“Greek Prime Minister George Papandreou stunned Europe by announcing a referendum on his country's latest bailout—a high-stakes gamble that could undermine the international effort to preserve the euro. A "yes" vote in the referendum could deflate the massive street protests and strikes that threaten to paralyze Greece as it tries to enact a brutal austerity program to earn rescue loans from the euro zone and the International Monetary Fund. A "no" vote, however, could bring down the government and cut off international funding for Greece, leaving the country facing a financial meltdown. The government expects to hold the referendum in January”, no Wall Street Journal. Ora, na minha opinião, o anúncio de ontem representa a vitória da Democracia com ‘D’ grande. Em particular, a vitória daqueles que, como eu, deixaram de acreditar na legitimidade democrática de muitas decisões que se têm tomado, por esse mundo fora, através dos órgãos emanados da chamada democracia representativa. Assim, ao entregar a decisão final sobre os destinos do seu país aos seus concidadãos gregos, Papandreou fez o que a (boa) consciência de qualquer político na sua situação obrigaria a fazer. Venceu, portanto, a noção de “government of the people, by the people, for the people”. E ainda bem.
Agora, há uma coisa que convém salientar: ao contrário do que as sondagens indicam, é importante que os gregos entendam acerca da impossibilidade de, por um lado, conciliar o perdão da dívida e as condições de austeridade que lhe estão associadas e, por outro lado, de assegurar a sua permanência na zona euro.
Querer o melhor dos dois mundos, simplesmente, não é possível. Se votarem “Sim”, pelo novo acordo, a austeridade manter-se-á, bem como a exigência de reformas estruturais que, a prazo, curem o problema da falta de competitividade e o défice externo da economia grega (portuguesa). Se, pelo contrário, votarem “Não”, condicionarão a Grécia (Portugal) à saída do euro, sendo quase certo que, antes do regresso a alguma prosperidade, afundarão mais do que aquilo que já afundaram porquanto o défice na balança de pagamentos terá de se ajustar à bruta e instantaneamente.
Note-se que a literatura financeira, nomeadamente a obra de Reinhardt e Rogoff (“This Time is Different”), indica que no ano do “default”, definido como ‘t’, em média, ocorre uma contracção equivalente a 4% do PIB, a que se segue um crescimento (real) médio anual de 2,9% nos três anos seguintes. O problema é que na actual situação não está apenas em causa o incumprimento da dívida; está também em cima da mesa o efeito associado a uma desvalorização cambial, que se seguiria à saída da zona euro e que, em teoria, agravaria a dimensão do “default”. Deste modo, é precisamente esta última variável que importa estimar, mas que é de tão difícil estimação. O exemplo recente da Argentina é aquele que mais se aproxima da Grécia (Portugal) nos dias que correm, sendo que os números argentinos, confirmando as estimativas de Reinhardt e Rogoff, parecem dar a entender que uma eventual saída da união monetária do euro, como a Argentina fez ao abandonar o peg face ao dólar, não teria impacto no afundanço e posterior recuperação da economia. Há, contudo, uma nota de realismo que é necessário sublinhar. É que o regresso do crescimento e a redução do desemprego, sim, ocorreriam, mas a expensas de um grande custo: o enclausuramento (político, financeiro e cultural) do país face ao resto do mundo ao qual, no caso de um “default” descontrolado e à má fila, poderia eventualmente acrescentar-se o isolamento comercial da sua economia (nota: o crescimento argentino tem estado muito associado ao "boom" brasileiro). Ora, estarão os gregos (portugueses) preparados para assumir estes riscos?
Enfim, a solução menos má, de facto, talvez esteja numa saída negociada do euro…E é para isso que começo a inclinar-me. Uma solução que nos permita sair do euro, pacificamente, minimizando os prejuízos de todos, dos países devedores e dos países credores. Aceitemos, por fim, a ideia de que o federalismo político na Europa, sem o qual a união monetária não sobreviverá, está rejeitado à partida porque não há, nos países da União Europeia, nem consciência nem cidadania europeia; há, quanto muito, consciências e cidadanias nacionais. Por isso, pedir aos gregos (portugueses) que se comportem como alemães ou, pior ainda, que se tornem eles próprios alemães, não é viável. Tal como não é aceitável exigir que continuem a ser os alemães a acomodar aqueles que não se querem “reformar”. E, portanto, se a União Europeia ainda é um projecto democrático, então, é simples: dê-se voz e poder ao povo. Que seja o que o povo quiser. Sejamos, numa só palavra, Democratas!
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