dos séculos XV e XVI foi uma globalização relevando tipicamente da cultura católica, ao passo que a globalização actual provém da cultura protestante.
A globalização portuguesa (e espanhola) dos alvores da modernidade era uma globalização assente em relações pessoais. Os portugueses foram por esse mundo fora estabelecendo relações pessoais, e as relações comerciais eram depois assentes sobre as relações pessoais. Produzia-se para, ou comerciava-se com, o mandarim chinês ou o soba africano.
Pelo contrário, a globalização actual está assente em ideias, não em pessoas, e em particular nas ideias do economista britânico do século XIX David Ricardo, segundo as quais a liberdade comercial entre nações e continentes é benéfica para a generalidade das populações. A globalização actual realiza-se pelo esbatimento das barreiras alfandegárias e pela e remoção de todos os outros impedimentos à liberdade de circulação de recursos (v.g., trabalho, capital) entre nações e continentes. Cada um passa a ser livre de produzir para uma massa anónima de pessoas situada noutro país ou continente.
Esta globalização assente na ideia abstracta da vantagem comparativa (David Ricardo), e distintamente impessoal, briga directamente com duas características principais da cultura católica – primeiro, o seu ênfase no concreto em detrimento do abstracto; segundo, e mais importante, o seu carácter altamente pessoalizado.
Dizer a um português que agora pode produzir livremente para a Alemanha ou para a China, leva-o imediatamente a perguntar: “Mas produzo para quem?”. E sem que esta pergunta esteja respondida, ele não faz nada e a globalização não lhe diz nada.
(Publicado no jornal A Ordem, Outubro de 2011, sob o título A Globalização)
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