21 agosto 2011

no protestantismo

O discurso do Papa Bento XVI aos jovens universitários em Espanha, citado pelo Joaquim em baixo, põe em evidência alguns contrastes fundamentais entre a cultura católica e a cultura protestante e que as torna, sob certos aspectos, irreconciliáveis. Naquilo que segue, utilizo o Kant, às vezes considerado o filósofo do protestantismo, como termo de comparação ao pensamento do Papa.

Primeiro, a Verdade existe e nós podemos conhecer a Verdade. Para o protestantismo, nós não podemos conhecer a Verdade, mas apenas as aparências.

Para o Papa, chega-se à Verdade através do coração (amor) e do intelecto (razão), que são a contribuição feminina e masculina, respectivamente, desse empreendimento. Pelo contrário, para o protestantismo chega-se à Verdade somente através do intelecto (razão), tornando a procura da Verdade um empreendimento predominantemente masculino e conferindo às sociedades protestantes o seu carácter essencialmente masculino.

As pessoas não possuem a Verdade, diz o Papa, é a Verdade que as possui a elas. A Verdade está nelas. Elas só têm que aproximar-se dela. A procura da Verdade é um processo interior, espiritual, de contemplação e meditação. Pelo contrário, para o protestantismo, a Verdade é exterior às pessoas e a aproximação à Verdade (ou às suas aparências) é um caminho exterior, o da investigação.

Para o Papa, a aproximação à Verdade é um processo pessoal ou subjectivo, cada um tem o seu caminho, porque a Verdade não se revela da mesma maneira para todos. Para o protestantismo, pelo contrário, a verdade é objectiva, igual para todos, revela-se a todos da mesma maneira e, por isso, só qualifica como tal, quando é sancionada por todos (ou, pelo menos, pela maioria).

Este último ponto é essencial do ponto de vista da teoria do conhecimento.
Para o catolicismo, a visão que eu tenho da Verdade é tão respeitável como a visão que o meu vizinho tem da Verdade, porque embora a Verdade seja única, una e indivisível, ela revela-se a cada um de nós de forma diferente. Estamos no cerne do chamado personalismo católico. Para o protestantismo (Kant), pelo contrário, as coisas passam-se de maneira muito diferente. A única visão que interessa da Verdade é aquela que é sancionada pela maioria, sendo que a minha visão pessoal não interessa para nada, já que a Verdade é igual para todos e revela-se a todos da mesma maneira, e se se revelou a mim de maneira diferente é porque eu tenho algum defeito (v.g., loucura). A desvalorização da pessoa humana é notória, a pessoa humana sujeita à "Verdade" da multidão. As origens dos totalitarismos modernos não se devem procurar noutro lugar. Devem procurar-se no protestantismo.




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