“Não houve detenções. Um grupo de seis indivíduos danificou os cartazes dos manifestantes que continuam frente à Assembleia da República e duas pessoas foram identificadas”, indicou a mesma fonte.”, no Público.
A notícia do Público, que em cima transcrevo e que foi assinada sob o título “Duas pessoas identificadas por provocar desacatos frente à AR”, é muito interessante. É que facilmente induzirá em erro o leitor que se fique apenas pelo título. Inicialmente, quando li as gordas, pensei que os identificados pela Polícia seriam manifestantes do "Occupy Lisboa". De seguida, lendo melhor a notícia, apercebi-me de que, afinal, os identificados nada tinham a ver com a manifestação; eram, na realidade, manifestantes contra a manifestação “Occupy Lisboa”!
Ora, tenho seguido estes movimentos com muita atenção e até agora ainda não me tinha pronunciado a seu respeito. Vou então quebrar o silêncio, afirmando o seguinte: continuo sem perceber a real motivação destes indignados. O que é que querem e o que é que reivindicam? Mais Estado ou mais Democracia? Enfim, se a resposta é “Mais Estado”, então, só poderei discordar. Se, pelo contrário, a resposta for “Mais Democracia”, na forma de maior empowerment e maior responsabilização do eleitorado na tomada das decisões, em alternativa à acção genericamente leviana e inimputável da classe política, então, só poderei concordar. Comece-se, portanto, iniciando uma cultura de referendos populares, com carácter de regularidade, em matérias de superior interesse nacional, como, por exemplo, o Orçamento de Estado (que eu, no que se refere ao de 2012, votaria favoravelmente). É exótico? É, mas na minha opinião, e antes mais cedo que mais tarde, é por esta via que deveríamos enveredar porque a ruína financeira que vivemos hoje é consequência directa de uma outra ruína, ainda maior, que também nos aflige: a política e o simulacro de Democracia em que vivemos, na qual a maioria reclama direitos e somente uma minoria responde com obrigações.
Infelizmente, o movimento que agora se manifesta na Assembleia da República parece-me manifestamente mal motivado, a começar no nome “Occupy (Ocupai) Lisboa”. A generalidade das pessoas que ali tenho visto manifestarem-se, bramando contra os privilégios de alguns (e, sim, são muitos e são obscenos), parecem-me querer apenas um pouco do mesmo, ou seja, que alguém lhes dê a mesma rede, a mesma artificialidade, que criticam em alguns dos outros. Mas a realidade é uma: o País está falido. Repito, o País está falido! Por isso, não se trata de Ocupar Lisboa, ou Portugal para todos os efeitos, porque foi este o caminho que nos conduziu à actual penúria; trata-se, sim, de Desocupar Portugal…dos privilégios e dos interesses instalados. Governar melhor, sim. Governar com os olhos no quintal do vizinho, não.
Sem comentários:
Enviar um comentário