O liberalismo moderno - o de inspiração anglo-saxónica -, ou neoliberalismo, foi ao catolicismo e retirou-lhe a autoridade pessoalizada, suprema e absoluta - correspondente, na teologia, à figura do Papa -, e onde o catolicismo recomendava um equilíbrio entre a prossecução do interesse indivídual e a prossecução do interesse comunitário, com uma moderada preponderância do primeiro, o liberalismo exagerou a preponderância do indivíduo face à comunidade.
O socialismo procedeu de modo semelhante, e é também um filho desnaturado do catolicismo, derivado do protestantismo germânico ou luterano. O socialismo - que é o irmão mais novo do liberalismo - foi ao catolicismo e também lhe retirou a autoridade pessoalizada, suprema e absoluta - correspondente na teologia, à figura do Papa -, e onde o catolicismo recomendava um equilíbrio entre a prossecução do interesse individual e a prossecução do interesse comunitário, com uma moderada preponderância do primeiro, o socialismo inverteu os termos desta relação, e passou a dar preponderância à prossecução do interesse comunitário em detrimento do interesse individual.
A tanto se resume, naquilo que é essencial, o pensamento filosófico da modernidade. A originalidade não é grande. Em lugar de uma autoridade pessoal, suprema e absoluta, a chefiar uma comunidade humana (uma Ekklesia: comunidade), quer o liberalismo quer o soailismo põem uma autoridade que, sendo constituída por muitas pessoas, perde o carácter pessoal, para se tornar impessoal, mantendo embora a sua natureza suprema e absoluta - o Povo - e por aqui se vê a sua irmandade protestante.
Um homem ou o povo a mandar de forma suprema e absoluta? Um homem, diz o catolicismo. O povo, dizem em uníssono o liberalismo e o socialismo. É esta a diferença essencial entre o ancien regime e a revolução (modernidade), entre a direita ("Um homem") e a esquerda ("O povo"), à qual pertencem quer o liberalismo quer o socialismo.
Dando primazia ao indivíduo sobre a sociedade, mas exagerando-a, o liberalismo permanece mais próximo do catolicismo do que o socialismo, o qual inverte os termos desta relação, dando primazia à sociedade sobre o indivíduo, e daqui resulta uma diferença entre liberalismo e socialismo que é importante notar. O liberalismo põe o povo a mandar preferencialmente através de processos voluntário ou espontâneos, que partem da iniciativa individual, e de que o processo de mercado é o mais importante; e só em última instância através de processos coercivos, de que o processo político, envolvendo o Estado, é o mais importante. Daí a sua reivindicação do Estado Mínimo e Mercado Máximo. No socialismo é ao contrário, o povo manda preferencialmente por efeito da sua acção agregada no processo político, que é um processo que se realiza pela coercividade do Estado, e só secundariamente por processos espontâneo, como o mercado. Daí a sua reivindicação de Estado Máximo e Mercado Mínimo.
Mas aquilo que é importante notar é que, quer o liberalismo quer o socialismo, são ambas ideologias de esquerda, não de direita, ambas originárias do protestantismo e adversárias do catolicismo. Em Portugal, um país de tradição católica por excelência, são ambas destrutivas, embora o socialismo mais do que o liberalismo, porque é o socialismo que mais se afasta do catolicismo. Ambos são uma espécie de filhos perversos que querem matar a mãe.
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