O liberalismo está no seu melhor em matéria económica e é certo que, outras coisas sendo iguais, uma empresa privada é melhor gerida do que uma empresa pública. Este é o argumento económico para a privatização da RTP.
Porém, a vida não se esgota em argumentos de racionalidade económica. Existem, por vezes, outros, de longe mais importantes e que têm de ser ponderados. A um ou outro liberal mais atrevido, eu já tenho dito: "Se os seus pais se governassem apenas por argumentos de racionalidade económica, tinha-no deitado ao mar logo no dia em que você nasceu. Você só lhes deu prejuízo".
O Estado é uma instituição importante na vida de uma sociedade, é uma descoberta civilizacional das maiores. E o Estado precisa de comunicar com os cidadãos sem impedimentos. Em certas culturas, como a protestante, é possível confiar no sector privado que, ainda assim, o Estado consegue fazer chegar as suas mensagens aos cidadãos sem impedimentos nem enviesamentos. Como sucede nos EUA.
Mas não é de esperar tal coisa num país de cultura católica. Aqui a parcialidade é a regra, e frequentemente uma parcialidade assanhada, que frequentemente degenera em maliciosidade e perseguição. Como é que um governo liderado por José Sócrates faria chegar as suas mensagens à população num mundo em que as televisões fossem presididas por pessoas como o José Eduardo Moniz e a Manuela Moura Guedes? E como é que um governo liderado por mim comunicaria com a população se à frente das televisões privadas estivessem jornalistas como a Fernanda Câncio? Não comunicaria de todo, ou as mensagens chegariam à população radicalmente distorcidas.
É melhor que o Governo guarde um canal da RTP. Caso contrário, acabará vítima do seu próprio excesso de zelo privatizador.
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