No caminho em que Portugal se encontra – a que chamarei, por simplicidade, o caminho do Euro – a economia portuguesa está sujeita a uma lenta asfixia: cada ano será pior do que o anterior: mais desemprego, mais falências, mais austeridade. A Grécia está aí como exemplo vivo, para dizer aos portugueses, com um ano de antecedência, aquilo que lhes vai acontecer. Assim, por exemplo, daqui por um ano os funcionários públicos não estarão a lamentar, como agora, a perda dos subsídios de férias e de Natal. Estarão numa situação muito pior, como já estão os gregos: estarão a interrogar-se se o Estado terá dinheiro, no final de cada mês, para lhes pagar os salários.
A saída de Portugal do Euro, ou o desmembramento da zona Euro, tem sido por vezes descrita como uma grande catástrofe para Portugal. Mas não é. Catastrófico é o caminho actual – o caminho do Euro – porque é um caminho de empobrecimento progressivo e sem esperança. O Euro pode hoje ser considerado o mais colossal erro de política económica cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Não foi, porem, caso único.
No início dos anos 90, a Argentina decidiu ligar a sua moeda – o peso – ao dólar através de uma relação de paridade – uma política conhecida por peg e que, para todos os efeitos práticos, era equivalente à existência de uma moeda única entre os dois países. Não possuindo os níveis de produtividade americanos, aquilo que sucedeu à Argentina nos anos seguintes foi o mesmo que sucedeu a Portugal com referência aos países mais produtivos da zona Euro, como a Alemanha: um défice externo permanente, dinheiro que saía todos os anos do país para pagar esse défice, o recurso inicial ao crédito para o fazer, até que o crédito começou a escassear. Nessa altura o dinheiro começou a faltar no país, enquanto os argentinos apertavam o cinto e o desemprego aumentava, e até os bancos ameaçavam falência. As manifestações de rua sucederam-se e os governos foram contestados.
Até que, à beira do caos económico, social e político, a Argentina decidiu acabar com a política do peg. O peso caiu 30% face ao dólar, mas o emprego começou a subir imeditamente, primeiro nas indústrias exportadoras e nas de substituição de importações. Os rendimentos voltaram a aumentar, embora acompanhados de alguma inflação (cerca de 9%, em média, nos últimos cinco anos). Hoje, a economia argentina, que antes estava paralisada como a portuguesa, cresce a uma robusta taxa de 10% ao ano. Nenhuma catástrofe o abandono do peg. Antes, a salvação.
(Publicado no jornal A Ordem, Dezembro 2011)
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