Eu gostaria neste post de retomar o tema de "Portugal como Flórida da Europa" exposto pelo Ministro da Economia num dos seus livros e mais recentemente numa sua intervenção pública, primeiro para lhe fazer justiça, segundo, para o comentar e procurar demonstrar porque é que isso não seria possível - nem desejável.
Começo por salientar que o argumento é de natureza turística, e teria em vista fazer de Portugal na Europa aquilo que, do ponto de vista turístico, a Flórida é para a América do Norte (EUA e Canadá). Devo acrescentar também que, tendo vivido na América do Norte, eu próprio já defendi este argumento, mas hoje estou rendido à realidade - não é possível nem desejável.
Começo por salientar que o argumento é de natureza turística, e teria em vista fazer de Portugal na Europa aquilo que, do ponto de vista turístico, a Flórida é para a América do Norte (EUA e Canadá). Devo acrescentar também que, tendo vivido na América do Norte, eu próprio já defendi este argumento, mas hoje estou rendido à realidade - não é possível nem desejável.
E o que é que caracteriza a Flórida como destino turístico? O seguinte:
1. O clima da maior parte do território da América do Norte é mau, e imensamente frio no Inverno. Uma boa parte da classe média americana tira umas curtas férias no Inverno e vai para a Flórida, onde o clima é mais ameno, passar uma ou duas semanas, um break aos rigores do clima das cidades onde vive.
2. Mais importante do que isso - e penso que era este ponto que o Ministro tinha principalmente no espírito - uma parte da classe média americana, quando se reforma, vai viver para a Flórida. Este é o turismo ideal - ou mais propriamente a imigração ideal. Pessoas de idade, com algum poder de compra, que só gastam dinheiro e só consomem, e que não concorrem no mercado local de trabalho. Contribuem para criar empregos e riqueza enquanto, eles próprios, não tiram o emprego a ninguém.
3. Mas a característica principal destes movimento turistico e migratório para a Flórida é a de se tratar de um fenómeno de massa. Não são nem uma nem duas nem dez mil pessoas. São milhões. E é isto que torna o fenómeno inviável em Portugal.
Portugal não está feito para fenómenos de massa. A cultura portuguesa, o personalismo católico, é radicalmente avesso a fenómenos de massa, porque a massa anula a personalidade, tornando todos iguais uns aos outros.
Faça-se desembarcar um avião de alemães- basta um - em S. Martinho do Porto para gozarem a amenidades do seu clima de Inverno por duas semanas. Onde é que eles vão dormir? Não existem hoteis em S. Martinho do Porto. Apenas uma pequena pensão. E onde vão comer? No Inverno há apenas dois pequenos restaurantes abertos. Existem sempre quartos para alugar, mas dependem de conhecimentos pessoais, que não entram nos circuitos altamente massificados e profissionalizados do turismo.
Mesmo no pino do Verão, façam-se desembarcar uns milhares de turistas em Porto Santo, esse pequeno paraíso de cinco mil habitantes (sobe para 20 mil nos meses de Verão). O mesmo
problema. Não há alojamento para muitos milhares, menos ainda para milhões. E, à noite, fica-se horas à espera no restaurante para que a refeição seja servida. E, no caso de pessoas idosas, que podem precisar de cuidados de saúde urgentes, como fazer? São evacuadas de avioneta para o Funchal e, provavelmente, daí para Lisboa.
E as coisas são todas assim em Portugal, pequenas e limitadas, para que, em cada caso, possam ser apreciadas só por alguns, porque os portugueses não gostam de massas. O país, através de todas estas características, rejeita espontâneamente as massas. É como se a sua cultura dissesse aos estrangeiros: "Se é para virem multidões, não queremos".
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