03 maio 2011

religiosidade

Ontem, a propósito da morte de bin Laden, a CNN passou, entre muitas outras coisas, entrevistas com pessoas que tinham vivido directamente o 11 de Setembro. Eram bombeiros, polícias, pessoas que presenciaram os acontecimentos, familiares de vítimas. Aquilo que transparecia dos depoimentos daquela gente do povo era a sua imensa religiosidade. Falavam dos acontecimentos de há dez anos, relembravam as vítimas, familiares e amigos, comentavam agora a morte de bin Laden. Todos exprimiam de forma imensamente séria os seus sentimentos, as suas emoções, as suas razões. Havia neles agora um sentimento de tranquilidade, mas não de exuberância e menos ainda de felicidade. Era a tranquilidade própria de quem sentia que tinha sido feita justiça.

Tocqueville já tinha observado esta característica do povo americano há dois séculos atrás - a sua imensa e genuína religiosidade. E, no entanto a América nasceu sob o signo do anti-catolicismo. Ocorreu-me então a observação que tem sido feita por vários estudiosos - frequentemente americanos - acerca dos povos de cultura católica. Por detrás da sua religiosidade aparente - a profusão de Igrejas, festas religiosas, santos, procissões, etc. - não existe neles religiosidade nenhuma.

Se não existissem médicos, eu saberia muito mais de medicina. E se não fossem os padeiros, os cozinheiros e os carpinteiros, eu saberia muito mais de cada uma destas artes. Não apenas em teoria, mas na prática, porque frequentemente seria chamado a praticá-las por meras razões de sobrevivência. Não há dúvida que a existência de profissionais da religião - os padres - nas sociedades católicas tem o mesmo efeito nefasto. Dispensa o povo de ser religioso. E é por isso que o povo não pode passar sem os padres. A inexistência dos padres obrigaria o povo a ser religioso, a estudar a Palavra de Cristo e a praticá-la.

Existem pessoas religiosas num país de cultura católica para além dos padres, claro que existem, mas são poucas. A religiosidade é uma a carcaterística da elite e é esta característica, juntamente com outras, que distingue a elite do povo. Quando a elite é afastada da liderança da sociedade nos países de cultura católica, fica o povo com a sua irreligiosidade. Estes países convertem-se então em verdadeiras selvas, onde nenhum princípio cristão é observado. Como os portugueses estão agora a ver outra vez. O princípio dominante da vida em sociedade passa a ser o oposto do primeiro valor cristão - o amor ao próximo, ou caridade - e consiste em tratar mal o seu semelhante, e a regra de ouro converte-se no seu contrário: "Faz aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti"

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