O processo de descredibilização do novo ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, já começou, e por onde eu esperava - a sua produção académica. Hoje, no Público, na coluna habitual da última página, Sobe e Desce, lá aparece a fotografia do Ministro com a seta apontada para baixo, e a legenda: "Diz-se com insistência que o novo ministro da Economia fala de mais, mas pelos vistos não é só de agora. No seu livro os Mitos da Economia Portuguesa defendeu que, «se a Madeira quiser, um dia poderá tornar-se independente" E dava como exemplo os casos de Malta, Chipre e Timor-Leste. Uma ideia que terá dificuldade em manter agora no Governo»".
Esta legenda remete para um texto na página 6 onde o Jornalista Tolentino de Nóbrega faz alusão a um capítulo do livro de 2007 de Álvaro Santos Pereira onde ele, numa perspectiva académica e económica, analisa a ideia da independência da Madeira, aparentemente concluindo que a Madeira tem condições económicas para ser independente. Diz depois que uma tal ideia só deveria concretizar-se depois de estudos de custo-benefício apropriados, e só depois de feito um referendo.
Aquilo que se pretende passar é que o Ministro é favorável à independência da Madeira, para assim o embaraçar Mas não é isso que ele escreveu. Ele não é nem deixa de ser favorável á independência da Madeira. Aquilo que ele escreveu é que a Madeira tem condições económicas para ser independente, mas que a independência, a concretizar-se, devia ser precedida de estudos adequados e, acima de tudo, de um referendo.
O Ministro da Economia, que é um excelente académico, em breve estará ridicularizado.
O Ministro vem de um país democrático - o Canadá -, onde o separatismo não se resolve à paulada, mas democraticamente. Nos últimos trinta anos, os movimentos separatistas no Québec conduziram a dois referendos onde a população da Província foi inquirida se queria ou não separar-se do Canadá. Em ambos os casos, a resposta maioritária da população foi Não, embora da última vez por uma pequena margem.
O Ministro vai aprender que não está no Canadá. Que está num país sem tradição democrática, onde as coisas se resolvem quase sempre à traulitada, incluindo os debates de ideias. A grande diferença entre o povo canadiano e o povo português (que não a elite) é que, do ponto de vista intelectual, o povo português é bronco (em contrapartida, do ponto de vista do coração - da caridade ou do amor ao próximo , é muito melhor que o canadiano). Não sabe discutir uma ideia, não tem hábitos disso. E eu não me refiro ao povo agricultor ou operário, porque esse, em geral admite humilde e prontamente que não é competente para discutir este ou aquele assunto. Refiro-me ao povo que tem pretensões intelectuais, o povo que geralmente frequentou a Universidade - a maioria dos jornalistas, professores, políticos, bloggers, etc. -, mas que, ainda assim, nunca deixou de ser povo. Esse é que é o pior povo, e tem esse defeito principal - é intelectualmente bronco. Como o Ministro Álvaro Santos Pereira, por certo, já se estará a dar conta.
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