08 julho 2011

coisas de meninas

A reacção colectiva de quase histeria ao downgrading da Moody's revela uma característica muito peculiar e feminina da cultura portuguesa - a sua hipersensibilidade às palavras e às opiniões. Olhando com distanciamento os jornais, as televisões e os blogues fica-se com a ideia de que Portugal é uma donzela ofendida. Que maldade dizer-se dela o que se disse. E, no entanto, a Moody's, emitiu sobre ela uma opinião. Apenas uma opinião.

Esta hipersensibilidade às palavras é compensada na cultura portuguesa por uma falta de sensibilidade extrema aos actos, que são as coisas que realmente interessam. E ontem ocorreu uma daquelas que vão doer imediata e inequivocamente aos portugueses. E, no entanto, ninguém falou dela. Refiro-me ao aumento das taxas de juro pelo BCE.

Um dos inconvenientes de uma união monetária como a Zona Euro é o facto de a política monetária passar a ser única para toda a Zona e não poder tomar em consideração a especificidade das conjunturas económicas nacionais. Neste momento, a conjuntura na Alemanha, França e outros países do norte da Europa é de expansão e a política monetária adequada é a de aumentar as taxas de juro para conter as pressões inflacionaistas. Pelo contrário, no sul da Europa - como em Portugal, Espanha, Grécia e Itália -, a conjuntura é de severa recessão e a política monetária deveria visar a redução ou manutenção das taxas de juro para estimular o crescimento.

Na sua decisão de ontem em aumentar as taxas de juro, o BCE esteve-se nas tintas para a conjuntura dos países do sul da Europa, e isso não deve ser surpreendente porque quem, em última instância, manda no BCE são os alemães. Tomou apenas em conta os interesses dos países do norte. Isto é que deveria em Portugal ser energicamente protestado e combatido. Não coisas que, comparativamente, são coisas de meninas, como a opinião que a Moody's tem sobre o país.

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